Martine Tanghe, do canal VRT de Flandres, região do norte da Bélgica onde se fala holandês

Reprodução Martine Tanghe, do canal VRT de Flandres, região do norte da Bélgica onde se fala holandês

 

Basta uma pesquisa rápida pelas principais emissoras de TV do planeta para constatar a predominância de âncoras masculinos acima de 60 anos. Já mulheres na mesma faixa etária nessa posição de destaque no telejornalismo são raras.

No Brasil, por exemplo, todas as apresentadoras no comando dos principais telejornais das maiores redes de TV aberta têm menos de 50 anos. Entre os homens, a maioria já passou da sexta década de vida, como são os casos de Chico Pinheiro (62), do Bom Dia Brasil, Celso Freitas (62), do Jornal da Record, William Waack (63), do Jornal da Globo, e Ricardo Boechat (63), do Jornal da Band.

No cenário internacional, uma exceção é Martine Tanghe, do canal VRT de Flandres, região do norte da Bélgica onde se fala holandês.

Ocupando a bancada de telejornais desde o início dos anos 1980, ela envelheceu diante das câmeras e dos telespectadores. Está com 60 anos. Rugas, marcas de expressão, vincos no pescoço e cabelos grisalhos não a impedem de ser uma das jornalistas mais respeitadas e premiadas da Europa. Não exclusivamente pelo desempenho como âncora, mas também pelo trabalho humanitário com refugiados e campanhas de prevenção do câncer de mama – ela própria uma sobrevivente da doença.

A maturidade de Martine Tanghe é vista pelo público que assiste ao Het Journaal como um certificado de credibilidade, e não uma desvantagem por ela não ter a aparência jovial de outras âncoras da emissora. A postura da jornalista belga, que optou por não recorrer à cirurgia plástica, desafia a ditadura da estética no telejornalismo. As âncoras geralmente são cobradas a se apresentar ao telespectador sempre magras e joviais. Como se o visual delas fosse mais importante do que o noticiário em si.

Quando envelhecem além do ‘aceitável’ para os anormais (e sexistas) padrões de beleza, são alocadas em programas de menor status ou em funções longe do vídeo – e do olhar julgador do público. Há dois anos, em entrevista à Trip TV, da revista Trip, a atriz Betty Faria, 74 anos, comentou a pressão sofrida pelas atrizes que envelhecem. A declaração serve para as jornalistas que estão no vídeo.

“O homem fica velho, barrigudo, papudo, e as mulheres dizem ‘ele ainda é muito charmoso, gostosão’. Mas em cima da mulher (que envelhece) é ‘putz, uma baranga, caiu mesmo’, entendeu?”.

Betty sentiu na pele o preconceito contra quem trabalha em TV e ousa não permanecer jovem para sempre.

Em 2013, ela foi alvo de críticas e ironias na internet por ter usado biquíni para ir à praia, deixando evidentes as marcas da passagem do tempo em seu corpo.
“Queriam que eu usasse burca”, brincou a artista, imortalizada pela imagem sensual da personagem Tieta, da novela homônima exibida na Globo entre 1989 e 1990, quando Betty estava com 48 anos.

No momento, a apresentadora mais velha em telejornal de exibição nacional na TV aberta é Ana Luiza Guimarães, 49 anos, titular do local RJTV e, eventualmente, no comando do Bom Dia Brasil, na Globo. Nos canais pagos, Leilane Neubarth, 57 anos, à frente do Edição das 18h, da GloboNews.

Entre os homens, o decano em bancada é Boris Casoy, do Jornal da Noite, da Band, com 75 anos.

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