Um dos melhores bateristas do rock brasileiro, Baca, que está atualmente tocando com o Ultraje a Rigor, mas que apareceu na cena nos anos 90 tocando com o Little Quail and the Mad Birds, de Brasília, me entregou o primeiro CD-demo de sua nova banda, chamada Orgânica, baseada em São Paulo. É um rock poderoso, que me lembrou uma mistura de Stooges com Smashing Pumpkins! Orgânica é um quarteto com Candyda nos vocais, Cyro Cabanas no baixo, Ortega nas guitarras, e o bom Baca descendo a mão nos tambores e pratos.

São quatro faixas: ‘Por um fio’, ‘Ao contrário’, ‘Fé ou revolta’ e ‘Rádio estéreo’. As letras têm uma sombra de Plebe Rude, criticando mais o indivíduo do que a sociedade. Porém, muitas vezes, o texto é mais alucinado do que lúcido, e o sentido de versos como
“Arquivo fechado/conceito lacrado/E a falha na prova perfeita/Por um fio/(…)/Tá frio, e ainda vai congelar/Tá muito frio, não vá reclamar/Can you feel o Kharma dessa moral/Que vida tão falsa/O coma que acordou/O cara que não cedeu/É liberdade demais pra quem deu”, de ‘Por um fio’, fica no ar. Para mim não é nenhum problema, eu gosto de textos herméticos, onde o autor esconde o sentido do que pensa, ao invés de entregar suas idéias mastigadas.

A melhor música é ‘Ao Contrário’, com um riff de guitarra assustador, e um tema que lembrou Big Country! ”Medo no lugar da lucidez/Pois eu sinto amor ao contrário/Eu vejo a cor em preto e branco/”.

Em ‘Fé ou revolta’ ouvimos a voz de Candyda com mais clareza, já que é a música onde seu vocal está mixado mais alto. “A contra indicação/Que eu tive que injetar/Me aplicaram uma dose a mais/E eu vi a conversão materializar/Os fetos da solidão”. Esta música tem um bom refrão, com as guitarras criando uma textura interessante.
‘Rádio estéreo’ é a mais estranha… eles brincam com a oposição estéreo/estéril, esta letra me parece uma crítica à mesmice das nossas rádios, crítica aliás muito bem vinda. Como seria bom ouvir sons independentes como este nas nossas rádios…mas, como eles mesmos cantam em ‘Fé ou revolta’: “Sabe o que é foda?!/Ordem e moda”. Vai demorar até as rádios entrarem em sintonia com o som que vem das ruas.

A produção gráfica do CD é simples porém cuidadosa. A produção musical é mais suja, com as guitarras em primeiro plano. Eu acho que as músicas ganhariam se a voz de Candyda estivesse com o volume um pouco mais alto, como em ‘Fé e revolta’, pois sua voz tem raiva e personalidade. A verdade é que é muito difícil conseguir em uma demo um som que satisfaça completamente o músico. É sempre um compromisso entre um orçamento apertado, estúdios modestos e pessoas esforçadas. O Orgânica conseguiu fazer uma boa demo e mostrar algumas boas idéias, em arranjos ousados e pessoais. Quero ouvir mais. Confiram no www.myspace.com/organicabr mais informações sobre esta boa banda. Até o mês que vem!


int(1)

Coluna do Fê Lemos - Sons Orgânicos