Aquela mistura de alemão, francês e italiano que sempre imperou nos nomes dos jogadores suíços ganhou outros tons. O país cravado no meio da Europa e que sempre teve influência dos três países vizinhos em sua cultura, agora tem também Sead Gavranovic e Haris Seferovic (de origem bósnia), Valon Behrami, Xherdan Shaqiri e Granit Xhaka (kosovares) e até um Gélson Fernandes (cabo-verdiano).

Absorvendo jovens talentos de jogadores de origens variadas, a Suíça se classificou com folga para a Copa do Mundo em um grupo que, se não oferecia grandes riscos, foi levado muito a sério. Contra Islândia, Eslovênia, Noruega, Albânia e Chipre foram sete vitórias e três empates em jogos de ida e volta. Se o nível técnico dos outros cinco postulantes era baixo, os suíços souberam manter o pé no chão e não sofreram com tropeços, que atrapalharam seleções bem mais respeitadas, como Itália, Inglaterra, Suécia e Portugal.

Com boa campanha e a criação de uma base sólida, o país foi subindo no ranking da Fifa, o que a contemplou como uma das cabeças de chave do Mundial. E outra vez teve certa sorte no sorteio. Além da França, que não vive grande fase, enfrentarão Honduras e Equador. Uma chave extremamente boa para os comandados de Ottmar Hitzfeld, vitorioso técnico que tem história nos dois principais clubes da Alemanha, seu país natal, Borussia Dortmund e Bayern de Munique.

O treinador é o mesmo da Copa do Mundo de 2010, que impôs à futura campeã Espanha uma derrota logo em sua estreia. O time, porém, caiu na primeira fase após um empate frustrante com os hondurenhos na última rodada da primeira fase, quando precisava da vitória.

Philippe Senderos e Johan Djourou são remanescentes daquela defesa da Copa de 2006, que saiu do torneio sem sofrer nenhum gol (algo inédito) até cair nas oitavas de final para a Ucrânia, nos pênaltis.

Nunca é demais lembrar que foi a Suíça quem carimbou a faixa de campeão da Copa das Confederações da Seleção Brasileira no último dia 14 de agosto. O amistoso na Basileia terminou 1 a 0 (gol contra de Daniel Alves), mas a superioridade dos europeus foi evidente.

Daqueles jogadores que jogaram contra o Brasil, seis titulares e mais dois reservas são atletas de outras origens que não a suíça (em negrito, abaixo).

Benaglio; Lichtsteiner (Lang), Senderos (Schar), Klose e Ricardo Rodriguez; Behrami, Stocker (Barnetta), Dzemaili (Schwegler) e Xhaka; Shaqiri (Mehmedi) e Seferovic (Gavranovic).

E é assim que Hitzfeld vem para o Brasil em 2014, ainda com outros destaques, como a dupla que joga no Napoli, Gökhan Inler (origem turca) e Blerim Dzemaili (outro sérvio). Já com planos de se aposentar após a disputa, o técnico estará com 65 anos e anunciou que pendurará a prancheta com 30 anos completados nesta carreira, somando ainda pouco mais de uma década como jogador.

“Este é um time que não se esconde. Temos a consciência de que podemos correr riscos”, disse Hitzfeld, falando de seu esquema 4-3-3 cheio de “gringos”.

Alguns dos jogadores foram campeões mundiais sub-17 em 2007 e chegaram à final da Euro sub-21. É na velocidade e no bom toque de bola que saem os gols, com dois volantes, um meia armador, dois pontas e um jogador centralizado no ataque.

O gol tem a figura de Diego Benaglio, experiente de 30 anos e titular do Wolfsburg há várias temporadas, estando lá desde 2008. Um digno sucessor do querido de Pascal Zuberbuehler, o Zubi, que defendeu a meta suíça por anos e se aposentou em 2011.

É um time consistente e que sabe o que quer, sabendo de suas limitações.

La Nati, como é chamado o time, participará pela nona vez de uma Copa do Mundo, e seu melhor resultado foi o alcance das quartas de final, feito repetido três vezes. A última vez que isso aconteceu, porém, foi quando sediou o torneio, em 1954.

O desafio inicial em 2014 é ir para a segunda fase. O comandante falou a respeito no dia do sorteio, no último dia 6, que será bem difícil.

“É um grupo muito tenso e nivelado, com mentalidades diferentes. Times europeus enfrentando sul e centro-americanos. Temos que utilizar este tempo que nos resta para nos preparar para as condições que iremos enfrentar”, disse.

O primeiro duelo será no Mané Garrincha, em Brasília, dia 15 de junho. Cinco dias depois, talvez o jogo que definirá a classificação ou não, contra a França, na Arena Fonte Nova, em Salvador. Para fechar, novamente Honduras, como em 2010, na Arena da Amazônia, em Manaus.

E é talvez contra os países da América que a equipe tenha que tomar mais cuidado. Jogarão contra equatorianos e hondurenhos muito mais acostumados ao clima quente, ficando em um 0 a 0 no duelo da Bahia contra os vizinhos franceses, outros que não devem estar muito bem-aclimatados.


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Com ‘força gringa’ e técnico vencedor, Suíça quer aprontar na Copa do Mundo