Lúcio Silva, mais conhecido apenas como Silva, surgiu em 2012, com o álbum Claridão, e logo foi alçado à categoria de aposta da MPB indie. Se no trabalho anterior, o capixaba já havia sido aprovado no “vestibular”, em seu novo disco, o elogiado Vista Pro Mar, ele dá um passo de gigante em direção a plateias e cachês maiores.

Para isso, como ele conta em entrevista ao Virgula Música, Silva perdeu o medo do pop. Com uma aposta em batidas sintéticas e sons que se aproximam do indie dance, ele contou com a ajuda do irmão, Lucas, que se tornou seu maior parceiro.

Em São Paulo, nesta quarta-feira (02), o músico começa a testar o novo trabalho ao vivo, com um show na Flagship Store Chilli Beans. Em seguida, ele se apresenta sábado, às 13h10, no Lollapalooza.  

É verdade que você teve medo da síndrome do segundo disco, você chegou mesmo a sentir essa pressão?

Eu senti bastante. É uma coisa que eu já tinha ouvido alguns amigos falando, alguns músicos que haviam passado por isso. Mas eu achava que era um clichê só, que não era todo mundo que passava por isso. Se eu tinha feito o primeiro por que eu não ia fazer o segundo?

E aí no meio do processo, eu vi como era difícil. No primeiro disco, eu estava bem mais tranquilo, tinha menos compromisso.

E a questão era manter o que você tinha alcançado ou não se repetir, qual era a sua preocupação?

Tinha essa preocupação musical, com certeza. Mas também da correria, de conseguir fazer isso no meio das outras coisas, tocar, turnê, de conciliar. Porque eu produzo um pouco lento, eu gosto de começar bem antes. E aí no meio do processo eu estava achando difícil, que eu ia ter que pedir música para alguém, não vou conseguir compor tudo.

E aí acabou rolando, teve uma hora que eu entendi o conceito do negócio, o que eu queria fazer. E rolou. É uma situação difícil porque você não quer se repetir, acho que ninguém quer fazer um disco igual ao primeiro. Mas ao mesmo tempo você já tem um público que espera alguma coisa. Você não pode mudar 100% o seu som. Não sei, acho que tem que ser aos poucos essas mudanças, tem que ser pensado.

Seu disco ficou com uma pegada dançante, não é? Próximo até de um som pop gringo. Eram referências que você ainda não tinha colocado em prática ou coisas que você foi buscar e acabou chegando?

Eu sempre gostei muito de ouvir essas coisas. Mas, no Claridão, eu tinha muito medo do pop, sabe? De ficar muito pop. Quando a música estava com o groove muito para frente, eu acabava deixando mais para trás. Não sei por que. Era um pouco de receio que eu tinha.

Depois eu vi que era mais legal de tocar ao vivo. Comecei a fazer coisas mais para cima, cantaroladas, com refrão, que era uma coisa que eu não usava muito. E com uma batida mais dançante mesmo, eu diria.

É verdade que a gênese do disco surgiu em Miami, junto com o seu irmão?

Foi. Surgiu em janeiro de 2013. Eu estou com essa ideia do Vista pro Mar há um tempinho. Mas eu comecei a pensar no disco em outubro de 2012, três meses depois de lançar o Claridão, eu comecei a pensar nesse disco.

Porque eu gosto de começar bem antes, para ter tempo, não fazer com pressa. Quando eu fui para Portugal em novembro do ano passado fazer shows lá, eu já tinha o disco todo pronto, só não estava gravado, era tudo demo.

Aí eu fiquei dezembro, o mês todo, gravando em Portugal. Gravando voz, as outras coisas que faltavam e fui para San Francisco mixar em janeiro. Eu fiquei 20 dias em San Francisco e voltei para Portugal de novo para gravar o clipe e voltei para o Brasil.

O seu irmão também é músico? Você trabalham juntos?

Pois é, o meu irmão estudou música também desde novinho, igual a mim, mas ele sempre teve muita ligação com a literatura. Ele é um cara que aprendeu a gostar de poesia, então, acabou se tornando meu parceiro.

Quando eu escrevo letra, eu demoro muito. E ele já faz de uma forma que flui. Ele é meu maior parceiro de composição.

Você é capixaba. Isso é uma influência direta na sua música, a maneira como você cria?

Eu acho que pela fato de eu ser de Vitória, que é uma cidade que não tem características musiciais muito forte, tipo Rio, que tem o samba, e Salvador, com aquela música baiana, mesmo São Paulo, que tem tudo, e Minas, que tem uma música muito própria.

Vitória não tem uma característica forte musicalmente. Isso acabou me deixando um pouco, como é que eu diria, desamarrado em relação a essa coisa de raiz. Apesar de eu gostar da música brasileira mais de raiz. 

Acho que foi essa a contribuição de morar aqui.

Você é apontado como um dos nomes da nova cena de música brasileira. Que características você acham que definem a galera que surgiu há dois, três anos, como você?

Eu acho essa cena bem interessante porque está ficando diversificado o negócio. Tem algumas pessoas que ainda fazem uma coisa mais tradicional, mas outros estão buscando um negócio diferente do que já foi feito.

O som de quem que você curte, da galera atual?

Ah, eu conheci uma galera que eu curto muito. Quando eu fui pra Portugal em novembro, tocar em um festival lá, o Mexefest, no começo eu era o único músico brasileiro e tinham várias bandas legais. No final, eles chamaram Cícero, Wado e Momo para fazerem um show os três juntos. Aí, acabei conhecendo os caras mais de perto e adorei. Supervibe boa, artistas com os egos bem resolvidos, sabe?

Eu gosto muito da Fernanda Takai, eu adoro a Céu, está entre meus artistas brasileiros prediletos. Mais outras coisas. Eu gosto de um projeto chamado Telebossa, que são brasileiros que moram na Alemanha, eu fiquei bem viciado no disco deles.

SERVIÇO

Silva apresenta Vista pro Mar
Quando: Nesta quarta (02), entre 19h e 21h
Onde: Flagship Store Chilli Beans, rua Oscar Freire, 1072, Jardins, São Paulo 

05 de abril – Lollapalooza Brasil – São Paulo
31 de maio – Circo Voador – RJ
06 de junho – Teatro do CCBEU – Goiânia
07 e 08 de junho – Teatro da Caixa – Brasília

 


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