O Deep Purple encerrou na noite deste sábado (7), na casa noturna Via Funchal, mais uma passagem por São Paulo. E, provavelmente, continuará a vir a nosso País quantas vezes puder. Basicamente, por dois motivos: a) no Brasil, eles ainda possuem uma grande legião de fãs – a maioria, de jovens que nem eram nascidos quando o grupo lançou seus discos mais fundamentais, como In Rock (1970) e Machine Head (1972); b) driblando todos os clichês da associação entre rock e juventude, continuam fazendo um show de cair o queixo, aliando performances instrumentais absurdas, simpatia e bom humor.

Há ainda outro componente que faz a gente apostar que, mesmo com idades na casa dos sessenta anos, o quinteto hoje formado por Ian Gillan (voz), Steve Morse (guitarra), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria) e Don Airey (teclados) ainda vai prosseguir tocando seu hard rock mundo afora por um bom tempo: a alegria estampada nos rostos deles por estarem juntos na mesma banda. O clima de amizade entre os músicos é nítido, seja nas palmas que Gillan bateu para Morse durante Hush ou nos papos que batem, com direito a risos e piscadelas, ao mesmo tempo que tocam as músicas.

A vontade do Deep Purple em estar em cima do palco – ainda mais para um público que praticamente lotou o Via Funchal e deu um show de animação, com direito a “ô ô ô” em volume alto o suficiente para encobrir o som da banda em trechos de Smoke on the Water e Black Night – era tamanha que Gillan, mesmo bastante gripado e tossindo, tentou ao máximo soltar seus agudos, meio sem sucesso. Mesmo assim, palmas para o tiozinho, que deu uma baita aula de profissionalismo.

Se, por culpa da doença, o vocalista não esteve no auge de sua performance, o resto do grupo compensou: é impressionante como Glover, Morse, Airey e Paice executam seções instrumentais complicadíssimas com precisão e sem o menor esforço, mas com muito bom gosto. Até os solos de bateria, guitarra e teclado, normalmente a parte mais chata de um show de rock, são criativas e até engraçadas – há partes de jazz, salsa, blues e músicas de Ozzy Osbourne, Led Zeppelin e até Tom Jobim e Aquarela do Brasil.

Nessa praia, o destaque especial vai para Morse, que apesar de ter seu virtuosismo criticado pelos fãs mais xiitas, mostrou que tem, sim, feeling: algum desses guitarristas shred que existem por aí são capazes de criar um solo tão cheio de sentimento quanto o de Sometimes I Feel Like Screaming, um dos pontos altos do show?

Quanto ao repertório, houve espaço para músicas menos conhecidas, como Into the Fire, do álbum In Rock, e Rapture of the Deep, faixa-título do último disco da banda, lançado em 2005. Mas é claro que todo mundo vibrou mais com os clássicos de sempre: além das músicas já citadas, Highway Star, Strange Kind of Woman, Perfect Strangers, Lazy, The Battle Rages On e Space Truckin’.

Nessas horas, não tem como negar que baixou uma certa preguiça de ouvir músicas que, às vezes, cansam de tanto martelar em rádios e bares de rock. Mas, enquanto houver moleques de 14, 15 anos, muitos deles acompanhados pelos pais, pulando como se seu time de coração tivese marcado um gol na final do campeonato, eles continuarão a tocá-las. E muita gente continuará a assisti-los.

Repertório:

Highway Star
Things I Never Said
Into the Fire
Strange Kind Of Woman
Rapture of The Deep
Ted the Mechanic
Sometimes I Feel Like Screaming
Contact Lost
The Well-Dressed Guitar
Lazy
The Battle Rages On
Perfect Strangers
Space Truckin’
Smoke On The Water

BIS
Hush
Black Night


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Deep Purple em SP: nada de novo, mas a qualidade permanece