Lynn Court é a grafiteira filha do cantor Ritchie


Créditos: Divulgação/Reprodução

Você já ouviu falar na Lynn Court? A carioca de 29 anos é filha do cantor e compositor Ritchie (autor de Menina Veneno) e divide o seu tempo entre o graffiti e o jornalismo. Na televisão ela já trabalhou em canais como o Multishow e a Play TV, apresentou a TV Globinho, na Rede Globo, e apresenta o programa Nóia, do canal Woohoo.

O Virgula Lifestyle conversou com ela e descobriu tudinho sobre a sua relação com a arte, seja no graffiti ou em outros trabalhos, com a televisão e a sua família.

Virgula Lifestyle: Como o graffiti entrou na sua vida?

Lynn Court: “Trabalhava num escritório de design e fazia ilustrações para um canal. Um amigo meu, que já era grafiteiro e que trabalhava lá, viu um desenho meu e falou que ficaria perfeito no muro. Aí eu falei ‘Pô, mas no muro? Como assim?’ e ele ‘Ah, amanhã eu vou te levar para você pintar esse desenho na parede’. Ele comprou o material e me levou até um muro de um amigo que sempre cedia o espaço para a galera pintar. Fui, fiz, amei e foi assim que comecei. A partir daí comecei a observar como é que as pessoas pintavam e frequentar eventos de grafite. Fui aprendendo assim, vendo os outros fazerem e indo com eles fazer, com os meus amigos e, enfim, pegando dicas. Foi na marra mesmo”.

Todo grafiteiro assina as obras com um codinome. Qual é o seu?

“O meu codinome é Nóia, que vem de paranoia mesmo, de ser preocupada, noiada”.

Você acha que herdou do seu pai a sua sensibilidade artística?

“Aqui em casa todos tem veia artística. Minha mãe trabalha com moda, criação e é formada em arquitetura. Meu pai é músico e minha irmã, designer. Acho que está no sangue mesmo. Sempre desenhei desde muito nova, e eles sempre me incentivaram muito. Na escola diziam que eu era uma zoneira, mas na aula de arte eu não abria a boca. Adorava. Então eles tiveram a sensibilidade de aceitar isso e valorizar o que eu gostava de fazer. Isso me ajudou muito”.

Ao lado do pai, quando era pequena

Qual foi a reação da sua família quando você disse que queria ser grafiteira?

“Quando comecei a pintar eles acharam muito legal. Vão até hoje nas minhas pinturas, fotografam, acham um máximo. Sempre foram assim. Umas vez eu estava na Califórnia e minha mãe viu que estavam pintando em cima do meu grafite, ela ligou pra mim desesperada (risos)”.

Como você lida com a efemeridade do grafitti?

“A gente brinca que o grafiteiro tem que ter esse desapego. É um choque, mas você tá tão habituado, que o que vale é a foto, porque no outro dia o graffiti pode não estar mais lá. A gente divulga o trabalho na rua, temos que aceitar essas circuntâncias”.

Como é ser grafiteira, sendo mulher, estando fora desse padrão mais comum?

“Na verdade, tem suas vantagens e desvantagens. Vantagem porque, obviamente, quando você está num ambiente que é cercado de homens você está mais protegida, eles te ajudam no que você precisa. Enfim, temos esses mimos, mas, ao mesmo tempo, quando você vai fazer um trabalho sozinha, é um trabalho muito braçal. Você vê que a coisa é mais masculina por isso mesmo, porque exige muito esforço físico, sabe? É braçal, você sobe, agacha, se pendura, então é uma coisa meio arriscada. Na rua você ainda enfrenta os problemas de acharem que você está fazendo vandalismo e enfrentar a polícia por isso. É delicado. É engraçado até uma mulher nesse ambiente, assim como no surf. Mas é um momento nosso no graffiti. Sou do tipo de mulher que é super feminina, mas tem tenho meus momentos onde um apurado lado masculino aparece, sabe?”

E você já sofreu preconceito?

“Já fui presa, inclusive.  Eu estava pintando uma caixa de luz. Na minha cabeça, como todas eram pintadas, não sabia que era proibido. Fui abordada por 4 policiais armados, dois deles com fuzil. Eu estava ouvindo música então nem vi eles chegando por trás. Tomei um susto, e ainda reclamei ‘que absurdo abordarem alguem que está fazendo arte desse jeito!’. Eles me levaram pra 14ª, no Leblon, e eu passei a madrugada lá”.

Além de graffiti, você faz outros tipos de trabalhos. Quais são eles?

“Faço muito trabalho de estampas e ilustrações para marcas e vitrines. Também sou solicitada para decorar casas, quartos e salas com meus desenhos”.

Trabalhos para marcas

“Fiz trabalhos grandes para marcas como Spoleto e Oh, Boy. Desenvolvi catálogos, estampas, customizei roupa para desfile e por aí vai.

Fiz ilustrações para uma série de latinhas umas promocionais, decorei o escritório de um das marcas com grafite. Daí, me chamaram para fazer a cobertura do Festival Arte e Rua, que é uma coisa enorme aqui no Rio, só de grafite. Então, entrevistava todos os grafiteiros. Também tenho esse lado repórter. Sou formada em design e agora vou me formar em jornalismo. Por ser familiarizada com as pessoas do meio da arte, já ter pintado e gostar do assunto, acabam me chamando para apresentar programas de arte. Então, resolvi unir esses dois caminhos: graffiti e TV”.

Blog

“O blog começou por achar que não tinha um espaço dedicado a você saber quais exposições estão acontecendo no eixo Rio/São Paulo e no mundo e, também, saber um pouco sobre aquele artista. A gente fala tanto sobre arte de rua quanto sobre arte contemporânea, arte moderna. Coloco tudo ali no blog. Se acho que tem um artista legal, algum desconhecido que merece ganhar atenção das pessoas coloco no blog. Se é uma exposição que está rolando em NY, também vai estar lá. Falo sobre arte e isso começou justamente pela falta de mídia sobre esse assunto”.

Televisão

“É engraçado, porque uma grafiteira apresentando um programa de TV é inédito. Eu sempre gostei de escrever e sempre gostei de falar sobre arte. Em paralelo a isso, fazia aulas de teatro, mas isso era mais uma coisa que eu fazia como terapia mesmo, pra desabafar. Então quando eu trabalhava num escritório de design fazendo ilustração pro canal Woohoo, que é um canal de esportes, o Bocão e o Antonio Ricardo (donos do canal), que sabiam desse meu lado ligado aos cursos de interpretação e grafiteira, pensaram ‘Vamos pegar ela e fazer um programa de arte’. Assim eu desenvolvi pra eles o programa Noia e nele eu entrevistava pessoas ligadas à arte de rua.

A partir daí foram surgindo vários convites de outros canais, com outros temas também. Eu trabalhei na Play TV de São Paulo, apresentando um programa de música e de cinema; fiz também um ao vivo pro Multishow cobrindo o festival Planeta Atlântida; fiz TV Globinho, que era o infantil da Globo, e por aí vai.

São duas coisas que adoro fazer completamente diferentes, essa parte de arte e a de jornalismo, dessa forma, me tornar repórter de arte foi o caminho que encontrei de unir as duas coisas”.

O que você está fazendo atualmente e quais são os seus planos para o futuro?

“Atualmente faço muitos trabalhos para marcas, pinto muito interior (decoração de casas), os arquitetos me chamam para fazer muito quarto de menina. Além disso estou me formando em jornalismo e escrevo sobre arte para o meu blog noia.art.br, e todas as matérias também são publicadas no site woohoo.com.br. O ideal é que eu sempre consiga conciliar as duas atividades que amo: a arte, e o jornalismo, ou seja, continuar pintando e falar sobre arte. É o que eu tenho feito há algum tempo. Tem o Programa “Nóia” que é minha grande paixão, que desenvolvi pro canal Woohoo, onde apresento os artistas de rua, mostro os ateliês, vou nas exposições”.

Você poderia listar 5 músicas que gosta de escutar quando está grafitando?

– Qualquer uma do disco White Ladder, do David Gray;

Phil Collins, Do You Remember?;

– Mase, Feel So Good

– Qualquer uma do Alabama Shakes;

– Soul music é sempre minha primeira opção (Aretha Franklin, Arthur Conelly, Otis Redding, etc…)

E quais são os filmes que você mais gosta sobre o assunto?

“Existem dois documentários incríveis do Jean Michell Basquiat, sendo que um deles é ‘The Radiant Child‘. Tem um documentário sobre Os Gêmeos, ‘Cidade Cinza‘, de Marcelo Mesquita“.


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