Lucio Mauro Filho


Créditos: Thiago Oliveira

Quem?!?! Ator e comediante.

O CLICHÊ
Emílio: Você está com a sua peça em cartaz que se chama “Clichê”. Mas o que é o clichê? Lucio Mauro: Bom, o clichê são aquelas expressões idiomáticas que todo mundo repete: “a torto à direita”…
Bola: O bordão.
Lucio Mauro: Os bordões e também as situações clichê também, porque existem clichês que obviamente não são falados, mas são situações, né. Como terminar um relacionamento, como blitz da lei seca… Tudo isso são situações clichês do cotidiano e a gente inventou um espetáculo onde toda a história é contada através dos clichês. Então são 600 clichês, desde o jornalismo, porque o jornalista precisa do clichê como o ar que respira, né.
Emílio: Para a manchete.
Lucio Mauro: Claro, o que seria de um jornal sem um “corpo crivado de balas”?
Amanda: “Brutalmente assassinado.”
Emílio: “O corpo estendido no chão.”
Lucio Mauro: Esse também já serve para o esporte. Pro Galvão Bueno.
Emílio: Isso!
Lucio Mauro: Então você tem o clichê em todos os setores da sociedade. Ninguém está imune ao clichê. E acho que o “barato” do espetáculo é justamente isso, porque a plateia começa rindo do comediante que está lá, faz as piadas e tal, mas, no decorrer da peça, elas começam a perceber que estão rindo de si mesmas, porque elas percebem que todas aquelas frases que eu estou dizendo, elas usam. Estão na “boca do povo”.

A PEÇA
Emílio: Eu estava lendo aqui que o palco da peça lembra o cenário de “Stand-up”, né? Porque não tem adornos, é só você no palco.
Lucio Mauro: Sou eu no palco. Eu e as palavras. Acho que o cenário desse espetáculo são as palavras e as situações que a gente acaba colocando em cena. Eu tenho um final de relacionamento aonde “ele”(o personagem) tenta terminar o relacionamento, mas não consegue fugir dos clichês, então vem aqueles clássicos: “O problema não é você, sou eu.”, “Você é uma mulher de outro mundo e tem toda uma vida pela frente.”, “Você é show de bola, colírio para os olhos.”, “Eu sei que isso tudo é um soco na boca do estômago, um tiro à queima roupa, mas no íntimo do meu ser eu fico com um nó na garganta.”, “Vou ter que dar o tiro de misericórdia na nossa relação.”
Carioca: “Você é demais para mim.”
Lucio Mauro: Olha aí, todo cafajeste que se preze sabe.

ROTEIRO
Bola: Essa sua peça deve mudar bastante, porque cada hora você deve ficar sabendo de um clichê diferente e como é que funciona isso?
Lucio Mauro: Pois é, mas o que acontece é o seguinte: quando o texto chegou, o texto do Marcelo é tão redondo que eu fico até sem graça de meter o dedo. Então o que aconteceu? Eu fiz uma brincadeira muito legal. Criei um papo com a plateia antes da peça. Então é o momento que eu posso fazer cada dia de um jeito. Eu nunca repeti. Daí eu faço isso e depois falo: “Bom gente, agora eu vou entrar em um drama.” Então começo a contar o drama do meu personagem. Porque ele procura a psicanálise, pois descobre que tem uma síndrome do pânico toda vez que acontece uma situação clichê ou escuta um clichê. E quando ele chega na psicanalista ela, ao invés de falar para ele fugir do clichê, fala para ele ir fundo nos clichês – falar todos os clichês e viver todas as situações clichês -, porque só assim ele vai conseguir se salvar. Aí o personagem percebe que não tem como fugir dos clichês. E resta apenas saber usá-los nas horas certas.


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Lucio Mauro Filho

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