O Brasil emergente é retratado com humor e drama em Avenida Brasil, telenovela que expõe com um realismo incomum a nova classe média nacional e que a cada noite deixa o país paralisado em frente à televisão.

No centro da trama estão os novos ricos da família de Tufão (Murilo Benício), ex-jogador de futebol que fez sucesso no Flamengo e na Seleção Brasileira, mas que fracassou ao não perceber durante anos as traições de Carminha (Adriana Esteves), uma ex-prostituta com traços de psicopata com quem se casou sem saber sobre seu obscuro passado.

A história se desenvolve no Divino, bairro fictício da periferia do Rio de Janeiro, onde Tufão cresceu e tornou-se jogador e no qual construiu uma mansão para abrigar todos os seus familiares.

Ao contrário de outras produções que transcorrem em bairros abastados do Rio ou de São Paulo e que apresentam os subúrbios como focos de violência e de pobreza, Avenida Brasil mostra a outra cara dos bairros populares, onde também há gente de sucesso, como jogadores e pequenos empresários que, apesar do dinheiro ganho, não renegam suas origens.

“Esta telenovela reflete o momento especial que vive o país, no qual o dinheiro está mudando de mãos e o poder aquisitivo das pessoas que vivem nos subúrbios é cada vez mais alto”, disse à Agência Efe a professora Cristiane Costa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de vários trabalhos sobre telenovelas.

Além de mostrar a nova classe média, que com a estabilidade econômica descobriu as delícias do crédito e do consumo, a telenovela da TV Globo tem todos os ingredientes para seduzir pessoas de todas as condições sociais.

Todas as noites, milhões de brasileiros se divertem com a parcimônia do ingênuo ex-jogador, sofrem com as maldades de sua maquiavélica esposa e riem da atitude infantil de sua irmã Ivana (Letícia Isnard) ou das intrigas de Max (Marcello Novaes), o cunhado traidor e verdadeiro pai de Jorginho (Cauã Reymond) e Ágata (Ana Karolina), os dois filhos que Tufão criou como seus.

O retrato tragicômico é completado por sua mãe, Muricy (Eliane Giardini), antiga empregada doméstica com ares de refinada graças ao dinheiro de seu filho e que vive um romance com Adauto (Juliano Cazarré), um simples gari analfabeto que tem um terço da sua idade.

Durante as refeições junta-se a eles Leleco (Marcos Caruso), o impulsivo pai de Tufão e ex-marido de Muricy, e um dos personagens mais simpáticos da obra, sempre de aspecto juvenil, usando bermudas, camiseta sem mangas e óculos escuros.

Na mansão, todos discutem os assuntos familiares e até intimidades dos casais em voz alta, sempre com a participação das empregadas da casa, que completam o toque de humor da história.

Uma delas é a culta e educada Nina (Débora Falabella), na realidade uma enteada de Carminha que se infiltrou na mansão na condição de chefe de cozinha para poder executar uma vingança que planejou durante anos.

Seu objetivo é desmascarar Carminha, que causou a morte do seu pai e depois a abandonou em um lixão quando ela era apenas uma criança.

Esse despejo, localizado nos arredores do Rio, guarda os mais escabrosos segredos do passado de Carminha e de Max, que o país inteiro espera conhecer nessas últimas semanas da telenovela.

É justamente o realismo tragicômico com o qual o autor João Emanuel Carneiro mostra o cotidiano de um bairro carioca de classe baixa o que disparou seus índices de audiência.

No aguardado capítulo da última segunda-feira (08), no qual Tufão expulsou Carminha da mansão após comprovar suas traições, Avenida Brasil bateu recorde de audiência com 52 pontos, segundo o Ibope.

Nas últimas semanas, a trama esteve entre os assuntos mais lidos nos portais da internet e no Twitter, onde na segunda-feira liderou a lista ds assuntos mais comentados no Brasil.

“O subúrbio finalmente apareceu na televisão, sem folclore e sem ideologias”, escreveu no diário O Globo o diretor de cinema Arnaldo Jabor, para quem a telenovela “matou nossa fome de verdades”.


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Avenida Brasil: Um retrato do Brasil emergente