Formado em 2007 no Rio de Janeiro, um grupo de jovens que atende pelo nome Diversidade Católica vive uma dualidade um tanto contraditória segundo os preceitos cristãos: são gays e católicos praticantes.

Entre seus integrantes está a psicóloga Cristiana Serra, 39 anos. Segundo ela, o grupo surgiu
para refletir sobre a conciliação da fé cristã com a diversidade
sexual.

Cristiana diz que para conseguir harmonizar religião e
homossexualidade é preciso, antes de mais nada, escolher como vivenciar sua
própria fé.

“Se você busca na religião um conjunto de prescrições que te
dirão o que é certo e o que é errado, como você deve viver a sua vida,
realmente fica impossível você se inserir em um corpo social que te condena e
te exclui. Mas se você entende a sua identidade religiosa como uma parte indissociável
de quem você é quanto à sua orientação sexual e se essa identidade religiosa é
a forma como você vive a sua espiritualidade, aí a religião se torna veículo de
amadurecimento e encontro consigo mesmo”, diz.

Cristina acredita que a igreja seja um espelho de uma
sociedade heteronormativa e predominantemente homofóbica. Segundo ela, à medida
que a homofobia na sociedade como um todo diminuir, a dificuldade de
compreensão dos LGBTs nas igrejas também diminuirá. “A doutrina
católica hoje diz que os homossexuais devem ser acolhidos com respeito nas
comunidades, sem nenhum tipo de discriminação. Por outro lado, entende que a
homossexualidade é um comportamento ‘desordenado’. Mas a religião
institucionalizada, qualquer que seja ela, é um corpo social inserido num
contexto sociocultural mais amplo”, diz.

Ela explica que os mesmo argumentos utilizados atualmente
contra os gays foram utilizados em outros momentos da história contra os
direitos das mulheres e dos negros.

“O tipo de discurso que ouvimos hoje contra os LGBTs é o mesmo
de quando as mulheres conquistaram o direito ao voto e a trabalhar fora; de
quando o divórcio foi legalizado; de quando os negros conquistaram a igualdade
dos direitos civis; os argumentos de ordem moral eram os mesmos – ameaça à
família, contra as ‘leis naturais’, uso de trechos da Bíblia para mostrar que
eram contra a ‘lei de Deus’. Isso, na verdade, é reflexo de uma resistência do
corpo social, num processo de negociação simbólica com as estruturas de poder,
que acontece na sociedade como um todo e dentro de cada igreja”, conta.

Cristiana diz ainda que, ao contrário de Bento 16, que era um
teólogo acadêmico, Francisco é um bispo de atuação e por isso consegue enxergar
além das abstrações e das teorias da igreja, inclusive não se colocando contra
a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

“Como papa, ele segue seus antecessores afirmando o valor
fundamental da família formada pela união entre um homem e uma mulher. Mas, por
ser um um bispo de atuação pastoral, consegue ver as pessoas com
quem ele se encontra, para além das teorias, das abstrações. Por exemplo, ele se manifestou a favor da
união civil entre pessoas do mesmo sexo, na qual se reconhecem direitos, mas
não há equiparação à união heterossexual. Declarou também que um ministro
religioso não tem o direito de forçar nada na vida privada de ninguém. Francisco
critica uma Igreja ensimesmada, entrincheirada em estruturas caducas incapazes
de acolhimento, e fechada aos novos caminhos que Deus apresenta”, diz.

Durante a Jornada Mundial da Juventude 2013 no Rio de Janeiro, o grupo Diversidade Católica fará um
encontro abrindo espaço para histórias de jovens homossexuais dentro da Igreja.

Dia 25 de julho, de 14h às 16h, no Auditório Vera
Janacópulos, na UNIRIO (Av Pasteur, 296, entre Botafogo e Urca, perto do
Shopping Rio Sul). A entrada é franca e o evento será aberto ao público,
sujeito apenas à lotação do auditório.


int(1)

"Mesmo argumento usado contra gays já foi usado contra negros e mulheres", diz membro de grupo de homossexuais católicos