(Por Sarah Corrêa) – Se fazer topless nas praias e parques públicos do Brasil já causa espanto nos observadores, imagina frequentar esses ambientes sem nenhuma roupa? Esse é um dos grandes problemas que os adeptos ao naturismo enfrentam: a falta de lugares que permitam sua nudez. Apenas pequenas porções de faixas litorâneas são dedicadas aos peladões.

A praia de Tambaba, em João Pessoa, é pioneira na área, sendo uma das primeiras no país dedicada aos naturistas. Ela é a sede atual do 31º Congresso Internacional do Naturismo, que começou no dia 9 e vai até o dia 12 de setembro.

Serão mais de 1500 pessoas por dia, de 33 diferentes nações – desde EUA e Rússia até Croácia e África do Sul -, participando de reuniões para discussão de temas ligados ao meio-ambiente e a socialização desta filosofia com as demais pessoas. Para saber mais, o Virgula conversou por telefone com Paulo Campos, presidente da Sonata (Associação dos Naturistas de Tambaba) e suplente do Conselho Maior dos naturistas do Brasil.

Com seu sotaque calmo e arrastado, Campos esclareceu alguns pontos que causam muita confusão entre os não-adeptos à causa naturista tipo: "E se rolar de ficar excitado, o que fazer?". A resposta de Paulo desanima aqueles com segundas intenções: "Procuramos manter um comportamento normal. Não é porque estamos em um ambiente onde todos estão pelados que temos maldade. Se acontecer de ficar excitado, procuramos ser discretos e respeitar o próximo".

Virgula – Por que Tambaba foi escolhida sede do 31º Congresso Internacional de Naturismo?

Campos – Em 2006, no último congresso, em Cartagena, na Espanha, o Brasil se candidatou com Tambaba porque foi a primeira praia no país a "legalizar" a permanência de pessoas nuas. E, também, porque oferece um dos climas mais agradáveis do Nordeste, com praias de águas mornas, entre mata atlântica e falésias.

V – Quem pode fazer parte do Congresso e frequentar as praias?

C – Qualquer um pode fazer parte do nosso grupo, desde que siga nosso código de ética e esteja nu. O código estabelece algumas regras, como o respeito à imagem do outro. Afinal, não somos curiosos simplesmente, temos um estilo de vida. Imagina se todo curioso viesse às praias que frequentamos somente para observar. Viraríamos alvo do que?

V – São muitos países que participam deste encontro?

C – Sim. Hoje recebemos mais de 32 nações. Por dia, nas palestras, temos visitas de mais de 1500 pessoas, entre russos, norte-americanos, croatas, sul-africanos, e os próprios brasileiros, que vêm do Oiapoque ao Chuí.

V – O que vocês discutem durante o congresso?

C – As palestras são voltadas para assuntos ligados ao meio-ambiente, à filosofia de vida naturista e à socialização desta com as demais pessoas.

V – E sobre a Lei Naturista que tramita no Senado, qual o propósito dela?

C – Esta lei, que deve ser relatada pelo deputado federal Gabeira [PV-RJ], tem o objetivo de legalizar lugares específicos para o naturismo. Com isso, poderemos ter nosso espaço garantido. Por que, hoje, por mais que existam cidades que destinem praias para essa prática, elas podem deixar de ser legais se mudar o prefeito e este não estiver de acordo com nossa causa. Então, se existir uma lei no âmbito federal, ninguém poderá tirar esse direito.

V – Há ainda muito preconceito contra os naturistas?

C – Sim, ainda existe. Mas, com o tempo, quando as pessoas começam a perceber que não temos maldade, que seguimos apenas uma filosofia de vida diferente, esse preconceito diminui. Também estamos mostrando que o turismo naturista é um dos que mais cresce no mundo. Somente em Tambaba, criamos mais de 3 mil leitos em pousadas e hotéis, o que aqueceu a economia e gerou empregos, nos últimos anos.

V – Mesmo com toda ética que vocês procuram seguir, nunca houve situações constrangedoras? Rola algum clima de paquera entre os naturistas?

C – Procuramos manter um comportamento normal, sempre. A aproximação entre as pessoas acontece naturalmente. Se tem alguém que causa uma situação tensa, pedimos que ela deixe nosso ambiente. É sempre assim que agimos.


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Andar pelado ainda é difícil, diz líder naturalista