Óculos com o logotipo da Ray-Ban, lenço palestino na cabeça e ferramentas compradas no “suq” (mercado) são parte do equipamento do rebelde líbio perfeito, sem esquecer seu meio de transporte favorito: as picapes.

Ninguém esperava que o levante contra o regime de Muammar Kadafi em 17 de fevereiro desembocasse em uma guerra civil que levou cidadãos comuns, como o padeiro da esquina, o professor de árabe ou o oleiro se transformassem em vorazes combatentes.

Esses novos guerrilheiros, que tiveram de lançar mão da imaginação e da primeira coisa que encontraram como utensílios caseiros e armas tiradas dos seguidores de Kadafi, formaram-se sem teoria e foram diretamente à prática na universidade do campo de batalha, no meio do deserto.

Em um lugar remoto, perto de Bin Jawad, a cerca de 120 quilômetros ao leste de Sirte, reduto dos seguidores de Kadafi, os rebeldes Maadi Faturiya e Fathi Salaf, de 46 e 31 anos de idade respectivamente, se apressam para reparar uma bateria antiaérea em uma “fábrica de manutenção de armas”, como eles a denominam.

A “fábrica” improvisada fica em um caminhão desmontado, sem cabine e parte superior para instalar um teto com telhas.

Em frente ao caminhão há uma fila de seis guerrilheiros que esperam para limpar seus “kalashnikov” com gasolina. Cada um está vestido de uma maneira diferente: enquanto alguns usam uniformes militares de tipos distintos, outros usam calças jeans, camiseta de algodão e lenço palestino à cabeça, e inclusive não um ou outro traja bermudas.

“Aprendi a reparar armas aqui mesmo”, explicou à Efe Faturiya, ex-professor de Administração na Universidade de Benghazi, que acrescentou que está no centro de manutenção de armas há vários meses.

Faturiya e Salaf são observados atentamente pelo diretor da “fábrica”, Adel Shirsi, de 39 anos.

“Eu não faço nada, só olho porque sou o chefe”, brincou Shirsi, explicando que a cada dia entre dez e 15 armas pesadas são reguladas, além de dezenas de fuzis.

Shirsi assinalou que os caminhões e os uniformes foram doados pelo Catar, mas que o resto do material é “made in Líbia”.

“As ferramentas para trabalhar aqui compramos no mercado”, ressaltou o rebelde.

Perto da fábrica, há um jovem vestido com uniforme militar azul, lenço amarelo amarrado como um turbante na cabeça, chinelos e óculos de sol, que se identifica como Ali e que controla a passagem de veículos pela estrada.

Ali disse que aprendeu a usar o fuzil que leva em um centro de treinamento em Benghazi, capital da revolução líbia.

Enquanto isso, pela estrada não param de passar picapes, o emblemático veículo dos rebeldes líbios.

Sem dúvida, uma das imagens mais frequentes do conflito na Líbia é a dos revolucionários com suas barbas e óculos de aviador a bordo das picapes atrás das baterias antiaéreas, uma arma cujo uso lhes encanta demonstrar cada vez que algum jornalista se aproxima.

Os ônibus destrambelhados para transportar prisioneiros ou os próprios rebeldes são também frequentes nas estradas do leste do país. Alguns estão em tal mal estado, sem escapamento, vidros das janelas e paralamas, que é quase milagroso que se movimentem.

Mesmo assim, seja como for, com ou sem experiência, os rebeldes conseguiram derrubar Kadafi e talvez em breve poderão voltar para suas casas. 


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Como identificar um rebelde líbio