Projeto Contrafluxo produz documentários, textos e fotos sobre pessoas que trocaram a vida acelerada na cidade pelo slow living

Projeto Contrafluxo Projeto Contrafluxo produz documentários, textos e fotos sobre pessoas que trocaram a vida acelerada na cidade pelo slow living

Christiana Bernardes, Daniel Todeschi e Ana são uma família de film makers que há cinco anos documenta temas como slow living, turismo consciente, economia criativa e compartilhada, inovações para sustentabilidade, novas formas de educação, arte e cultura. Sob o guarda-chuva do Projeto Contrafluxo, eles produzem vídeos, fotos e textos.

Em sua primeira temporada, o Projeto Contrafluxo produziu conteúdo durante expedições na Chapada Diamantina, Uruguai, litoral da Bahia, Piracaia e interior de Minas Gerais. Ao todo foram mais de 300 fotos, mais de 30 textos e seis filmes documentários de seus minutos revelando seis histórias transformadoras de pessoas que mudaram a maneira de conduzir a vida. O conteúdo pode ser acessado na página deles em www.projetocontrafluxo.com.br.

Mais que boas histórias, Chris e Daniel também vem provando na prática como viajar pode ser uma aliado para formação de crianças. A cada viagem, Ana, de 9 anos, tinha mais insights, desenvolvia a convivência com o diferente, se tornava uma pessoa com maior bagagem de informações e emoções.

“Sempre conciliamos as viagens do Projeto Contrafluxo com essa educação formal. Sinto que a cada viagem, ela volta muito mais sensível e inteligente. Viajar ensina o respeito a diversidade de culturas e de povos. Mostrar para criança as diferentes formas de vida que existem no planeta é extremamente enriquecedor para a formação do carácter do indivíduo”, afirma Chris.

Ela lembra que a primeira viagem que fizeram com a Ana foi pra Berlim, quando ela tinha 4 anos. “Na época, todo mundo falou que levar criança pra Europa era uma grande roubada e que a gente ia passar raiva e perrengue. Diziam que criança não aguenta ficar tantas horas dentro do avião, que criança não consegue acompanhar os adultos nas caminhadas pelas cidades, que criança não gosta de museu e nem de arte e que a gente não iria conseguir fazer nenhum programa noturno. Contrariando todas as premissas, passamos 32 dias em Berlim e foi maravilhoso. Era incrível ver a Ana interagindo com as crianças alemãs nos parquinhos. A língua não era uma barreira”, diz a idealizadora do projeto e documentarista. O marido, também film maker, é montador.

“O fato de ver que existiam outros costumes, fez ela aprender a respeitar outros valores. Percebi que ela estava aprendendo muito sobre o mundo ali naquela viagem. Um dia, estávamos na galeria de arte do pós guerra no Neues Museum e ela me perguntou: porque os quadros estão tão bravos? Expliquei pra ela que ali tinha acontecido uma guerra, que uma guerra era um briga entre países, que uma guerra sempre traz muita tristeza para as pessoas e que por isso os quadros estavam bravos. Ela continuou observando os quadros com bastante medo. Minutos depois, na galeria de pop art desse mesmo museu, ela passou horas sentada no chão vendo um vídeo de Yellow Submarine dos Beatles. Nesse dia, tivemos a certeza que sempre iria levar a Ana nas viagens do Projeto Contrafluxo”, relata.

Projeto Contrafluxo produz documentários, textos e fotos sobre pessoas que trocaram a vida acelerada na cidade pelo slow living

Projeto Contrafluxo Projeto produz documentários, textos e fotos sobre pessoas que trocaram vida acelerada pelo slow living

“Na verdade, o diferencial de nossa abordagem seria ter a Ana presente nas filmagens. A presença dela nessa busca por uma vida mais simples e sustentável faz com que nosso conteúdo tenha um maior grau de espontaneidade e verdade. Afinal de contas, mais do que uma entrevista formal, o nosso set de filmagem é um encontro da nossa família com diversas famílias que também querem viver de forma mais consciente, num ritmo mais calmo. Então, eu acredito que as viagens do Projeto Contrafluxo são uma complementação extremamente rica e prática da educação formal que ela tem na escola”, completa.

Sobre a mensagem que desejam transmitir com o projeto, ela diz que é sobre “cada um poder ser o que quiser e viver como quiser”. “Passamos a vida seguindo regras impostas pela sociedade e, muitas vezes, vivemos atrás de coisas que não são nossos reais desejos e sim desejos formatados. O objetivo do Projeto Contrafluxo é quebrar paradigmas e viver uma experiência real de troca”, argumenta.

Chris recusa também a ideia de que é preciso ser rico para viajar. “Viajar não é necessariamente um luxo, pelo menos pra gente nunca foi. Viajar requer, antes de tudo, vontade, pesquisa, planejamento e atitude. É claro que tem gente que viaja gastando rios de dinheiro. Em contraposição, também tem gente que viaja com quase nada no bolso. Ou seja, existe o mercado de viagens de luxo e existe o mercado de viagens de mochileiros. O nosso jeito de viajar não é nenhum desses dois. Viajamos buscando uma vivência real do lugar visitado. No nosso caso, não viajamos como turistas. Planejamos bastante para não voltarmos pra casa cheios de dívidas”, afirma.

Projeto Contrafluxo produz documentários, textos e fotos sobre pessoas que trocaram a vida acelerada na cidade pelo slow living

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Ela também dá uma dica de “insider” para quem quer viajar gastando pouco e de forma consciente. “Quando viajamos buscamos experiências mais próximas da realidade das pessoas que moram nos lugares que visitamos. Uma das coisas que me faz escolher o próximo destino é descobrir se tem algum amigo morando naquele lugar que quero conhecer. Assim podemos vivenciar a cidade com o olhar do morador e não apenas com o olhar do turista. E daí alugamos um apartamento ou uma casa e passamos muitos dias no mesmo lugar. Vamos ao supermercado, cozinhamos em casa, vamos aos restaurantes frequentados pelos locais, levamos a Ana para brincar no parquinho com as crianças que acabaram de sair da escola e procuramos conhecer lugares frequentados pelos moradores da cidade, que quase sempre são gratuitos”, exemplifica.

“Aprendemos muito com os personagens que retratamos e queremos dividir essas histórias transformadoras com o mundo. Não estamos aqui pra dizer como as pessoas devem viver. Estamos registrando as diversas formas que existem para levar a vida. Na série, mostramos que não tem regra, não tem fórmula e nem mágica. Tem pessoas reais que em algum momento da vida questionaram o padrão imposto. E que tiveram força e coragem para superar o medo e buscar seu próprio jeito de viver e ser feliz. Até porque felicidade não é algo a ser conquistado, é algo para ser viver todos os dias. Tem a ver com se preocupar mais com o presente do que com o passado e com o futuro”, diz.

Projeto Contrafluxo produz documentários, textos e fotos sobre pessoas que trocaram a vida acelerada na cidade pelo slow living

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Perguntamos à documentarista sobre o motivo pelo qual as pessoas querem viver no contrafluxo. “Acho que os valores das pessoas estão mudando. Durante muito tempo os valores estavam ligados ao ter. As pessoas estão entendendo que menos é mais. Esse tsumani do capitalismo selvagem deixou muitas marcas negativas e muita desigualdade social. As pessoas estão percebendo que o mundo não vai sobreviver desse jeito. É preciso repensar as formas de viver e consumir. A prova disso é o grande crescimento da economia compartilhada e a tendência da vida coletiva, seja nas eco vilas ou até mesmo em modelos alternativos bem interessantes que surgem também nos centros urbanos. Precisamos cada vez mais ter atitudes adequadas para promover uma humanidade mais consciente, sustentável, colaborativa e feliz”, resume.

“Sentimos que o Projeto Contrafluxo ainda tem muito a revelar por aí. No começo, o Contrafluxo era só nossa família nessa busca, mas agora temos outras pessoas e estamos transformando o projeto numa grande família. Temos colaboradoras incríveis, que escrevem semanalmente para o nosso blog. Somos super abertos a parcerias com pessoas e empresas que tenham a mesma filosofia que nossa. Sabemos que existem muitas pessoas espalhadas pelo mundo na mesma sintonia desse comportamento vanguardista de viver de uma forma mais simples e mais calma. Estamos registrando essas histórias maravilhosas. Queremos rodar ainda mais o Brasil e também outros países. Estamos nos preparando para sair em expedição para a segunda temporada ainda esse ano. E estamos muitos felizes porque descobrimos que o próprio Projeto Contrafluxo é a nossa maneira de viver no contrafluxo”, conclui. Onde assina para ser adotado por esta família?


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'Mostrar para criança diferentes formas de vida enriquece formação', diz família documentarista