O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, discorda de analistas que projetam elevação da taxa básica de juros (Selic) no próximo ano, entre outras razões, por causa das eleições.“Não compactuo com esse pensamento de que inevitavelmente no ano que vem as taxas vão subir.”

De acordo com Oliveira, não há espaço no ambiente econômico atual para alteração na tendência dos juros. Ele lembra que a inflação não é uma preocupação, com os índices no atacado, por exemplo, controlados e consequentemente no varejo.

Segundo o analista, para que haja elevação dos juros, duas situações deveriam ser levadas em conta. Uma seria uma projeção do câmbio que provocasse elevação nos preços. Mas nesse caso está ocorrendo o contrário: o dólar está caindo cada vez mais e chegou a patamares abaixo de R$ 1,90. A outra envolveria os índices de preços do atacado, que se refletem nos preços do varejo no futuro e estão com deflação.

“Ainda poderíamos ter outro fator, que seria uma pressão muito forte de demanda. Ou seja, se o pessoal realmente comprasse muito, houvesse muita procura por produtos. Mas nós não temos pressão”, assinalou.

O analista acrescentou que a demanda tem crescido, mas de forma contida. Ele destacou como fator inibidor da elevação dos juros o fato de a taxa básica continuar muito elevada, mesmo com a redução da última quarta-feira, quando passou para 8,75%.

“Só teria sentido acontecer isso, se nós tivéssemos uma pressão muito grande por conta da elevação do preço do petróleo no mercado internacional, pela alta do dólar, pela volta da crise ou por uma falta de confiança muito grande. Isso não está previsto no horizonte,” comentou.

Mesmo assim, ele acredita que a redução da taxa básica passará a ser menor. Para ele, este ano promete mais dois cortes de 0,25 ponto percentual, levando a taxa a 8,25% ao ano até dezembro. Para Oliveira, esse seria o piso, entre 8% e 8,5%. “Que convenhamos, ainda é muito alta se comparado a outras economias estáveis. Então, precisamos rever isso.”

Outra questão é a fuga dos investidores para a caderneta de poupança. A redução da taxa básica, que de janeiro para cá já sofreu cinco cortes, passando de 13,75% ao ano para 8,75% ao ano, tem preocupado o governo com a migração das aplicações dos fundos de renda fixa para a poupança. Esses fundos aplicam em títulos do governo, que são remunerados pela Selic e pagam impostos. Já a poupança, apesar de oferecer rendimentos menores, é isenta.

“Não acho que ela possa cair mais por conta da questão da própria poupança. A queda da rentabilidade dos títulos públicos pode fazer com que se migre das aplicações dos fundos para as poupanças, o que seria um problema para o governo para financiar a dívida pública”, disse Oliveira.


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Analista discorda que ano eleitoral vá provocar alta dos juros