Nesta terça (22), o norte-americano Schoolly D (nascido Jesse B. Weaver, Jr.) completa seus 44 anos. No momento, você deve estar se perguntando: quem? Explica-se: o rapper da Filadélfia é talvez o primeiro gangsta rapper do mundo.

Em 1985, o músico lançou o compacto P.S.K. (What Does It Mean?), uma canção totalmente “fora da lei”. A música falava sobre estar em uma gangue (no caso a verídica Park Side Killers) e ganhar muita grana fácil, nem que seja “apagando” os seus rivais.

Os anos 80 foram muito duros para o gueto americano, com a chegada do crack, os cortes nos benefícios sociais do governo, o aumento da criminalidade e muito mais gente entrando em gangues, cada vez mais violentas.

Resultado direto: muito mais jovens negros indo para a prisão. Resultado indireto: o surgimento de um rap cujo foco fosse a “vida bandida”, ou seja, o gangsta rap.

Schoolly D foi o primeiro a retratar essa realidade abrutalhada de modo aberto, em primeira pessoa, de modo, digamos, “orgulhoso”. Não obteve os lucros milionários que os seus sucessores tiveram, mas foi a “faísca” necessária para os grupos que, mesmo de maneira extrema, mudaram a cara do hip hop para sempre. Para homenageá-lo, relembramos alguns ícones do gangsta rap.

Ice-T – A jornada do rapper não foi nada fácil. Após a morte prematura dos pais e uma dura passagem pelo exército, Tracy Narrow acabou em South Central e rebatizou-se de “Ice-T”. Morando sozinho e envolvendo-se com gangues, o cantor se encontrou no hip hop e inscreveu seu nome no gangsta rap. Ice-T retratava a vida difícil do “outro” lado de Los Angeles. A clássica Colours relatava a precariedade de viver no gueto: famílias arruinadas pela pobreza e pelas drogas e as gangues como única opção de sobrevivência.

N.W.A. – O Niggaz Wit Attitudes foi considerado nos anos 90 o grupo “mais perigoso do mundo”. Para se ter uma idéia, o selo Ruthless Records, do fundador do conjunto, Eazy-E (morto em 1995), foi montado com o dinheiro do tráfico de drogas. Formado pelos “figurões” Ice Cube, Dr. DreDJ Yella, e MC Ren, o N.W.A. lançou o clássico Straight Outta Compton, marco eterno do gangsta rap. O hit Fuck Tha Police irritou policiais, políticos e testou os limites da censura nos Estados Unidos. Vendeu milhões.

Geto Boys – O grupo de Houston, Texas, era um dos mais violentos do gangsta rap. Formado pelo anão Bushwick Bill, Scarface e Willie D, as letras do Geto Boys enfatizavam o lado “sangrento” do mundo das gangues. Letras retratando assassinatos brutais, bandidagem, drogas e letras macabras não impediram o trio de fazer sucesso e ir para o topo da parada americana com o hit Mind Playing Tricks on Me. A faixa é um relato pra lá de realista da vida de um jovem de gangue.

2Pac – Polêmico, inteligentíssimo, genioso e um dos maiores rappers que já passou pelo mundo. É o único artista da história a ter um disco em número nos EUA enquanto cumpria pena na prisão. Baseado na Califórnia, Tupac Amaru Shakur foi um dos causadores da rivalidade entre rappers da costa oeste e da costa leste dos EUA, que girava em torno de sua treta com o nova-iorquino Notorious B.I.G. Disposto a terminar com essa briga, o músico pretendia lançar um álbum para selar a paz entre os dois lados do hip-hop. Acabou assassinado em 1996 antes de completar o disco. Apesar de o pessoal de Notorious B.I.G. estar entre os suspeitos, nada foi provado e o caso permanece em aberto.

Notorious B.I.G.Christopher George Latore Wallace representa a máxima “você sai do gueto, mas o gueto não sai de você”. Ex-traficante no Brooklyn, em Nova York, Biggie sempre teve talento nato para a música. Mesmo após o sucesso estrondoso na música (chegou a fazer parceria com Michael Jackson), Notorious B.I.G. nunca se afastou dos parceiros das “antigas”. Em março de 1997, foi assassinado, privando o hip hop de um valioso artista. Seu caso não foi solucionado até hoje.

Snoop Dogg – Quem vê o rapper hoje em dia, fazendo sucesso, em programas televisivos e aparições no cinema, não imagina seu passado barra-pesada. Nascido Cordozar Calvin Broadus, foi preso aos 16 anos por trafico de cocaína e ficou seis meses em uma instituição para adolescentes nos Estados Unidos. Na Califórnia, se afiliou aos Crips (gangue clássica de Los Angeles, famosa pela sua rivalidade com os Bloods) e se encontrou no rap. Foi descoberto por Dr. Dre (ex-N.W.A.), que o chamou para cantar no clássico The Chronic, em 1992. Mesmo com o sucesso da estreia Doggystyle, em 93, Snoop enfrentava uma acusação de assassinato de um membro de uma gangue rival. Bad ass é pouco.

Coolio – O músico, batizado de Artis Leon Ivey, Jr., nasceu na Pensilvânia, EUA, mas se mudou para a “perifa” Compton, em Los Angeles, epicentro do gangsta rap. Na metade dos anos 80, arranjou problema com a lei devido a suas andanças com membros do Crips (a mesma de Snoop). Começou a fazer rap na mesma época, mas desistiu para traficar crack e cocaína. Preso e viciado em drogas, o músico aproveitou o tempo encarcerado para fazer rap. Logo depois, sua carreira deslanchou, principalmente com o hino Gangsta’s Paradise, um retrato realista (e deprê) deste mundo.

50 Cent Curtis James Jackson III representa a nova geração do gangsta rap. A história é a mesma: infância pobre, ex-traficante de drogas e cheio de inimigos na música. Apadrinhado por Eminem, 50 Cent quase teve o mesmo destino que os grandes gangsta rappers americanos. Em 2000, tomou nove tiros e chegou perto da morte. O ladrão foi identificado pelo rapper. Três semanas depois, o suposto bandido foi assassinado, sem testemunhas. Vingança?

Outros da fita gangsta: KRS-One, Rick Ross, Above The Law, Ice Cube, Kool G Rap, Mobb Deep, AZ, Wu-Tang Clan, Raekwon, Cypress Hill, Kid Frost, DMX, Onyx, Bone Thugs-n-Harmony.


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Primeiro gangsta rapper faz aniversário; relembre outros bad boys do hip hop