Em sua primeira vez no Brasil, em 2008, o The National se apresentou para um público pequeno. O show aconteceu sem muita divulgação e dentro do line-up da última edição do hoje finado festival Tim Festival, ao lado dos novatos do MGMT.

Nesse dia, pouquíssimos fãs (e alguns curiosos) assistiram à estreia da banda no Brasil. A energia quase selvagem que a banda emanava enquanto estava no palco surpreendeu. Se é comum esperar uma postura blasé de bandas do indie-rock atual, este não era nem de longe o caso do The National, que transformava a melancolia elegante de suas composições em energia pura no palco.

Três anos se passaram. De lá para cá, o que era praticamente desconhecido virou hype forte no cada vez maior público indie. The National lançou em 2010 um álbum que entrou em quase todas as listas de melhores do ano, High Violet (seu quinto), ganhando até mesmo do poderoso My Beautiful Dark Twisted Fantasy, disco de Kanye West.

O vocalista Matt Berninger, com sua voz de barítono e sua pose chic, virou quase um líder xamânico. The National se transformou em cânone do indie-rock. Gostar ou não da banda podia definir se a sua carteirinha do fã-clube hispter seria ou não aceita por aí.

Nesse contexto, é óbvio que Matt Berninger e sua banda chegaram a SP com a plateia já conquistada. Ao contrário do show de 2008, a casa estava com um bom público (embora também não tivesse lotado). E desta vez não havia atração principal com que competir. A banda tinha total consciência dessa hegemonia. O resultado foi um show competente e repleto de momentos emocionantes. Mas também o melhor exemplo possível de um grupo que expõe os dilemas que seu estilo musical enfrenta.

A sonoridade do The National é difícil de definir. Embora seja profundamente “indie-rock”, o foco da banda hoje é muito mais nas melodias melancólicas e na atmosfera criada em relação ao público do que especialmente nas guitarras. Além disso, a música do The National é adulta, classe média: longe dos dilemas mais juvenis das bandas novas e ainda assim dentro de um contexto que pode ser exasperante. É uma melancolia que está a um passo do desespero, mas que é tão fascinada com a própria estética que não cai nesse extremo.

O show da banda desta terça-feira (5) no Citibank Hall evidencia não só algo dessa crise do indie-rock, fascinado pelo passado e com dificuldades latentes de criar novas sonoridades. A banda inovou em seu novo álbum, High Violet? Não. Trouxe algo significativo ao gênero em questão de inovação ténica, por exemplo? Não. Mas a capacidade do The National de criar melodias absurdamente lindas contém em si mesma algo da solução para essas questões de forma e futuro do gênero. Com sua melancolia elegante, quase desesperada e consciente disso a todo momento, a banda encanta o público com uma forma repetida, mas que é refeita de maneira tão sutil que o resultado é bom.

Essa reabilitação de uma forma cansada é um dos pontos positivos do show. Não há como não se emocionar com a rendição bonita e emocionada – com Matt Berninger animadíssimo e se jogando na plateia – de músicas como Little Faith, Fake Empire, Bloodbuzz Ohio, Slow Show, Squalor Victoria, Terrible Love, Daughters of The SoHo Riots e Mr. November. Mas mesmo assim é possível ver que a melancolia do conteúdo que emocionou o público e deslocou o problema da forma continua ali, de outra forma, se comparada à turnê de 2008.

OK, as turnês precisam mudar, já que os álbuns divulgados são diferentes e a estrutura de show também. Mas uma coisa é difícil de negar: na turnê de seu álbum anterior, Boxer, a energia do The National vinha de uma outra fonte. Era energia pura, crua, perigosa, que fazia com que todos os integrantes transformassem o palco em um local de pura experimentação e até molecagem. Os dilemas já eram adultos, mas o comportamento era de músicos que sentiam a energia do show como se fosse algo orgânico, de tão intenso.

No show desta terça no Citibank Hall, era como se a melancolia tivesse sugado essa energia sem direcioná-la para outro local. Com exceção de Matt Berninger, que como cantor é impecável e como frontman ainda mais essencial, a banda parecia apática, como que conformada com esse “desespero polido e elegante”, de cavalheiros, que está em cada canção do novo álbum da banda e por vezes esconde um desejo reprimido de sair berrando para todo mundo escutar.

O fim da apresentação, um dos momentos mais bonitos do show, fechou a noite com uma pontada de ironia. A última música, a delicada balada Vanderlyle Crybaby Geeks, foi tocada em versão acústica pela banda e o público cantou todos os versos ao lado de Matt Berninger, que só sussurrava. O show do The National, assim, terminou da mesma maneira que começou: com a participação e aceitação do público, em uma época em que o hype da banda precede a banda de fato.

Os fãs encerraram o show que consagraram antes mesmo de seu início. E só o que o The National continuará fazendo em seus próximos shows e álbuns mostrará se a banda vai subverter algo do indie-rock e continuar por aí ou seguir para um futuro incerto.


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Beleza da música do The National compensa limitações do formato indie rock