Em tempos de desilusão com a política tradicional, não é exagero considerar que o Partido Pirata do Brasil surge como uma nova maneira de pensar o país e os problemas modernos.

Desde o final de 2007, o coletivo formado basicamente por jovens entusiasmados por tecnologia reúne cada vez mais força em defesa da liberdade de circulação de informação e conhecimento através da Internet. Aparentemente, estamos diante de um coletivo que tem uma luta específica, segmentada. Mas não é apenas isso.

Filhos legítimos da globalização e da sociedade da informação, e conectados a uma tradição ancestral, a preocupação desses geeks pode ser compreendida através das recentes batalhas jurídicas entre a indústria do entretenimento e as redes de compatilhamento de arquivos. A primeira delas ocorreu com o Napster. E a última com o site The Pirate Bay. Foi justamente este simbólico episódio que serviu de estopim para o início do movimento dos auto-entitulados piratas da web.

Da Suécia, o Partido Pirata rompeu as fronteiras e, quase que como uma mensagem pela liberdade de informação, ganhou núcleos pela Europa, Oceania, Ásia e América. No Brasil, os piratas sustentam o rótulo de partido como parte do movimento internacional, mas sabem que ainda não atingiram as burocracias necessárias para a oficialização de uma legenda política no país.

Fortalecimento

Fundado oficialmente no dia 1º de janeiro de 2006, o Partido Pirata sueco cresceu rapidamente e, com quase 50 mil membros, já ocupa o posto de terceira maior legenda do país em número de filiados e o maior núcleo jovem entre os partidos da Suécia.

Com tantos apoiadores, os piratas passaram a participar ativamente de eleições e processos políticos. E a mais recente vitória foi a conquista de uma cadeira nas eleições deste ano para o Parlamento Europeu.

Mas as vitórias não ficaram apenas na Suécia. Os piratas da Alemanha também oficializaram um representante, desta vez no Parlamento Federal alemão. Jörg Tauss, que fazia parte da cúpula do Partido Social Democrata, entrou em conflito com os seus colegas por não concordar com a política de censura da internet adotada pelo partido e mudou para a legenda dos piratas.

Identidades preservadas

O anonimato é característico da Internet. O movimento ainda é incipiente, sem uma estrutura organizacional definida e não se pode mensurar seus impactos no Brasil. Por essas e outras que a “voz” dos piratas ainda é impessoal. Mas há quem revele a identidade escondida por trás de nicknames e codinomes.

Leandro Chemalle é um deles. Aos 30 anos, ele estuda Sistemas da Informação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e trabalha como analista de TI da Universidade Federal do ABC.

“Meu primeiro contato com o Partido Pirata foi através de uma comunidade de software livre. Eu participava de uma rede que discutia a liberdade do conhecimento quando algumas pessoas divulgaram sobre os piratas. E desde o começo do ano estou envolvido nessa iniciativa. O primeiro contato efetivo que tive com essa turma foi durante a Campus Party”, explica.

Assim como Chemalle, Rafael Polo, estudante de Ciência da Computação, também participa das discussões do Partido Pirata. Polo, natural de Nova Friburgo (região serrana do Rio de Janeiro), é assumidamente um dos primeiros membros da vertente tupiniquim do movimento e se orgulha de estar em contato direto com os integrantes suecos que oficializaram e criaram a ideologia dos piratas.

“Além de ter acesso ao servidor do partidopirata.org na máquina dos suecos,  ajudei a levantar o primeiro fórum quando eramos menos de 35 na lista de discussão por e-mail. Ainda temos muito o que fazer…”, disse Polo.

Reescrevendo um conceito

Se o rótulo de “partido” é muito mais uma questão de tradição do que uma luta política nos moldes tradicionais, o termo “pirata” não faz apologia à pirataria. Segundo eles, a pirataria realizada por camelôs, falsários e contrabandistas, que lucram através da venda da produção de artistas, atores, produtores e empresários, deve ser condenada.

“A Internet nasceu livre. Não é justo que alguém se apodere dela. Isso não quer dizer que somos contrários à venda de músicas em MP3, por exemplo. Mas somos favoráveis a sua livre circulação na rede”, pondera Chemalle.

Questionado pela reportagem do Virgula, os membros do partido pirata responderam através de um wiki [modelo colaborativo que permite a edição coletiva de textos e documentos] que “ser um pirata é ser livre, é defender a liberdade do conhecimento, do compartilhamento de arquivos e ser contra qualquer tipo de controle de redes de comunicação ou o cerceamento ao acesso ao conhecimento”.

E eles ainda procuram resgatar o conceito original do que é ser pirata – “Em uma visão tradicional, nós temos como pirata o rótulo do bandido colonial, que foi a visão passada pela elite da época e que ficou marcada na história. Porém, quem estudou as sociedades piratas viu que existia muito do conceito de ‘troca’ entre seus membros. […] Há muito de ‘pirata’ no que fazemos hoje em dia com relação a internet”.

Apoio importante

Em abril desde ano, Paulo Coelho, um dos escritores brasileiros mais bem-sucedidos na história, declarou apoio aos piratas e se ofereceu para viajar à Suécia para ajudar o The Pirate Bay, julgado por facilitar a violação de copyright.

O autor de O Alquimista, livro que vendeu 65 milhões de cópias, disse acreditar “que quando um leitor tem acesso a alguns capítulos ele pode decidir por comprar o livro mais tarde”. Segundo Coelho, disponibilizar seus livros na Internet apenas melhorou a venda de suas obras.

O brasileiro mantém o blog “Pirate Coelho” onde disponibiliza gratuitamente suas obras em diversos idiomas.

Em entrevista para o jornal O Globo, o escritor disse ainda que trocar informações faz parte da condição humana. “Uma pessoa que não troca não é apenas egoísta, mas amarga e solitária”.


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