A secretária estadual de Ambiente, Marilene Ramos, se reúne hoje (6),
às 10h, com o prefeito de Angra dos Reis, Tuca Jordão, na prefeitura do
município. Segundo nota divulgada pela Secretaria de Ambiente, na
reunião os dois deverão conversar sobre a situação da cidade, atingida
por fortes chuvas no fim da semana passada.

Também participará da reunião a secretária estadual de Assistência
Social, Benedita da Silva. Uma das questões que deverá ser tratada na
reunião, segundo o vice-prefeito de Angra, Essiomar Gomes, é a ocupação
irregular das encostas do município.

A ocupação irregular de encostas é apontado como um dos motivos que
levaram aos deslizamentos de terra que mataram pelo menos 52 pessoas,
durante as chuvas, nos morros da Carioca e na Enseada do Bananal, em
Ilha Grande. Os desmoronamentos também atingiram vários morros e
estradas de Angra.

O prefeito Tuca Jordão publicou decreto na última segunda-feira (4),
proibindo novas construções em morros da cidade. Por isso, qualquer
projeto de construção ou ampliação de casa terá de esperar um estudo
específico sobre o solo dos morros.

História da Rio-Santos é a crônica dos deslizamentos de terra

A ligação rodoviária entre o Rio de Janeiro e Santos, concluída efetivamente em 1971 em seus mais de 500 quilômetros (km), é a crônica de erros repetidos com perseverança e muita teimosia, como se depreende dos registros históricos e da lembrança de antigos engenheiros que acompanharam a construção dessa estrada, vítima de deslizamentos de encosta a qualquer chuva mais forte.

É o caso de Geraldo Gayoso, de 81 anos, atual diretor técnico do Píer Mauá, consórcio que administra o Porto do Rio de Janeiro, testemunha da insistência de autoridades municipais e federais em construir a estrada em terreno francamente adverso e da maneira menos recomendada.

“A estrada atravessa áreas de taludes muito inclinados e com vegetação muito densa. Para fazer a obra, desmatou-se e cortou-se a serra, construindo-se platôs de concreto para o leito da estrada”, lembra o engenheiro.

O resultado foi o enfraquecimento do terreno pela retirada da vegetação natural e a sobrecarga do solo abaixo dos platôs, o que reflete nos deslizamentos e nos rompimentos do asfalto nas épocas de chuvas. Há meio século, as técnicas de engenharia não permitiam prever problemas que hoje parecem óbvios, mas a estrada foi aberta em ritmo lento, ao longo de décadas e décadas, até o ano de 1971, o que permitiria correções, observa Gayoso.

“O projeto original estava errado a partir da opção do desmatamento e dos platôs. A estrada deveria abrir túneis na rocha e viadutos onde fosse possível. Isto, com as obras de geotécnica para a contenção de encostas, seria a opção correta e até mais barata, considerando-se os prejuízos materiais e as perdas humanas dos deslizamentos e rachaduras na estrada”.

Não é uma coincidência o fato de a abertura da Rio-Santos ter inaugurado, também, o desenvolvimento urbanístico de Angra dos Reis e Paraty. Até então quase inacessíveis, as duas cidades experimentaram, a partir dos anos 70, um grande crescimento imobiliário.

Foi no governo Juscelino Kubitschek que alguns trechos da Rio-Santos começaram a rasgar a serra, serpenteando nas alturas, bem junto ao mar. A motivação principal dos prefeitos da região era integrar-se à onda desenvolvimentista nacional, vencendo as dificuldades topográficas com os instrumentos de que dispunham.

Nos primeiros anos do regime militar, a pressão municipal sobre o governo federal se fez mais forte, baseada na nova ordem e no seu caráter autoritário e centralizador. O então Ministério de Viação e Obras Públicas, hoje dos Transportes, era chefiado pelo general Juarez Távora, da inteira confiança do general-presidente, Castello Branco. Geraldo Gayoso, secretário particular do ministro, conduziu ao gabinete um grupo de oito prefeitos da região sul-fluminense, eles queriam verba para concluir a Rio-Santos.

“Juarez deu um soco na mesa e encerrou a reunião com dois argumentos: primeiro, os prefeitos já estavam servidos pela Via Dutra, pela ferrovia Rio-São Paulo e pelos portos de Santos e do Rio de Janeiro. E, segundo, não respeitavam a origem nordestina do ministro, do interior cearense, onde não havia estrada nem para a população buscar água”.

Alguns anos depois, a argumentação se revelou frágil diante da sede desenvolvimentista do regime militar, sobretudo do Programa Nuclear cujas usinas estavam previstas para Angra dos Reis. A ligação rodoviária Rio-Santos deixou de ser reclamação de uns poucos prefeitos e se tornou imposição estratégica.

Uma vez aberta, a estrada trouxe o turismo, a ocupação do solo e a explosão imobiliária, para Angra dos Reis, fundada em 1502 e que viveu épocas de apogeu no ciclo do ouro e depois no ciclo da cana-de-açúcar, até a libertação dos escravos. Cidade que a partir de 1888, voltou ao sossego natural, interrompido em definitivo na década de 1950.


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Secretária do Ambiente se reúne com prefeito de Angra para falar sobre desastre

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