“E com vocês, a apresentadora de TV Clarrá Averbück”!, disse Clodovil na minha primeira entrevista de divulgação do meu romance primogênito, “Máquina de Pinball”. Eu vestia um jeans meio desfiado, uma bota horrenda e uma camiseta do Bukowski.

Quando surgi, com toda minha ginga e charme, ele me olhou como se tivesse me tirado do nariz. Ele usava um terno de linho com ombreiras, ostentava um bronzeado de spray e usava um gloss rosado. Eu inclusive não prestei muita atenção em algumas perguntas devido ao figurino e produção dele. Eram ombreiras, afinal. E gloss.

“Eu não sou apresentadora de TV. Sou escritora. Este é meu primeiro livro”

Ele deu aquela olhadinha pra produção e pegou meu livro como quem pega um lenço empapado em muco.

“Sua bunda está meio grande, né?”

“Cuida da sua bunda que eu cuido da minha. Estou feliz com ela.”

E foi daí para o ralo. Eu só realmente fui ao programa porque ofereciam um jantar no final e eu passava por uns dias bem duros, de miojo e barras de cereal. Ele fez perguntas como “O que você faria se o seu pai virasse gay” e eu o tirei do sério com “desde que ele não estivesse sacaneando a minha mãe…”  Aí ele se irritou. “AI, você é muito blasé, não se abala com nada!”

Eu estava esperando mesmo a hora da janta. Que foi um peixinho francês mirrado com umas uvas que meu paladar não entendeu. No fim ele me deu um buquê de flores com cara de quem estava me dando um pacote de excrementos que dei para a primeira senhora que passou na rua. Descanse em paz, meu filho.


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Homenagem: Clarah Averbuck fala sobre seu encontro com Clodovil