Cada vez mais homens se atrevem a escolher profissões que até bem pouco tempo eram dominadas por mulheres. E, apesar de o fato ainda causar certo espanto nos mais conservadores, muitos salões de beleza já contam com o serviço de homens que manejam como ninguém tesouras, pincéis de maquiagem e alicates de unha.

Longe de se sentirem como peixinhos fora dágua em um ambiente onde as mulheres predominam, os homens vêm provando que dominam o assunto beleza e andam conquistando seu espaço e reconhecimento no mercado de trabalho.

Podemos até arriscar dizer que há uma uma mudança cultural nesse sentido, boa parte por conta da globalização e das novas gerações, que são mais abertas do que as de antigamente. Por isso, a tendência é que a sociedade não faça mais distinção e desta forma não existam mais ramos exclusivos para mulheres ou para homens.

O Virgula Lifestyle conversou com três profissionais da área de estética, apaixonados pelo que fazem, e que não trocariam sua profissões por nada! 

A arte de maquiar 

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Com cara de mau e admirador de um bom “Rock and Roll”, Rodrigo Alves ainda causa estranheza ao revelar que trabalha com algo muito mais delicado do que a música que costuma escutar. Maquiador há mais de 20 anos, o profissional conta que além do preconceito, muitas pessoas acabam duvidando do potencial de um homem em um ramo considerado de domínio das mulheres e de homossexuais.    

 

“Sempre que eu falo que sou maquiador as pessoas me perguntam: ‘mas você não é heterossexual?’ Eu sempre digo que não entendo porque essa questão faz diferença. Eu escolhi a profissão porque tenho talento e gosto da área”, afirma.

Segundo ele, o preconceito também parte muitas vezes de clientes que não acreditam no potencial do seu trabalho. Rodrigo até lembra de uma situação engraçada, na qual uma cliente disse que só gostaria de ser maquiada se fosse por um profissional homossexual. Sozinho no salão, Alves conta que não pensou duas vezes e resolveu provar o quanto essa questão não interferia no resultado da sua maquiagem.

“Foi muito divertido, porque comecei a fazer trejeitos de um gay estereotipado e entrei no personagem. Depois que finalizei a maquiagem perguntei se ela havia gostado do resultado. Ela disse que estava perfeito, do jeito que queria. Então revelei que era heterossexual. Enganei direitinho”, brinca.

“Eu sempre gostei da ideia de poder criar uma arte na pele e trabalhar com cores e misturas. Maquiar é como se fosse desenhar um quadro. É isso que me fascina. Foi  apenas olhando que peguei o jeito e depois, na prática, percebi que sabia manejar os pincéis. Posso até me imaginar trabalhando em outras profissões , mas meu talento é com a maquiagem”. 

Manicuro

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Marcos de Oliveira trabalhou praticamente a vida inteira em gráfica, e, até ser demitido imaginou que o seu destino profissional já estava traçado. Um belo dia, uma de suas filhas, que fazia a própria unha no quarto, despertou no pai uma curiosidade que até então ele desconhecia e fazia parte de um mundo bem distante do dele.

“Perguntei para a minha filha se era difícil fazer unha. Ela me disse que não, só precisava ter uma certa paciência. Depois disso, vi algumas reportagens com histórias de homens que largaram suas profissões para se tornarem manicuros e isso me incentivou a ir atrás de um curso profissionalizante”, conta.

 

A força de vontade de Marcos era grande, mas ele conta que as escolas não queriam aceitar um homem em suas turmas. “No começo o problema foi encontrar uma escola que me aceitasse. Mas após algumas tentativas, consegui me inscrever, realizar o curso, adquirir o diploma e pouco tempo depois estava atuando na área. ”

Hoje em dia, com três anos de experiência, o manicuro afirma que seus amigos e vizinhos de bairro ainda tiram sarro da situação. “Não tem como, meus amigos fazem piadinhas, quando passo fazem gestos com as mãos. Isso é o que mais incomoda. Em contrapartida, no salão, não há constrangimento”, diz.

Mãos de tesoura

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Aos 17 anos, Kleber Lewes trabalhava em um escritório, mas ao receber um convite de um amigo, já cabeleireiro, para ajudá-lo no salão, sua vida profissional ganhou novos rumos. 

“Eu trabalhava em um escritório e decidi mudar de ramo por acreditar na profissão de cabeleireiro. Como eu nunca gostei de ambientes fechados e nem de exercer uma função mecânica, resolvi apostar em um mercado com o qual me identificava”, afirma.  

“Fiz um curso longo na área e paralelamente trabalhava como auxiliar no salão do meu amigo, o mesmo que me incentivou. É claro que meus outros amigos tiraram sarro de mim na época. A maioria já estava trabalhando em empresas multinacionais e viam a profissão de cabeleireiro como algo inusitado”, revela. 

     

A estranheza não era apenas por parte dos amigos, afinal, Kleber lembra que na época a aceitação ainda era difícil. “Um adolescente de 17 anos escolher ser cabeleireiro soava meio estranho. Para piorar, também tenho muito talento na cozinha, é mole?”, brinca.

“Hoje em dia, como trabalho com a minha esposa acho que a opinião das pessoas mudou muito. Mas não me imagino fazendo outra coisa. Você deve escolher o que te faz feliz.”, diz.


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Homens invadem os salões de beleza e se destacam em profissões consideradas femininas