Chovia. Era uma quinta-feira mezzo fria em São Paulo e eu e meu Moço esperávamos a resposta do baterista de nossa banda Oneyedcats, James Müller, que também é percussionista do Funk Como Le Gusta. Resposta de que, mesmo? Sim ou não para nossos nomes na lista de convidados do Bourbon Street, onde tocaria FCLG e Galactic, uma banda gringa com influências de funk – era o que eu sabia até o momento.


 


Liguei tarde demais e essas coisas não são assim, sabe. Estávamos em dívida de ver um show do James e também queríamos ver a banda – que, depois, descobri ser de New Orleans. Porque eles eram de  New Orleans, o lugar que mais quero conhecer no mundo inteiro e tinham as mesmas referências musicais que eu. Pronto. Fui ao myspace e lá o trombonista Corey Henry declarava: eu praticamente nasci na música. Já era o suficiente para querer conferir de perto.


 


Escolhi  nem ouvir antes preferindo me surpreender – para o bem ou para o mal. Finalmente recebi a mensagem no celular de James: “Entrem como Adriana Alves +1. Mas parece que a banda não conseguiu chegar ao Brasil”. Aiaiai, pensei. Porque ando muito zicada. Tive uma entorse no pé, um quadro caiu no meu nariz enquanto eu copulava, quase perdi minha sanidade de vez e meus sisos estão nascendo por todos os lados da boca, além de outras coisas que não interessam ao senhor leitor. Quer dizer, quem não acredita em inferno astral que vá pro inferno de verdade, onde quer que ele fique. Porque viro balzaca dia 26.



O táxi chegou e fomos, eu meio aleijada pela tal da entorse seriíssima no pé, andando com uma muleta só e dependurada no Moço do outro lado. O show do Funk Como Le Gusta ocorreu sem incidentes. O boato entre os jornalistas era que Cookie, baterista do FCLG, tocaria no lugar do baterista do Galactic – que ninguém sabia explicar porque não estava lá. Buenos, fiz James me apresentar ao manager da banda, que me explicou a história direito. O baterista fora roubado por algum hermano. Seu laptop, seu ipod, e, principalmente, seu passaporte. Neste momento ele ainda deve estar em Buenos Aires tentando resolver este problema.


 


A questão é: não houve show. Não houve Cookie nenhum tocando, apenas uma discotecagem óbvia com hits óbvios e uns caras numa mesa ao lado me servindo doses de fartas de Jack Daniel’s. O show não existiu. Conversei com os caras da banda depois do anúncio do não-show e eles só conseguiam ficar frustrados e balançar as cabeças. Imagine vir até o Brasil para não tocar. Manquei mais um pouco pelo Bourbon, que é um espaço sensacional mas não justifica R$ 350 reais de entrada, e vim para casa, para a cama, de onde escrevo não tão frustrada quanto os caras da banda, mas bem decepcionada por perder um show inusitado que adoraria ver. Agora vou ter que ouvir no MySpace. A teoria é que minha zica está se espalhando mundialmente, da Praça Rusvel a Buenos Aires. Quem tiver telefone de mãe-de-santo, favor entrar em contato.
 
• Nota: Esta é a segunda vez que começo um texto com “chovia” para desbancar a teoria de que qualquer coisa que comece assim é uma porcaria. Na primeira vez nem chovia. Mas hoje sim, hoje chovia.



Site oficial do Galactic: http://www.galacticfunk.com


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Clarah Averbuck: Galactic - O Show que Não Houve