Uma pesquisa realizada pelo pesquisador Paulo Barni, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), demonstra que a pavimentação da BR 319, que liga Manaus a Porto Velho, pode trazer graves prejuízos até mesmo para regiões que estão afastadas desse projeto.  Segundo o estudo, os impactos podem desencadear um “efeito dominó” e chegar até o sul do Roraima fazendo com que o desmatamento aumente em até 42% em 2030.  Outro megaprojeto que pode aumentar ainda mais a devastação são as hidrelétricas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau), em Rondônia.

Utilizando os dados do Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), Barni fez duas projeções.  O aumento de desmatamento com a reconstrução da rodovia fará a devastação aumentar entre 18 e 42% no sul do Estado de Roraima em 2030, e ampliar as emissões de carbono para a atmosfera em percentuais semelhantes (entre 19 e 42%).  As emissões, ao longo dos 23 anos de simulação, que totaliza 23,9 milhões de toneladas de carbono, representa três anos de emissão da grande São Paulo hoje.

Em sua pesquisa de campo foi possível encontrar uma série de irregularidades, como a situação fundiária caótica, inclusive com invasões de terras, grandes desmatamento para criação de gado, fazendeiros que derrubaram a floresta para abrir pastagens além de conflitos pela terra.  Segundo Barni, já existem esses problemas sem a estrada.  “O que vier a mais já vai ser um agravante e com certeza poderá causar grandes impactos ambientais e aumento nos índices de desmatamento e emissões de gases de efeito estufa na atmosfera”, explica.

Para realizar os estudos o pesquisador utilizou dados já existentes e fez projeções em cima do desmatamento na região.  “No meu ponto de vista, essas previsões ainda estão bastantes conservadoras”, diz Barni.  Ele afirma que o governo incentivou a migração no final da década de 1990 fazendo projetos de assentamentos: as pessoas eram atraídas por incentivos financeiros e passagens que eram pagas pelo governo.

De acordo com o pesquisador, os índices de desmatamento seriam maiores.  “Na verdade as pessoas que são expulsas da região do Arco do Desmatamento (Rondônia, norte do Mato Grosso e Pará) vão pegar a 319 para migrarem a outras áreas.  Elas tem uma capacidade de destruição muito maior do que aqueles que o governo do Estado de Roraima, em um passado recente, atraiu pra lá”, afirma.  Essas pessoas, segundo Barni, não são mais os migrantes pobres, com poucos recursos e que não destruíam a floresta.  “O agronegócio e a pecuária extensiva estão crescendo, ou seja, eles estão vendendo lotes em Rondônia e com esse dinheiro triplicam suas áreas comprando no sul de Roraima”.

Outra agravante seria as usinas hidrelétricas do Rio Madeira.  Com o término da construção das barragem existirá um grande número de trabalhadores desempregados que irão engrossar o fluxo de imigração esperado, principalmente caso a estrada já esteja pavimentada, facilitando o acesso pelas regiões da Amazônia.

Segundo ele, a alternativa que se mostra mais viável dentre as propostas para transporte na região é a elaborada por Phillip Fearniside que fez um estudo para capotagem.  “A produção do PIM (Pólo Industrial de Manaus), seria embarcada em navios que desceriam o rio Amazonas e depois contornariam a orla marítima, chegando até o Porto de Santos.  Isso seria transporte de capotagem, ou seja, dentro do próprio País.  Esse seria o modal mais barato, até mais barato que a ferrovia”.

História

A BR-319 foi construída e asfaltada na década de 1970 e hoje possui um trecho de 405 quilômetros intransitável.  A reconstrução da estrada está prevista dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, mas ainda aguarda o licenciamento ambiental.


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Pavimentação da BR 319 e construção das usinas do Madeira podem levar impactos até Roraima