Em cartaz em São Paulo com a peça À Beira do Abismo me Cresceram Asas, Maitê Proença lançou no último dia 12, na capital paulista, o seu terceiro livro, É Duro Ser Cabra na Etiópia (Editora Agir). A atriz é ainda convidada deste domingo do programa Marília Gabriela Entrevista, do canal pago GNT. No bate-papo com a jornalista, Maitê, que é autora de outros nove livros, falou sobre o processo de escrever e as mudanças da idade. 

“Para você escrever sobre coisas que sejam intimas, você não pode se comover. Você tem que escrever como se não fosse você”, explica. “Você passa a vida inteira querendo agradar as pessoas de uma maneira ou de outra, fazendo inúmeras concessões.”

Neste livro, a atriz assumiu também a função de editora: participou da criação do projeto gráfico e selecionou, pessoalmente, 180 crônicas entre mais de 2000 recebidas. Há textos dela, de autores consagrados, novatos e anônimos – entre eles José Eduardo Agualusa, Tatiana Salem Levy, Clarisse Niskier e Jorge Forbes. “Impus duas regras: que os textos não ultrapassassem 1500 caracteres e que contivessem humor”, contou em entrevista ao Virgula.

Aos 55 anos, Maitê, que quebrou recordes ao posar nua na revista Playboy em 1987 – vendendo mais de 630 mil exemplares – e novamente em 1996, desta vez com 720 mil exemplares, diz não ter medo de envelhecer. Na peça, interpreta uma mulher de 85 anos.”Há uma histeria no mundo em relaçao ao prolongamento da juventude”, critica.

Sobre o uso (e constante abuso) do programa Photoshop por publicações na hora de retocar celebridades, ela pondera. “Virou uma prática generalizada. Se não usar, em comparação com tudo que se publica, o fotografado fica parecendo um Matusalém. Mas eu sempre peço pra manterem minhas marcas, ainda que suavizadas”, revela.

Leia entrevista de Maitê Proença ao Virgula Diversão:

Virgula: São muitos autores, muitas crônicas diferentes neste livro. O que dá unidade a tudo isso?

Maitê Proença: Impus duas regras aos participantes: que os textos não ultrapassassem 1500 caracteres e que contivessem humor. Na costura que fiz dos textos selecionados (ficaram 180 dos 2000 que li) quis também seguir minhas próprias regras, então, as crônicas, poemas, aforismos, todos os textos foram ordenados também com um critério de humor. E foram agrupados por ideias comuns, mas nem sempre, às vezes a junção foi mais subjetiva. Por exemplo, um texto acabava com a palavra morfina e o outro começava com adrenalina… Não é indispensável, mas a leitura fica mais divertida se for feita na ordem das páginas.

Virgula: Como foi assumir o papel de editora? Já tinha feito algo parecido antes?

Maitê Proença: Uma trabalheira danada. Nem imaginava que a empreitada me tomaria 3 anos! Ao abrir para todo e qualquer internauta, abri as portas do inferno, recebi coisas que só Deus… Tive que criar um site onde pudesse atribuir categorias, adjetivos, e notas, tudo pra me orientar em meio ao grande volume de textos e também imagens. Mas no final, inventei uma fórmula, e resultou surpreendentemente divertido o livro. Além de lindo! A opinião não é só minha, mas de Carlos Heitor Cony, Marília Gabriela, Faustão, pra citar apenas alguns mais conhecidos.

Virgula: O limite de 1500 caracteres lembra muito as redes sociais, que tem espaço limitado para escrever. Foi difícil esse exercício de concisão?

Maitê Proença: Muita gente boa não conseguiu seguir, eu escrevia de volta para os autores e pedia que sintetizassem e reenviassem. As regras eram para todos, inclusive para mim, que coloquei alguns textos próprios no conjunto alem de diversas observações: tudo que está escrito à mão, são considerações minhas em cima dos textos de outros.

Virgula: Você parece não ter medo de arriscar. Fez, por exemplo, um esquete do Porta dos Fundos que poucas globais teriam coragem. Alguma coisa é tabu pra você?

Maitê Proença: Provavelmente. Me ajude a encontrar o que seja, pra poder derrubar.

Virgula: Você está interpretando uma personagem de 86 anos no teatro. Tem medo de envelhecer? Como lida com este processo?

Maitê Proença: Há uma histeria no mundo em relaçao ao prolongamento da juventude. É uma luta perdida. Há velhos que a gente conhece e a última coisa que pensa quando esá perto deles é na decadência. Fernanda Montenegro, Bibi, Chico Buarque, Papa Francisco. São curiosos, vibrantes, inesperados, instigantes, interessados e interessantes. O entusiasmo é que faz vibrar, não a pele lisa. Esta tem viço e encanta, mas a gente se acostuma logo, alem dela durar muito pouco tempo. Eu driblo a coisa gostando da vida, e criando meus trabalhos, onde posso falar daquilo pelo qual mais me interesso no momento. À beira é a terceira peça de minha autoria. Desta vez estou dirigindo ao lado da Clarice Niskier e atuando ao lado de outra Clarisse, a Derziê. Estamos com a casa lotada e isso é uma raridade em teatro. O público vai e retorna porque se diverte, se emociona, e leva assunto pra casa pra pensar depois. Todas as peças que escrevi tiveram sucesso de crítica e público. A anterior recebeu vários prêmios e esta vai pelo mesmo caminho.

Virgula: Há uma pressão forte dentro da indústria em cima das mulheres em relação a padrões de beleza. Você aprova o uso de Photoshop?

Maitê Proença: Virou uma prática generalizada. Se não usar, em comparação com tudo que se publica, o fotografado fica parecendo um Matusalém. Mas eu sempre peço pra manterem minhas marcas, ainda que suavizadas. Existe uma dignidade na maturidade que raramente se vê em gente jovem, porque ela se compõe também das marcas que o tempo vai deixando pelo corpo.

É Duro Ser Cabra na Etiópia
Editora Agir – 274 págs
R$ 39

À Beira do Abismo me Cresceram Asas @ Teatro Faap

Horários: Sextas e sábados às 21h e domingos às 18h
Endereço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis – São Paulo/SP
Classificação: 12 anos
Meia Entrada: Estudantes, professores da rede pública estadual e municipal de São Paulo, idosos e aposentados

Ingressos

Venda online (sujeito à taxa de conveniência)
http://www.ingressorapido.com.br 

Bilheteria do Teatro FAAP (sem taxa de conveniência)
Endereço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis
Horários: De quarta à sábado das 14h às 20h e domingos das 14h às 17h


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Maitê Proença diz a Marília Gabriela que parou de tentar agradar; leia entrevista