Julio Oliveira tem 23 anos e mais de 23 peças de teatro, entre trabalhos amadores e grandes produções. Entretanto ele ficou mais conhecido quando, em 2010, fez par romântico com Betty Gofman, 25 anos mais velha que ele, na novela Ti Ti Ti. Atualmente, vive o personagem Peixinho, em Sangue Bom, que promete causar mais repercussão com sua relação amorosa com Filipinho (Josafá Filho).

Atrás da especulação de um possível beijo gay, inédito em novelas da emissora, existe um ator que se dedica com afinco à profissão desde os 13 anos e que já chegou a vender coxinha e trabalhar em telemarketing para poder bancar o seu amor ao teatro.

Em entrevista exclusiva ao Virgula Famosos, Julio Oliveira falou de sua carreira, do preconceito inicial dos pais, que se converteu em admiração; de como fez para conseguir estrear no cinema, em Salve Geral (2009, de Sérgio Rezende); e é claro, de seu personagem atual e de todas as questões que o envolvem.

Leia abaixo a entrevista exclusiva do Virgula Famosos com Julio Oliveira.

Virgula Famosos – Como você entrou para o teatro?

Julio Oliveira – Foi meio por acaso. Um tio meu apareceu e disse que ia pagar um curso de teatro para mim, eu tinha 13 anos na época. Era uma vez por semana só, mas eu acabei gostando e no fim arrumava confusão com os outros alunos porque levava as aulas mais a sério do que eles. Foi aí que eu percebi que eu tinha algo de diferente.

Então quando você chegou a uma idade em que as pessoas decidem que profissão tomar, que rumo seguir, você já tinha certeza do que queria…

Já, há muito tempo. Há muito tempo eu já sabia exatamente o que eu iria fazer. Eu sempre soube desde cedo. Aliás, até um pouco antes. Quando tinha atividades extracurriculares no meu colégio, eu sempre gostava de ficar na posição de destaque, eu cantava no coral… E, de repente, tudo começou a fazer sentido quando, aos 13 anos, eu comecei a fazer teatro.

Viver de teatro no Brasil é complicado. Você chegou a ter outro ofício?

Ninguém que vive de teatro no Brasil é rico, a gente sabe. Meus pais eram humildes (seu pai era feirante e sua mãe faxineira), eu ganhava pouco, e ainda investia em cursos de teatro. Eu cheguei a trabalhar em telemarketing, mas eu fiquei muito pouco tempo lá.

Você disse que seus pais eram humildes. Como eles viam seu interesse por teatro na sua adolescência?

Eles tinham muito preconceito. Aquela coisa de “isso não dá futuro, isso é coisa de gay, isso não vai da certo…”. Entretanto, eu não faço disso um tabu. A minha história é só uma entre milhares de outras histórias de pessoas cujos pais pensam o mesmo. Acontece que eu soube separar isso muito bem, desde cedo. Eu dizia: “Eu aceito a opinião de vocês, mas a minha vida é a minha vida, e mesmo que eu fracasse, eu tenho que tentar”. Eu nunca desisti de alcançar meu sonho.

Você ainda sente certas ressalvas de seus pais, ou eles encaram de outra maneira?

O meu pai faleceu um pouco antes de eu ter mais destaque. Eu estava nas filmagens de Salve Geral, que ele não chegou a ver. Foi bem pesado, eu fiquei em uma situação complicada, as pessoas vinham falar comigo no set para me dar apoio.

E sua mãe?

Hoje em dia, ela teria preconceito se eu deixasse a carreira artística. Ela me mata, ela é hoje apaixonada pelo que eu faço. Eu acho isso uma “maravilhosidade” incrível porque a minha mãe cresceu em uma situação difícil. Ela foi condicionada a ter um pensamento preconceituoso, por querer o melhor para mim, por não querer que eu sofra. Então, eu acho essa mudança incrível. O poder da arte é muito grande.

Como foi a passagem do teatro para o cinema?

Eu tinha feito um espetáculo no shopping Frei Caneca e acabei fazendo amizade com os técnicos. Um dia, eu passei por lá para dar um “oi” e vi pregado no mural de recados um aviso de que teria um teste para o novo filme do Sérgio Rezende. Eu tinha visto Zuzu Angel há pouco tempo e resolvi voltar no dia seguinte. Eu cheguei lá e eles não queriam me deixar fazer o teste, pois não tinha me inscrito, mas eu insisti e acabei fazendo e passando.

Depois disso você fez uma pequena participação em uma novela no SBT e ganhou um papel em Ti Ti Ti, da TV Globo…

Sim, e foi bem polêmico até porque eu tinha um caso com uma mulher 35 anos mais velha do que meu personagem (Betty Gofman, de 48 anos). Isso gerou muitos comentários na rua, eu até era muito assediado por mulheres mais velhas…

Era em um tom de brincadeira ou você sentia que era sério?

Mais ou menos. Algumas falavam seríssimo. Já teve gente que, alterada pelo álcool chegou “chegando”. Eu fiquei sem graça… Mas eu acho que isso era sinal de que o personagem estava dando certo.

Quando você recebeu o convite para Sangue Bom, você sabia do rumo que a história e seu personagem tomariam?

Não. Eu sabia que o Peixinho era um personagem “carta-na-manga”, que em algum momento da história seria utilizado. Eu não sabia que ele era gay e eu acho que, de todas as possibilidades que tinha, foi escolhida a melhor. Não só pelo fato de eu estar amando o papel, mas também pelo contexto político que o país se encontra. Nós estamos em um momento de revolução. Então falar de temas como a homossexualidade é muito importante, há uma importância social nesse papel.

E como você construiu o personagem, dada a delicadeza e a importância do tema?

Por mais que você sirva de influências externas, a interpretação sempre parte de você. De um jeito ou de outro, é um trabalho muito solitário. Eu tenho me encontrado muito com o Josafá Filho, nós temos ensaiado bastante e conversado muito sobre isso. Muita coisa da relação de nossos personagens se dá pelo olhar. Nós temos grandes “takes” de olhares e não necessariamente de “falas”. E isso, se não for muito sincero, não funciona. E também descobri junto com o personagem que ele era gay. Então não dava para, de repente, mudar o tom, cair em algo mais caricato.

O que pode se esperar do Peixinho e do Filipinho em Sangue Bom?

Eu não posso falar quase nada, mas posso dizer que muita coisa vai acontecer. Ele, por exemplo, vai tirar a virgindade do Filipinho. O Peixinho vai ser muito importante para o Filipinho, vai modificar a cabeça dele, vai ajudá-lo.

Vocês já gravaram essa cena? Como foi?

Eu realmente não posso contar o que acontece, mas nós já gravamos. Todo mundo quer saber sobre o possível beijo gay da novela, se vamos quebrar esse tabu, como vai ser… Mas eu não posso falar.

O que você queria que acontecesse com seu personagem?

Eu queria que os dois terminassem juntos em outro país. Eu acho que ele deveria pegar o Filipinho e ir viver com ele na Broadway (risos)…

Você recebe cantada de outras caras, por seu personagem?

Sim, é normal, mas eu confesso que recebo muitas cantadas de mulheres. Eu tenho a impressão que é meio que uma tara saber que o personagem é gay, mas que nós como atores somos “homens”. Parece que isso deixa as mulheres mais alvoraçadas. E eu acho isso ótimo (risos).

E com sua família? Você avisou sua mãe da mudança no personagem?

Para ser sincero eu nem lembro exatamente como foi, mas minha mãe gostou. Falou: “Que bacana, vai ser uma história maior”. Ela ficou animada.

Você será capa da revista Junior, voltada para o público gay, em setembro. Você não teme ficar marcado pelo personagem?

Eu acho que não. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Isso é burrice. Não é o Julio, é o personagem. O tesão que o personagem sente não é o tesão que o Julio sente. A Junior é uma revista respeitada e era um momento bacana para fazer esse ensaio, que é artístico, não é vulgar.


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Julio Oliveira, que faz um gay em Sangue Bom, conta sobre o preconceito dos pais com a profissão de ator

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