Se você perguntar ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sobre racionamento de água no Estado, ele vai dizer que a Sabesp é capaz de garantir abastecimento pelo Sistema Cantareira até o ano que vem e que não há a necessidade de rodízio. Dá a impressão de que está tudo sob controle. De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo publicada nesta segunda-feira (11), porém, 18 municípios já adotam racionamento. Um em cada 20 habitantes do Estado já está em rodízio.

E de quem é a culpa da maior crise de abastecimento de água do Estado? Apontar o dedo para São Pedro é fácil, mas os próprios paulistas têm uma parcela da responsabilidade. Mesmo com a campanha da Sabesp pela redução do consumo, as pessoas ainda lavam calçada, tomam banho de 20 minutos, desperdiçam água. Por nunca terem passado por uma crise como essa, os paulistas gastam mais do que deveriam. A falsa impressão de abundância de água é cultural e, por isso, é tão díficil mudar a mentalidade de uma hora para outra.

Outra parte importante da responsabilidade é do Governo do Estado. Alckmin assumiu o governo em janeiro de 2010, quando o Sistema Cantareira registrava 96% de sua capacidade. Um ano depois, diante de chuvas acima da média, as comportas do sistema tiveram de ser abertas pois o volume de água já superava 100% da capacidade. Se obras tivessem sido feitas para aumentar a capacidade da Cantareira, poderíamos ter aproveitado as chuvas de 2011. A crise talvez acontecesse de qualquer forma, mas seria mais amena. Essas obras foram previstas em 2004, durante a primeira gestão de Alckmin, quando a concessão da Sabesp foi renovada. No entanto, nada foi feito.

Agora que a crise já está instalada, não há muito o que fazer. A normalização do Sistema Cantareira está prevista para levar entre três e quatros anos, pois ela depende agora exclusivamente de um bom período de chuvas. O negócio, paulistas, é economizar.

Enquanto a capital não declara um racionamento oficial, o Virgula Inacreditável conta, a seguir, como algumas cidades no interior do estado estão lidando com o rodízio de abastecimento.

Itu


Em Itu, o racionamento de água ocorre há seis meses e a cidade passa por um momento bem ruim. Há cerca de um mês, a situação piorou e a cidade foi separada em dois grupos: alguns bairros recebem água em dias pares, e outros em dias ímpares, das 18h às 4h.

O problema é mais grave nas regiões mais distantes, pois a pressão d’água não é suficiente para levá-la até lá. Segundo matéria do Estado de S.Paulo, alguns moradores recebem água apenas uma vez por semana, em quantidade insuficiente. A concessionária Águas de Itu, que gerencia a distribuição de água na região, garante estar utilizando represas particulares e mais 80 poços artesianos para tentar reverter o quadro.

A manancial do Itaim, que abastece a região central, está operando com menos de 4%de sua capacidade, porém o consumo continua aumentando, segundo a Águas de Itu. “É essencial a contribuição dos moradores nesta estiagem, utilizando água apenas para necessidades básicas”, pede a empresa.

Valinhos

Em Valinhos a situação é bastante parecida: desde 7 de fevereiro a cidade está enfrentando um rodízio de abastecimento. No início do racionamento, a cidade foi dividida em 7 áreas, com cada região ficando sem água duas vezes por semana, durante 18 horas. Além disso, fiscais da prefeitura foram autorizados a aplicar multas de R$ 336,00 para moradores que fossem flagrados lavando carros e calçadas – e o dobro do valor em casos reincidentes. Apenas nessa primeira fase do racionamento, que durou 135 dias, foram economizados 945 milhões de litros de água, o suficiente para abastecer o município por 32 dias.

Desde 23 de junho o esquema continua quase o mesmo, apenas com a mudança no número de áreas – agora são 4 áreas, que continuam englobando toda a cidade.

Saltinho

A cidade de Saltinho, na região de Piracicaba, ampliou recentemente seu racionamento que começou também em fevereiro. Desde 28 de julho os moradores recebem água apenas 3 horas por dia, das 16h às 19h. O volume somado dos reservatórios Luiz Delfini e Rosa Zampaulo chega apenas a 10% da capacidade total.

A meta era atingir 30% de redução de consumo, porém após 5 meses de racionamento a diminuição foi de apenas 20%. Como em outras cidades, a orientação é que a população economize máximo de água que puderem.

Guarulhos

Em Guarulhos, pela Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), existe rodízio desde fevereiro para 210 mil moradores. A cidade é abastecida pelo Sistema Alto Tietê e pelo Sistema Cantareira.

Desde março, porém, 850 mil moradores sofrem com o rodízio que foi imposto pela Sabesp. Isso se deu porque a Saae compra da Sabesp quase 90% da água que distribui.

Assim como a Capital, Guarulhos adotou o sistema de descontos para quem reduzir o consumo de água – 30% de desconto para quem reduzir o consumo em 20%, e 10% de desconto para quem diminuir 10% o consumo.

Racionamento em São Paulo? 

Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), há evidências de que a cidade de São Paulo já esteja praticando o racionamento. Muitos paulistanos relataram ao Idec que pelo menos uma vez por dia ficam sem água, normalmente durante a noite.

A Folha de S.Paulo afirma em reportagem, com dados da própria Sabesp, que as medidas adotadas pela concessionárias são equivalente a um racionamento. Os dados mostram que o Sistema Cantareira deixou de produzir 8,5 mil litros por segundo – o suficiente para abastecer Guarulhos e Campinas.


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Rodízio de água já afeta 18 cidades de SP; saiba como quatro delas lidam com a crise