Ronnie Von nos bastidores do clipe de “Só de Você”

Quando se junta um príncipe e uma rainha responsáveis por transformar gerações com o poder das palavras e canções, além, é claro, do carisma, uma hecatombe de bons sentimentos eclode, fazendo o mundo da música se tornar um lugar de amor, sabedoria e reflexão.

Assim foi com Ronnie Von e Rita Lee há 55 anos. Assim é com o eterno príncipe e a rainha do rock’n’roll neste 2022, ano em que Ronnie resolveu dar um presente majestoso à amiga de longa data, regravando “Só de Você”, um dos sucessos da carreira da artista, que estreia em todas as plataformas de streaming nesta terça-feira, inclusive com clipe oficial. A criação, produção e divulgação do trabalho são assinadas pela RREC, dos diretores Rodrigo Righetti e Eduardo Cariboni.

O apresentador e cantor contou detalhes ao Virgula sobre o “projeto”, que ele não trata como projeto, e reviveu o passado com a história e delicadeza nas palavras para falar sobre a amizade com Rita e por que resolveu regravar a música. “Ela foi a menina mais bonita que eu conheci na minha vida”.

E detalhe, “Só de Você” nem é a canção preferida de Ronnie, que deixa claro conhecer todo o repertório de Rita, mas ter uma música que lhe desperta os mais belos sentimentos quanto ao estilo que é sua paixão, o rock.

Veja abaixo a entrevista na íntegra com Ronnie Von.

Virgula: Ronnie, “Só de Você” é sua música preferida da Rita?

Ronnie Von: “Não necessariamente. Eu gosto muito do repertório da Rita, tenho praticamente todos os discos dela, mas a minha música predileta que a Ritinha gravou é “Babilônia”. Ela se aproxima muito de uma coisa que fez parte da minha adolescência de rockabilly e eu adoro. O jogo das palavras: ‘Suspenderam os jardins da Babilônia’… Isso é muito legal. Essa é minha predileta.

Virgula: Algum outro projeto em mente sobre uma canção da rainha do rock?

Ronnie Von: Não, não tem nenhum projeto em relação a regravações, a novas leituras. É bom deixar bastante claro que esse não é um projeto de fato, esse é um presente. Um presente que eu fiz pra uma amiga minha. Eu tinha prometido à ela que iria dar uma orquídea, nós tínhamos conversado, eu disse ‘vou te dar uma orquídea que tem o meu nome’, que é uma laeliocattleya roonie von. Sou botânico e gosto dessas coisas, ela gosta muito de natureza, de plantas e isso tudo, então ia dar a orquídea pra ela.

Daí um amigo meu me sugeriu: ‘não, aumenta um pouco isso. Dá de presente `ela por exemplo uma música que ela fez e gostaria de ver você cantando’. Aí eu sabia que tinha o ‘Só De Você’. Mas o cara fez uma mega produção, com um arranjo, com uma big band, que eu me senti na Broadway. Gravei, ficou legal, mandei pra ela de presente, junto com a orquídea e uma carta.

Quando ela viu, ela ligou pra editora no mesmo dia e disse pra liberar essa música pra mim, que ela queria que eu gravasse e queria ser a madrinha desse lançamento. Então, na verdade, ela é a madrinha de um projeto que ela mesma criou, não eu. Tomou um vulto muito grande, porque tudo o que vem da Ritinha é grande. Então tomou esse vulto todo, com videoclipe, mas foi apenas um presente que eu dei pra uma amiga minha. Não tinha nada comercial. Nunca pensei nisso como um lançamento, como projeto comercial, não, e por isso não tenho outros”.

Virgula: Quando conheceu a Rita e como foi?

Ronnie Von: Eu conhecia a Rita na casa de um casal de amigos, que moravam no Pacaembu. Olha, faz tanto tempo isso… chegando do Rio de Janeiro, isso foi em 1966. Fui num sarau, num encontro que tem poesia, que tem música, enfim. Me apresentaram a Ritinha [pausa, suspiro]… poxa, que coisa mais linda. Ela ia fazer 18 aninhos. Ela foi a menina mais bonita que eu conheci na minha vida.

Então começamos a bater papo, trocar ideias sobre música, é claro. E a gente tinha um amor em comum, que era Beatles. E a partir daí a nossa amizade foi crescendo. Ela estava trocando de banda, eu nomeei a banda com nome de “Mutantes”, levei no meu programa lá na Record, “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”, e a amizade tá durando 55, vai para 56 anos, já que foi em 66 que a gente se conheceu e essa amizade permanece… e o meu amor por ela também.

Virgula: Algumas situações inusitadas com a Rita que possa nos contar?

Ronnie Von: Dúzias, dúzias de situações inusitadas. Mas tem uma que me marcou muito porque foi um susto que eu tomei no ar, num programa de televisão. Nós tínhamos combinado de fazer o lançamento deles [Mutantes] no meu programa, e o repertório deles eventualmente Beatles, que nós tínhamos inclusive ensaiado.

Aí quando eu apresentei, Ritinha toca, sabendo que eu tinha esse desejo monumental de tentar mesclar música erudita, que é uma das paixões da minha vida, com o rock, com a guitarra elétrica, enfim, com a linguagem daquela época, que era uma linguagem up to date, e ela me toca, sem me falar nada, a “March Turca de Mozart” na guitarra. Eu levei um susto e, claro, delirei de tanta alegria.

Virgula: Como você, Ronnie, enxerga o cenário atual do rock nacional?

Ronnie Von: Acho que p rock nacional está muito desprestigiado. O movimento do rock foi um movimento que mudou a concepção, a visão de todas as pessoas do século. Foi um grande divisor de águas. Logo depois com os Beatles e o pessoal da minha geração, que eu sempre falo, é um clichê, mas é verdade, nós mudamos o comportamento social do mundo, numa revolução que não teve sangue, só teve música.

E hoje o rock, que foi o pontapé inicial desse gol, está uito desprestigiado. E eu não canso de dizer que a minha escolha muscial é e vai continuar sendo o rock’n’roll.

Virgula: Ronnie, se possível, defina Rita Lee em uma palavra e, depois em uma única frase

Ronnie Von: Olha… definir Ritinha em uma palavra? Meu Deus do céu… eu vou tentar pensar numa palavra aqui [pausa, suspiro]… Pluralidade! Porque Ritinha ela é muitas em uma só!

Agora a frase… a minha frase seria [pausa]… A beleza mais talentosa que eu conheci na minha geração!


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Do príncipe para a rainha: Ronnie Von fala ao Virgula sobre música para Rita Lee