“Mulheres à beira de um ataque de nervos” ou “Mulheres alteradas”. Tanto o título do filme dirigido por Pedro Almodóvar quanto o da série de quadrinhos da cartunista argentina Maitena cairiam bem para uma onda que está ganhando força no YouTube: a das videologgers brasileiras reclamonas.

Se 2010 foi o ano em que pessoas como Felipe Neto e PC Siqueira ganharam destaque no YouTube com seus vídeos pessoais em que faziam pequenas crônicas sobre o cotidiano,  2011 promete ser um ano em que  essa tendência estará ainda mais forte. Essas mulheres que o digam.

Sem conhecimento de edição ou uso de câmeras que filmam em HD, as brasileiras resolveram pôr a boca no trombone dentro do portal de vídeos do YouTube para reclamarem sobre seus direitos. O exemplo mais famoso é de novembro, com Tutta Luana e sua crítica ao sistema do jogo social “Colheita feliz” (assista aqui).

Espécie de Luiz Carlos Alborghetti com Celso Russomano, ela punha o dedo na direção da filmadora sem vergonha alguma. Deu certo e rendeu uma série de filmetes em que mostrava sua insatisfação com o Shoptime, a Lacta e outras empresas.

A mais nova representante da “classe” é a artista visual Mariana Massafera, de 26 anos. Moradora de Cambuquira (MG), ela chamou a atenção nesta semana ao demonstrar na web sua fúria contra a produtora que vende os ingressos para os shows do U2 no Brasil, agendados para 9, 10 e 13 de abril do ano que vem.

O sotaque caipira (“porrrrcaria”) e o texto inspirado fizeram o vídeo aparecer em blogs, jornais e subir na lista de mais assistidos do YouTube. “Foi o primeiro. Eu ia fazer quando não consegui ingresso para o primeiro show.  Mas quando disseram que teria o segundo, pensei ‘ah, deixa quieto, compro ingresso agora’. Mas como o problema da compra e dos cambistas foi ainda pior, eu decidi gravar e postar”, ri a mineira, ainda surpresa com a repercussão que o material teve.

“Como meus vídeos (anteriores) são vistos por poucas pessoas, eu achei que ia ficar por ali mesmo, e que só um ou outro fã de U2 na mesma situação que eu fosse ver”, admite.

Mariana admite que os trejeitos e a maneira de falar foram copiados de Tutta Luana. Essa, aliás, é um grande exemplo de como a fama sobe a cabeça: após figurar no topo do YouTube, declarou-se uma “webdiva”, criou blog (http://webdiva-tulla-luana.blogspot.com/) e posta praticamente todo dia um novo vídeo gravado por seu marido.

As reclamações, quem diria, deram lugar a agradecimentos e beijos aos fãs, assim como sorteios de brindes distribuídos por algumas empresas.

“Acho que o que faz sucesso não é exatamente o protesto em si. O pessoal vai pro YouTube e não quer ver coisa séria, quer ver gente sendo ridicularizada, e quer ridicularizar também. Acho que eu dei sorte de a maioria ter entendido que, apesar do tom tosco do vídeo, o assunto ali não é tão banal”, teoriza Mariana.

“Eu quero continuar postando aleatoriamente, mas no formato de vlog. Não quero focar só em reclamação não, pois vão continuar me chamando de mal amada, aí não”, ri. “Não é sempre que eu reclamo das coisas. Esse dos ingressos foi bem um momento bizarro de desabafo”, complementa ela, que jura que não tentará comprar um ingresso para o terceiro show da banda de Bono e companhia no dia 13 de abril de 2011.

“Falei sério no vídeo. Desisti. Eu queria muito ver não só U2, mas o Muse. Mas desisto, show nenhum vale fazer tanto papel de palhaço. Depois de virar um ‘viral tosco’, então, pior ainda”, explica.

Tutta Luana, querendo ou não, por ser pioneira colhe (sem trocadilhos) os frutos da reclamação de dois meses atrás. Seus vídeos, hoje, possuem publicidade e ela se dá ao luxo de não aceitar comentários neles. Muito provavelmente por não aceitar as gozações que recebe – ela prefere espinafrar seus detratores em seu videolog.

Mariana diz que já recebeu conselhos de seguir com as reclamações e fazer do YouTube uma vitrine para ganhar dinheiro dentro e fora dele – Felipe Neto ganhou um programa no Multishow, enquanto PC Siqueira é colaborador da MTV, por exemplo.

“Eu não sei exatamente o que faz ou quanto ganha um vlogger. Tem gente que já me falou ‘você podia ganhar dinheiro com isso’. Ainda não descobri como. Se eu conseguir descobrir, ótimo! Assim vale mais a pena pagar mico”, ri.


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Videologgers brasileiras fazem sucesso com 'pitis' no YouTube