“Só foto de praia e viagem, é? Essa campanha é pra mostrar que Austrália é muito mais que isso, minha gente! Vamos lá, manda a sua também”. Foi com esta legenda que uma brasileira começou um movimento no grupo do Facebook, Brasileiros em Sydney. Depois de pouco mais de oito horas, além da imagem dela, mais de 350 pessoas já tinham comentado o post e muitas compartilhado cliques enquanto pegam no batente.

intercambio australia montagem

Brasileiros na Austrália compartilham fotos trabalhando durante o intercâmbio

E é justamente a possibilidade de trabalhar para pagar as contas em outros países que tem feito muitos brasileiros arrumarem as malas. Se, nas décadas passadas, destinos como Estados Unidos e Espanha eram os mais populares porque permitiam que as pessoas juntassem um belo “pé de meia”, nos últimos anos, países que oferecem outros tipos de regalias são mais atrativos. E isso acontece porque o perfil do imigrante brasileiro também está mudando. Agora, jovens estudantes e profissionais recém-formados estão de olho em lugares para, principalmente, aprender outras línguas, e, de quebra, aperfeiçoar e até mesmo construir uma carreira.

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Entre os países que permitem trabalhar legalmente durante o intercâmbio de estudos, estão Nova Zelândia, Austrália e Irlanda. No Canadá, alunos de cursos profissionalizantes e educação superior também têm autorização.

“Entre 2014 e 2015, houve um aumento de 25% na venda destes programas na empresa”, explica Samira Bossoni, gerente de produto da Experimento Intercâmbio Cultural.

Para quem está pensando em colocar o pé na estrada, aqui vão algumas histórias e dicas para chegar um pouco mais preparado na gringa:

1) Leve paciência na mala
O jornalista Luis Juliano já tinha feito intercâmbio na Austrália, mas voltou para Sydney em 2014 para uma especialização em Marketing. Enquanto estudava, ele trabalhou como garçom, office boy, staff em festival de música e freelancer. Mas, até passar por tudo isso, foram quatro meses para conseguir o primeiro emprego. Aliás, esta é a média de tempo que se leva para encontrar trabalho nestes países, por isso além de dinheiro para se bancar neste período é preciso ter muita paciência na procura.

“Durante os meses desempregados, eu me sentia um inútil por, com diploma de curso superior, intercâmbios anteriores, TOEFL, ser rejeitado e não ser aceito como garçom em restaurantes de bairro e lojas pequenas. A grande questão é não desistir e criar uma boa rede de amizades”, lembra.

2) Mas como é este trabalho?
E ele não está sozinho nesta. Segundo Eduardo Frigo, gerente de produtos da CI – Intercâmbio e Viagem, a grande queixa dos estudantes brasileiros é que o tipo de trabalho que encontram é abaixo das habilidades que exerciam por aqui.

“Muitos não entendem que o que o atraiu para países no exterior, que oferecem trabalhos, foi justamente fazer serviços de mão de obra básica e conseguir se sustentar com isso”. Mas, Eduardo explica que o susto do começo logo passa: “a diferença é que o empregado lá fora é bem aceito, seja ele presidente de empresa ou faxineiro. Quando os brasileiros entendem isso e verificam que muitos garçons ganham mais do que analistas em empresas, a autoestima deles deixa de ser prejudicada”. Até porque todo trabalho é trabalho e é digno!

3) Olha essa língua!
A maior parte dos trabalhos são informais e temporários, então muitas vezes não tem um contrato detalhado e os acordos e indicações acontecem “de boca”, por telefone, whatsapp ou email. Apesar das redes sociais serem uma mão na roda, vale fazer um esforço, gastar tempo e sapato e, quando possível, conhecer o empregador e o local antes de aceitar a oferta. “Indicamos que é bom sempre ir pessoalmente conhecer o lugar e as pessoas e entender a proposta do emprego e suas funções”, explica Samira. Parece óbvio demais, mas com a barreira da língua e as prováveis dificuldades de comunicação vale redobrar a atenção com qualquer negociação.

4) Tem emprego sobrando. Mito ou verdade?
A publicitária paulistana Paula Silva está em Dublin há quase um ano, já trabalhou como garçonete, ajudante de cozinha, recepcionista, babá, faxineira e mudou de opinião sobre a pergunta acima depois de desembarcar na Irlanda. “Esperava ter dificuldades com a língua, e não para encontrar emprego como acontece por aqui. Então, venha sabendo que nada será tão fácil quanto você ‘sonhava’”.

Bem longe da Europa, na Austrália a disputa por boas vagas também é forte. “A concorrência é muito grande porque você não está só competindo com brasileiros, mas com diversos orientais e europeus. E tudo é uma questão de sorte e indicação. Geralmente as vagas são preenchidas porque um amigo indicou o outro”, conta Luiz Juliano.

Além das indicações, um jeito “antigo” e que funciona é bater perna distribuindo currículos. Mas tenha cuidado onde eles vão parar. “Entregue sempre currículos para o gerente e não para os funcionários porque eles são a concorrência”, lembra Samira Bossoni, gerente de produtos da Experimento Intercâmbio Cultural.

Fábio passou mais de um ano na Nova Zelândia

Reprodução / Facebook Fábio passou mais de um ano na Nova Zelândia

5) Faça amigos gringos
Está aí outro segredo: faça amigos porque o bom networking é mais do que precioso durante o intercâmbio. Além de indicar vagas, são estes amigos seus companheiros de casa e durante longas horas todos os dias. Claro que não precisa fugir dos brasileiros, mas é importante dar chances a outras nacionalidades e, principalmente, deixar para trás todos os preconceitos.

O fotógrafo Fábio Padilha voltou para o Brasil há pouco tempo depois de mais de um ano vivendo na Nova Zelândia e, entre vários trabalhos em obras, encontrou ótimos “parças” vindos das pequenas ilhas próximas ao país, como Fiji e Samoa.  Por três meses, ele pegou pesado em uma empresa que chama 0800 Muscle, que incluia desde varrer o chão até carregar muito (!) peso durante o expediente todo. “Sem dúvida foi o emprego mais duro e sofrido que eu já enfrentei na vida”, escreve em post no seu blog. Mas, mesmo com a dificuldade das tarefas, o ambiente fazia ele se sentir em casa e enriqueceu demais a experiência. “Os islanders são humildes, trabalhadores e acima de tudo felizes. Estão sempre sorrindo, alegres e era isso o que eu buscava, o que eu precisava. Foram os três meses mais duros e alegres da minha vida”, completou.

6) Quem poderá nos ajudar?
Se os islanders deixaram uma boa lembrança, o primeiro emprego do Fábio na Oceania não passa nem perto disso. “Eu sofri problemas de abuso com meu chefe iraniano. Ele era uma pessoa bastante ignorante, nervosa e sem paciência”. Além dos gritos e humilhações constantes, ele também se recusou a pagar alguns impostos que dariam direito ao brasileiro de recolher o dinheiro de volta no fim do ano. Neste caso, como estava trabalhando dentro da lei, teve o apoio do governo para resolver o problema.

Já a publicitária Paula Silva, que estuda e trabalha na Irlanda, aguentou cinco meses com salário baixo e excesso de carga horária como babá em uma casa com três crianças. “Meu primeiro emprego foi como au pair e eu trabalhava 10 horas por dia e recebia 5 euros por hora. O salário mínimo na época era de 8,65 euros por hora e o horário regular era de 8h/dia e o restante deveria ser pago extra. Porém, nunca recebi pelas horas a mais. Eles consideravam parte do trabalho como se fosse um pacote”. E completa: “não fui contratada por agência, então não tinha suporte de ninguém”.

7) Você está demitido! 
O consultor de intercâmbio Diego Fortunato, que mora em Auckland, na Nova Zelândia, também já sofreu maus bocados nas mãos de uma chefe carrasca quando era “faz tudo” em um café. O paulistano conta que ela passava o dia dando bronca, geralmente sem motivo, e reclamando da velocidade do trabalho mesmo que todos tivessem um ritmo bem acelerado. Com toda essa “gentileza”, muita gente acabava chorando e nem assim a “boss” diminuia a grosseria.

“Eu nunca cheguei a esse ponto, sabia que deveria sair de lá assim que achasse algo melhor. Acabou que terminei demitido antes. Em uma semana trabalhei muito gripado e parei várias vezes durante a limpeza e outros esforços (no começo do dia sempre puxava as mesas de dentro do café para a calçada, um trabalho bem pesado). Expliquei que estava sem fôlego, mas ela me acusou de fazer “corpo-mole” e disse que não precisava mais ir”.

Claro que estas histórias não são uma regra, mas são comuns, por isso cuidado com os empregos abusivos. “Sempre haverá outra oportunidade melhor e, depois de conseguir o primeiro emprego, fica mais fácil arrumar outros”, aconselha Diego.

Brasileiros registram trabalhos em intercâmbio na Austrália


Créditos: Reprodução / Facebook

 

 

 


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