Se você é fã de filmes como Flashdance e Dirty Dancing, polainas e cabelo mullet, então os anos 80 fazem parte da sua religião. E a música Beat Acelerado certamente já tocou no seu som, seja ele um walkman original de época ou um iPod novinho.

Beat Acelerado foi um dos vários hits do grupo Metrô, banda formada em meados dos anos 80 que tinha como líder uma vocalista de timbre suave e pinta de princesa. De origem francesa, a cantora Virginie virou namoradinha do Brasil, tocando à frente da banda, que mesclava influências de tecnopop e new wave com letras ingênuas cantadas num português levemente carregado de sotaque.

Antes do Metrô, Virginie e os outros quatro integrantes (o guitarrista Alec Haiat, o tecladista Yann Lao, o baixista Zavie Leblanc e o batera Dany Roland, único brasileiro do grupo) tiveram outra banda, A Gota, que no final dos anos 70 fez sucesso no circuito de festivais estudantis e festinhas de modernos. O grupo chegou a lançar um LP em 1984, pelo selo independente Underground, gravação que abriu portas para a CBS, então a maior gravadora do Brasil.

Das festinhas estudantis à rotina de sete shows por semana, foi um pulo. Virginie e sua banda viraram hit absoluto de Norte a Sul do Brasil. O primeiro disco, Olhar, lançado há quase 25 anos, tinha hits deliciosos que caíram forte no gosto do povo (Johnny Love, Sândalo de Dandi, Ti Ti Ti, Tudo Pode Mudar, Beat Acelerado). 

Vivendo em Diego Suarez, cidade no norte de Madagascar, Virginie lembrou os bons tempos nesta entrevista exclusiva ao Virgula. Leia a seguir:

Virgula – Como aconteceu a transição de banda desconhecida a hit das multidões?
Virginie – Formamos (a banda) A Gota no final dos anos 70, tínhamos então um público cativo que ia se formando devagarzinho. Uma delícia! Graças a um jovem mecena, dono de um selo independente, a quem serei eternamente agradecida, pudemos gravar um LP, A Gota Suspensa. Este LP saiu em 84 em duas ou três lojas de São Paulo e abriu as portas da CBS. Beat Acelerado foi peneirado do repertório bossa novista de Vicente França, com ajuda do faro de Luis Carlos Maluly (que logo depois também produziu o super sucesso do RPM, Radio Pirata). Maluly nos encorajou e principalmente nos ajudou a evoluir e transformar o som já bem pessoal do grupo num pop muito popular (redundância necessária). Com um refrão e uma excelente gravação, Beat… estourou em compacto duplo (o que é isto, vovó?).

Virgula – De quem foi a ideia de voltar a gravar um álbum com o Metrô, em 2002?
Virginie – A ideia estava no ar, no mesmo dia recebi dois emails de sumidos nas trevas do tempo: (o baterista) Dany me escrevia do Rio, e (o produtor) Maluly, de São Paulo. Na época, eu vivia em Nantes (França) com minha família.

Virgula – Vocês chegaram a ganhar bastante dinheiro, viveram as mordomias e loucuras das bandas de rock dos anos 80?
Virginie – Loucuras, sim. Viagens, gravações de programas de TV e rádio sem espaço para respirar. Muito prazer mesmo em dividir muita alegria no palco e na TV com um público cheio de energia, que até hoje me faz uma falta danada. Dinheiro? Alguma coisinha no bolso. Mas ao redor do sucesso do Metrô, muuuuita grana mesmo! Muita roubalheira de direitos autorais, vendas de discos e sei lá o que mais… Imaginem que segundo a CBS, o grupo, com seis músicas que se tornam hits em um só disco (Olhar), não teria vendido nem 100 mil cópias: humor negro. Tudo Pode Mudar era a mais executada depois de We Are The World. Fazíamos seis, sete shows por semana, pelos quais pagávamos direitos autorais de nossas próprias composições. Esta grana que supostamente deveríamos receber de volta… adivinha quantos abacaxis poderíamos comprar com a mixaria que uma vez em cada 50 recebíamos? Vinte anos depois, pouca coisa mudou. Mas pelo menos a tecnologia permite a artistas gravarem e serem ouvidos sem ser obrigados a obedecer aos mesmos velhos padrões totalmente gangrenados.
 
Virgula – Onde você vive agora? E o que está fazendo?
Virginie – Meu marido é diplomata, vivemos em Diego Suarez, cidade do extremo Norte de Madagascar, que é mesmo a ilha do amor. Pelo menos aqui em Diego a coleção de sorrisos é linda. Estou dando uma força, professora de primário no Liceu Francês.

Virgula – Este é o Ano da França no Brasil. Vocês não se empolgam em fazer alguns shows pegando esse gancho?
Virginie – Estou longe, mas sempre pronta, hehehe!

Virgula – Baladas trash de reverência aos anos 80 sempre tocam Metrô. O que você acha disso?
Virginie – Muito legal que continuemos a divertir e festejar juntos!

Virgula – Que moda dos anos 80 você ainda usaria hoje?
Virginie – Ainda uso cores vivas, saias tipo anos 60 que eu usava na época, cabelos descoloridos ou pintados de cores vivas me encantam. Não uso, mas adoro ver!

Ouça as músicas do Metrô no MySpace.





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Virginie fala do sucesso do Metrô 25 anos depois de Beat Acelerado