Hoje foi divulgado nas mídias sociais e na imprensa online um caso absurdo de bullying. Universitárias consideradas “acima do peso” foram agredidas para satisfazer o ego de outros universitários em um jogo cruel chamado de “Rodeio das Gordas”.

Colhi informações e contatos, mas desisti de soltar uma nota qualquer. Lembrando da coluna “Não-entrevista” da revista TPM, resolvi fazer a não-apuração do Virgula. Não há necessidade em procurar os motivos de tal agressão, chamada de “brincadeira” pelos agressores. Não há um motivo lógico, só conseqüências trágicas.

Brevemente, para quem não sabe do que estou falando: Durante o InterUNESP, evento que junta competições esportivas entre campi da Universidade Estadual Paulista (UNESP) com baladas universitárias, grupos de estudantes praticavam o “Rodeio das Gordas”. A agressão, que tinha até comunidade no Orkut, consistia em flertar com universitárias consideradas gordas e em determinado momento da abordagem passar a ofendê-las, agarrando-as por trás, simulando a montaria em touros de rodeio. A humilhação contava ainda com a platéia de “peões” que incentivavam a agressão, proferiam mais ofensas, cronometravam o tempo em que o estudante conseguia ficar agarrado à vítima. O campeão, diz a denúncia, seria premiado.

BULLYING

Esses “peões” nada mais são do que bullies, os valentões que a gente está cansado de ver em séries e filmes. Eles utilizam o assédio para se colocarem em uma situação de poder e superioridade. Acreditam que uma condição física sujeita o indivíduo a um posto submisso. A humilhação – particular ou pública – traz conseqüências psicológicas irrecuperáveis para a as vítimas de bullying, por isso é considerado um perigo social. O caráter negativo e repetido do “Rodeio da Gorda” exclui qualquer possibilidade de ser uma brincadeira ou uma inconseqüência motivada pelo álcool. Com o agravante de ter sido praticado por estudantes do curso de psicologia, entre outras graduações.

O que “possibilita” que as agressões sejam cometidas é, entre outros fatores, a diferença de poder e força entre as partes. O bullying “tradicional” acontece na escola. Um estudante mais forte, ou um grupo de bullies, usam força física para se impor ou isolar e humilhar indivíduos. Testemunhas das agressões durante o InterUNESP dão conta de que algumas alunas não voltaram a frequentar as aulas, com medo de ficarem estigmatizadas.

VIOLÊNCIA DE GÊNERO

No “Rodeio da Gorda”, além do grupo que apóia e alimenta o assédio, há a horrenda violência de gênero, deixando garotas à mercê de um comportamento acéfalo (porque não dá nem para chamar de primata, nem de pré-histórico). Os praticantes (todos homens) abordavam os alvos (todas mulheres) como se estivessem flertando, iludindo as vítimas antes de iniciar a agressão. Fica então caracterizada então a covarde violência contra a mulher.

NEM COM ANIMAIS

Muito coerente, a estrutura de poder montada por esses bullies leva o nome de outra atrocidade: rodeios. Em busca de entretenimento, animais são usados como objetos em arenas de rodeio, que é chamado de esporte por seus defensores. Certamente os ideais olímpicos só se enquadram para atletas, que disputam entre si voluntariamente. Nada mais justo do que batizar uma crueldade com o nome de outra.

E O VIRGULA COM ISSO?

Só para citar os exemplos

No canal Lifestyle do Virgula nos acostumamos a falar sempre de moda plus-size, prova de que a beleza não tem nenhuma relação com peso ou tipo físico. E não é que as gordinhas sensuais ocupam alguns dos recordes de cliques do canal que também publica editoriais com top-models internacionais? (Exemplos AQUI e AQUI)

Aqui em Inacreditável, a.k.a. News, sempre noticiamos as vitórias de touros sobre seus algozes dentro de arenas de touradas. E também tivemos picos de acessos e comentários, mesmo quando as imagens eram fortes. Quem torce para o touro levanta a mão! o/

Já deu para entender de que lado a gente está, né?

Agora queremos saber de vocês, o que deve ser feito com esse episódio? O que deve ser feito com os agressores?

 

Atualização em 28/10:

Em respeito aos demais alunos de psicologia dos campi da UNESP.

O grifo na frase “praticado por estudantes do curso de psicologia” não teve como objetivo a generalização ou mesmo o sensacionalismo, como comentado. O friso foi retirado da “Nota de Repúdio” de Mayara Curcio, também graduanda em Psicologia do campus Assis: “Agora pergunto-me e pergunto-lhes: Que espécie de psicólogo será este que inescrupulosamente comete brutalidades físicas e PSICOLÓGICAS contra outros seres humanos?”.

 Esse comportamento, vindo de estudantes de qualquer curso, não é desculpável. Tal atitude extrapola os limites do profissionalismo e denota desvios de caráter. Mas o comportamento esperado de profissionais – ou estudantes – da área de psicologia, é que fossem os primeiros a chamar atenção para tal atrocidade, por serem mais íntimos das consequências psicológicas sofridas pelas vítimas.

Por sorte, há outros alunos que não participaram, denunciaram e buscam uma punição para os culpados, que obviamente são uma minoria. Esperamos que o nome da UNESP não seja manchado por esse episódio isolado e que os culpados sejam punidos conforme a legislação permitir.


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Rodeio das Gordas: idiotice universitária