Em uma palestra para alunos de cinema da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) há quase duas décadas, o cineasta José Mojica Marins, que completa 75 anos neste domingo (13), urgenciou: “Tem tanta coisa assustadora no folclore brasileiro, Sacis, Curupiras, Cucas, não entendo porque não fazem fitas de terror com esses temas”. Em uma entrevista recente à Globo News essa semana, ele revela que entre seus futuros projetos está a história que leu em um jornal do interior que um assassino em série foi morto e enterrado e os crimes voltaram a acontecer, quando reabriram o caixão, ele estava vazio. Desses dois exemplos podemos perceber onde o criador do Zé do Caixão tira suas histórias e inspirações. Ele não olha para fora, numa espécie de colonialismo cultural que estamos tão acostumados a obedecer e sim, mergulha numa espécie de alma – penada- brasileira para iluminar suas trevas cinematográficas.

Ao contrário de Zé do Caixão que segundo o próprio Mojica, “é um homem sem crenças, não acredita em Deus nem no Diabo, só acredita nele mesmo, acha que é o único que pode fazer justiça. Seu objetivo é encontrar uma mulher que compartilhe seus pensamentos e juntos tenham um filho, que possa dar continuidade à sua espécie, que ele acredita ser superior”. José Mojica tem uma profunda fé no cinema feito no Brasil. Foi com uma imaginação e criativaidade imensas que criou dois clássicos: À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1963) – o filme que aparece pela primeira vez Zé do Caixão confundindo criador e criatura – e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1966).

Durante a ditadura militar sofre uma espécie de ostracismo cultural e seu personagem Zé do Caixão passa a ser considerado caricato. Na década de 90, tem seu prestígio restaurado com a descoberta de sua obra no exterior. Paradoxalmente, o cineasta que lutou contra o colonialismo cultural foi salvo – de certa forma – por ele ou pelo menos pelos brasileiros ainda acreditarem que o que é aprovado pelos grandes centros culturais internacionais é o que realmente têm valor.

Na mesma década, foi inspiração para uma brilhante coleção do estilista Alexandre Herchcovitch e esse ano foi destaque e homenageado no desfile da vice-campeã do Carnaval carioca, Unidos da Tijuca.

Em 2008, retorna ao filme longo em grande estilo com Encarnação do Demônio.


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José Mojica Marins, o criador do Zé do Caixão, faz 75 anos