Modelo transexual foi destaque em desfile de Reinaldo Fraga na SPFW

JR Franch Modelo transexual foi destaque em desfile de Reinaldo Fraga na SPFW

A aglomeração em frente ao backstage de Ronaldo Fraga tinha nome, sobrenome e um sotaque carregado que vem de Manaus, no Amazonas. Estamos falando de Camila Ribeiro, 24 anos, aposta da Joy Model Management que conquista pelos traços marcantes e a personalidade respondona. Camila desfilou pela Ronaldo Fraga nessa segunda-feira, 25, dia de abertura da SPFW. Ela era, até então, uma das únicas modelos transexuais confirmadas no maior evento de moda do Brasil.

Por que mulheres e homens trans ainda estão longe das passarelas? Para Camila, trata-se do reflexo de uma sociedade que vive um momento politico cada vez mais conservador, situação que não é combatida pela indústria – pelo menos não aqui, em terras brasileiras. De acordo com a modelo, a realidade é completamente diferente em outros países, como a França, onde esteve na ultima temporada, participando de desfiles e campanhas.

O “carão” de Camila Ribeiro para a revista Marie Claire

“Por que esse conservadorismo seria diferente no mundo da moda, que é taxado como um meio tão superficial? Ainda é comum ver a beleza eurocêntrica dominando as passarelas. Quem desfila são meninas loiras, com olhos claros e quase nenhuma expressão. As próprias consumidoras brasileiras não se enxergam nas mulheres das passarelas. Elas são sempre brancas demais, e justo no Brasil, né? É até irônico ver isso acontecendo num país tão miscigenado como o nosso”, critica Camila.

“O padrão de beleza eurocêntrico ainda domina as passarelas brasileiras”

Apesar de crítica e combativa, a história da manauara com as passarelas começou sem grandes pretensões, já que Camila não se sentia representada por esse universo de desfiles, marcas e estilistas, mesmo tendo cursado a faculdade de moda. Ela acabou chamando a atenção depois de participar do projeto de TCC de um amigo, quando pegou gosto pela coisa e decidiu procurar uma agência em São Paulo

Eu fiquei um pouco com o pé atras, sim, quando fui para uma agência pela primeira vez. Nunca achei que tivesse uma beleza clássica, e por isso não seria chamada para desfilar, uma grande bobeira. Quando você começa a trabalhar com clientes que têm uma visão diferente do mundo da moda dá até para superar algumas inseguranças que existem dentro da gente, coisas que achávamos que eram defeitos”, acredita a modelo.

A superação rolou numa boa: de lá para cá, Camila “completou” o currículo com desfiles na Casa de Criadores e Fashion Rio, além de uma temporada em Paris, onde foi eleita para trabalhos na maison Givenchy.

Apesar do cenário não ser tão otimista e diversificado como deveria, a garota de Manaus acredita em uma indústria cada vez mais politizada e responsável, principalmente entre as mulheres que são minoria nesse universo.

“Fico surpresa de ver essas meninas cada vez mais conscientes do próprio trabalho e relevância. Mesmo na moda, rola muita sororidade entre a gente. Nós conversamos, nos ajudamos, mesmo. Acho que está na hora de acabar com os sufixos que nos transformam em modelos superficiais. Não é só falar da modelo que é trans, da modelo que é negra. Antes disso, somos modelos, um trabalho como qualquer outro. Não deveria ser uma surpresa estarmos aqui”, finaliza.


int(1)

Conversamos com Camila Ribeiro, transexual na SPFW: "não sou uma modelo especial"