O nome é Elevado Presidente Costa e Silva mas, quem frequenta, a pé ou de carro, sempre diz Minhocão. O viaduto que liga oeste a leste de São Paulo, batizado com nome do general que endureceu o regime militar com o AI5, que ironia, é o palco da grande subversão da cidade.

Aberto para as pessoas e fechado para os carros durante as noites da semana, o trânsito é interrompido no sábado a tarde, voltando a passar por ali na segunda-feira de manhã. As pessoas foram chegando e tomando conta.

Em um domingo de sol, fui encontrar o artista, fotógrafo e sonhador Felipe Morozini, que resolveu montar nesse dia uma sala de estar em cima do asfalto.

Felipe mora ao lado do elevado há quinze anos, no apartamento que foi de sua avó. A vontade da gentileza urbana nasceu da indignação pela falta de mobiliário para atender as pessoas que fervem no asfalto no fim de semana. Ele, que sempre quis descer com os móveis da sua casa e esticar tapete no concreto, conseguiu apoio de uma loja do ramo e montou uma sala de estar acompanhada de uma biblioteca. As pessoas paravam, sentavam, tomavam um mate e aproveitavam o dia.

Felipe Morozini no Minhocão

Não é a primeira vez que ele ocupa esse espaço, quase seu quintal. Já desenhou flores de cal criando um jardim suspenso, pintou uma tela a partir de bexigas de tinta atiradas do seu apartamento e até botou fogo em móveis para uma instalação. “É um espaço que por princípio não tem regra, ele representa uma transformação, é a cidade sendo testada, a cidade faz disso um laboratório”. Por isso reforça a importância das ações que acontecem ali serem para todos.

No Minhocão


Créditos: Felipe Morozini

Além de Felipe, moradores, vizinhos e passantes, o Minhocão abriga aulas de ioga, clubes de corrida, karaokê, o Minhocães – um clube de cachorros, um jardim vertical e um mercado de pulgas que junta mais de 700 pessoas vendendo coisas de seus armários aos domingos.

Uma “ocupação espontânea do espaço”, nas palavras dele, justamente porque o local não tem sombra, não tem onde sentar, não tem banheiro. São as pessoas que insistem em circular, ostentando a vontade paulistana atual de ir a rua em qualquer oportunidade.

Caminhando pelos mais de três quilômetros que compõe o elevado, encontro gente que se debruça na varanda para olhar o passeio e placas de apoio a ideia do parque, que tem como inspiração o High Line de Nova York. Há o movimento de vizinhos que prefere que a demolição como fim ao Minhocão, depois que for desativado em 2029, data do plano diretor da cidade.

Na terça-feira à noite, entre corredores, patinadores e turmas de bicicleta, amigos sentados na guia tocando violão me transportaram para uma praça de cidade de interior.

Na tarde de domingo, na sala montada no elevado parque, uma grávida descansava no sofá enquanto crianças brincavam no balanço.  Felipe sorria realizado com a sala montada na praia de paulista.

Neste próximo domingo (4) não tem sala de estar no Minhocão, em compensação tem muita gente, tem Mercado de Pulgas e mais uma porção de oportunidades de diversão. Vai lá. E se quiser conhecer melhor o trabalho do Felipe, cola aqui.


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No Rolezinho desta semana, Renata Simões fala de Felipe Morozini e o Minhocão

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