Em um texto intitulado Miley Cyrus Não Precisa de Cartas Abertas, a escritora e ensaísta Roxane Gay discute, na prestigiada revista eletrônica Salon, o porquê das mulheres jovens serem sempre julgadas e a cantora é apenas a bola da vez. Ela se refere à carta aberta que Sinead O’Connor publicou na rede social pedindo para a ex-Hannah Montana não deixar “a indústria prostituir você”. E depois toda a avalanche de cartas abertas direcionadas para Miley Cyrus.

“Não acredito que Cyrus é diferente da maioria das mulheres jovens. Antes dela, estávamos sem fôlego dissecando Britney (Spears), Amanda (Bynes), Selena (Gomez), Christina (Aguillera), Demi (Lovato) e Rihanna. Jovens mulheres famosas estão desproporcionalmente sujeitas às nossas opiniões, porque testemunhamos as suas chegadas à vida adulta. Para cada geração, há uma jovem famosa para julgar, como se o destino de toda a feminilidade estivesse nas mãos destas jovens”, escreve Gay.

E questiona de forma irônica: “Também é interessante o quanto nos sentimos tão compelidos a dissecar a vida de jovens mulheres, particularmente aquelas da esfera pública que se comportam de maneira provocante. Claro que nós sabemos o que é um comportamento sexualmente provocativo. Às vezes, a mulher é sexualmente provocante porque ela assim quer. O que essas jovens estão fazendo? O que elas estão vestindo? Quem elas estão namorando? O que seus pais pensam disso? Por que elas não têm respeito próprio? Nós gostamos de pensar que somos progressistas e evoluídos, mas ainda julgamos o comportamento das mulheres jovens com um padrão bastante rígido”.

Mas Roxane é também bem crítica com a cantora norte-americana:  “O’Connor oferece para Cyrus um conselho maternal (em sua carta aberta para a cantora). Mas é interessante que ela está alertando Miley contra a participação em sua própria forma de se tornar um objeto sexual, em vez de, reconhecer que o verdadeiro problema da nova imagem do Cyrus é com a exploração de certos aspectos da cultura negra visando apelo, lucro e ganhos pessoais”.

E diz claramente: “Isto não é uma defesa de Miley Cyrus. Acho sua personalidade atual desconcertante e sua nova música intragável”.

Por fim, Roxane conclui: “Se esta é a defesa de alguma coisa, é uma defesa das escolhas que fazemos durante os nossos vinte anos, algumas das quais são desesperadamente mal aconselhadas, mas que fazemos mesmo assim. Rejeito a ideia de que quando as mulheres jovens fazem escolhas com as quais não concordamos, elas estão agindo sem autonomia. Apesar de eu não concordar com suas escolhas, eu suspeito que Miley Cyrus (ainda que ela também esteja sendo explorada) sabe o que faz e por quê”.


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‘Para cada geração, há uma jovem famosa para julgar’, diz escritora sobre Miley Cyrus