A temporada 2013/2014 não é muito boa para o Porto. O time, que é o atual campeão nacional, vive um ano ruim e acaba de ser eliminado nas quartas de final da Liga Europa. Os 15 pontos que o separam do líder e eterno rival Benfica fazem o torcedor suspirar um ‘Ai, Jesus’ a toda hora que vê o escudo do time na terceira colocação da tabela. Só que momentos difíceis costumam ser aqueles que criam novos ídolos.

Fabiano Freitas, de 26 anos, foi revelado nas categorias de base do Rio Branco de Americana e, com 19 anos, teve o passe comprado pelo São Paulo, clube em que participou do elenco profissional e teve chances de jogar, e bem. Após passagens por outros clubes brasileiros por empréstimo – Toledo (PR), Santo André e América (RN) –, o goleiro de 1,97 m despertou o interesse do Olhanense. Em Portugal, bastou uma boa temporada para chamar atenção do gigante Porto, que o contratou em definitivo em 2012.

Com o status de segundo goleiro no clube em que o compatriota Hélton enverga a camisa 1  desde 2005, Fabiano buscou trabalhar duro para, um dia, ter o seu nome gritado pela torcida como o ex-vascaíno. Com a lesão do colega titular no início de fevereiro, veio então a prova. Fabiano teve que entrar no meio de um difícil duelo contra o Sporting Lisboa, fora de casa. Com o time já perdendo por 1 a 0, ele fechou a meta. O time não conseguiu reverter o resultado, mas ele garantiu a vaga de titular, onde está desde então.

O Virgula Esporte  conversou com o goleirão que, além de listar suas qualidades de forma tímida, garantiu que pensa primeiro em um passo para só depois dar outro. Fabiano, que sonha jogar uma Copa do Mundo, tratou de deixar claro que não dá as costas para a possibilidade de defender outra seleção que não a brasileira, fato até comum nos dias de hoje. Porém, o assunto principal foi difícil de desviar, e ele mostrou estar muito concentrado no Porto, e só no Porto. É o presente que a vida de muito esforço lhe agraciou.

 

“Acho que o jogador que defende um clube como o Porto tem que estar preparado sempre. Independente se vem jogando ou não, tem que estar sempre com a cabeça focada. Infelizmente nosso companheiro Hélton se lesionou. Uma fatalidade, mas a gente tem que dar continuidade ao trabalho e eu sempre venho me preparando para jogar. Mesmo não jogando, minha cabeça sempre foi com o intuito de jogar e mostrar o meu potencial. Estou bem tranquilo. Acho que o grupo vem me ajudando bastante, toda a comissão técnica e toda a diretoria me dando confiança para eu manter o meu trabalho em todos os jogos”, disse.

Logo depois do clássico português com o Sporting, veio um duelo decisivo contra o Napoli pelas oitavas de final da Liga Europa. Após vitória pelo placar mínimo em casa, os Dragões tinham vantagem do empate na Itália. Foi o que conseguiram. Apesar dos 2 a 2, Fabiano teve atuação destacada e ganhou a torcida.

 

Perguntamos a Fabiano se esse não é o momento perfeito para aparecer, lembrando de casos do futebol brasileiro como o de Velloso, do Palmeiras, que se machucou e deu a oportunidade para Marcos na Libertadores de 1999. O alviverde conquistava, então, seu único título da competição, consagrando o hoje maior ídolo da história do clube. Outro exemplo foi o de Júlio César, do Corinthians, que, mesmo desacreditado pela torcida, mantinha a titularidade. Uma lesão o tirou de duelos decisivos da Libertadores de 2012, dando chance a Cássio. História parecida: Timão venceu seu primeiro título continental e o arqueiro cabeludo se consagrou com grandes defesas e atuações seguras.

“É, tem que estar preparado, né? Você está falando de atletas que, apesar de não estarem jogando, quando precisou, corresponderam à altura. Então é isso que eu venho trabalhando no dia a dia, durante toda a minha carreira, principalmente quando eu cheguei aqui no Porto. Com esse intuito de, mesmo não estando a jogar, ficar com a cabeça sempre focada, trabalhando mais ainda do que aquele atleta que vem jogando, para, quando precisar, em um momento oportuno como esse, estar preparado para suprir às necessidades”, respondeu, sério, o jogador.

E preparação é o que ele sempre mostrou. Como dito mais acima, jogou pelo São Paulo e teve a sua primeira chance no time titular em duelo do Brasileirão 2007 contra o Fluminense, no mítico Estádio do Maracanã, antes da reforma para a Copa do Mundo. Mostrou estrela. O time cometeu pênalti e o lateral artilheiro Gabriel foi para a cobrança. Fabiano acertou o lado (assista abaixo), o São Paulo empatou o jogo por 1 a 1 e rumou para uma conquista magnífica.

“Lembro, lembro muito bem. Meu primeiro jogo como profissional, então não tem como esquecer. Em um palco maravilhoso que é o Maracanã, em um jogo válido pelo Campeonato Brasileiro. Então, acho que foi um marco muito grande na minha vida, fiquei muito feliz de ter conseguido defender uma penalidade, aquilo foi muito marcante para a minha vida. Vou guardar até o resto da minha vida, com boas recordações e muito feliz”, recordou, dando detalhes.

Mostrando timidez, o atleta nascido na pequena cidade de Mundo Novo, no centro do Estado da Bahia, disse que não é muito fã da autopromoção, mas acabou listando duas características que fazem dele um goleiro de destaque.

“Olha, falar da gente é um pouco difícil. Eu sou muito reservado. Prefiro que as outras pessoas falem. Sou um profissional que trabalha muito para melhorar as minhas qualidades e aperfeiçoar também aquilo que não é tão bom. Mas, pela estatura e velocidade, acho que consigo me destacar bastante”, revelou.

 

Ok, mas se você, Fabiano, citar alguns goleiros em que se espelha, podemos ter mais dicas do que você acha mais importante para se sobressair na posição.

“Olha, na verdade, eu não tenho um ídolo definido. Admiro muitos goleiros brasileiros. Admiro muito o Dida, até mesmo o Rogério Ceni, com quem trabalhei, o Hélton, também, com quem estou tendo o prazer de estar junto. São pessoas que me ajudaram bastante. Mas eu tento pegar aqueles pontos que me agradam de cada um e colocar no meu trabalho no dia a dia”, explicou.

É, quase, mas deu pra ter uma noção.

Ao citar somente goleiros que defenderam a Seleção Brasileira em Copas do Mundo, uma questão foi inevitável: A Copa do Mundo da Rússia, em 2018, é logo ali, Fabiano?

“É, isso é a consequência do meu trabalho, como eu digo sempre. O trabalho que você vai desenvolver durante todos os dias, durante todas as competições, até a Copa de 2018, que faltam alguns anos ainda. Vão acontecer muitas coisas (até lá). Então, é lógico que o jogador sempre sonha em estar no mais alto nível e comigo não é diferente. Mas eu mantenho sempre os pés no chão, trabalhando a cada dia, que isso (jogar uma Copa) é resultado de um grande trabalho que você faz durante a sua carreira”, disse.

Jogando em um país que já teve os brasileiros Deco e Liedson, além de Pepe, atuando pelo seleção de Portugal em Mundiais, Fabiano mostrou ter opinião sobre o assunto e não descartou tomar o mesmo rumo que os aqui citados, já que nunca foi lembrado para jogar pelo Brasil.

“São coisas do futebol. No momento, estou muito concentrado no meu trabalho aqui no Porto, estou começando o meu trabalho aqui, a criar a minha história aqui no Porto. Alguns jogadores optaram por defender outras seleções, então isso vai do consentimento de cada um deles, da vontade. Mas isso, em relação a mim, é consequência do trabalho. Na medida em que vou fazendo o meu trabalho durante os jogos, durante as competições, as oportunidades vão aparecendo e aí a gente pode começar a discutir sobre isso”, opinou.

E é bom Fabiano Freitas continuar com esse mantra “trabalho, concentração, trabalho”. Hélton, que já tem 35 anos, não joga mais essa temporada. É a oportunidade perfeita para o camisa 24 criar raízes na meta portista.


int(1)

Novo titular do Porto, goleiro Fabiano Freitas quer marcar nome na história do clube e não descarta jogar por outro país