Mali, 'bass hero' paulista


Créditos: Divulgação

Baixista, cantora e compositora, Mali Sampaio lançou recentemente o EP Blossom. O trabalho traz parceiras entre músicos e produtores de São Paulo, Tóquio e Nova York e foi mixado pelo nova-iorquino radicado em São Paulo, Victor Rice.

Ouça Mali

Cada faixa do EP teve um produtor diferente: Pipo Pegoraro, Luizão Cavalcante, Takuya Nakamura, Daniel Cohen, Ettiene Stadwijk

Mali destaca-se por suas linhas de baixo bem construídas e letras com um certo teor existencialista, mas sempre marcadas pelo bom humor. 

No período entre 2010 e 2013, ela morou em Nova York e trabalhou com Butch Morris, Kenny Wollesen, Ilhan Ersahin, McLin Ladell e o já citado Nakamura. No Brasil, acompanhou Xênia França, Carlos Franco, Kadu Ayala e Carlos Darcy de Seixas.

Blossom saiu nos formatos pendrive, arquivo digital e CD. Leia a conversa do Virgula Música com Mali.

Quem são seus heróis musicais no momento?

Difícil eleger um herói, eu diria que eles vão mudando, esse fim de semana mesmo na estrada com um já herói meu Luiz Cavalcante, estava ouvindo um cara que me pirou, o batera Jason Thomas tocando no album Hard Groove da banda RH Factory.

O Jaco Pastorius tocando balada com a Joni Mitchell é de derreter o coração, a Me’Shell Ndegeocello tambem sempre foi uma inspiraçao para mim no sentido de ser a areia do proprio caminhão, atuando lindamente como compositora, produtora, baixista e cantora.

De que maneira ter acompanhado outros artistas te ajudou a encontrar seu som?

Na medida em que fui desenvolvendo sensibilidade para interagir musicalmente na proposta de um artista, buscando o melhor jeito para reportar uma onda, uma menssagem e tal, acabei sentindo a necessidade de pôr pra fora também minhas ideias. Aliás, tem sido fantástico o encontro com músicos tão criativos, interpretando e me ajudando a dar forma a essas ideias musicais.

Que artistas da nova cena do Brasil e do mundo gosta e indica?

Tenho ouvido bastante a banda francesa General Elektriks, o EP novo da banda nova-iorquina Brooklyn Gypsies ainda está masterizando, mas tive a oportunidade de ouvir algumas faixas e estão incríveis super-recomendo, na onda instrumental tem a Istambul Sessions que adoro. Aqui no Brasil amo o Afroelectro, que acompanho desde o começo, o CD novo do Tatá Aeroplano tem uma coisa visceral bem legal, Rafael Castro, João Rossetto, Fi Bueno, o Pipo Pegoraro, que, aliás, produziu uma das faixas do EP, com esse recém-lançado álbum Mergulhou Mergulhei que tá foda, vale a pena conferir.

Dá pra comparar a cena alternativa de NY com a de SP? O que os músicos de cada cidade teriam a ensinar para a outra?

Acho que como em todo lugar tudo depende muito da tribo que você acaba se juntando, interagindo. Nas duas cidades percebo uma cena musical bem interessante acontecendo. Mas uma coisa que acho lindo de ver em NY é como os músicos, até mesmo os mainstream, tem fome de som, sabe.

Por exemplo, uma vez entrei numa balada umas 2h, havia lá digamos 30 pessoas, no máximo, pedi um drink e quando olhei para o palco, o Flea subindo para dar canja no baixo, achei aquilo lindo o cara subindo lá e tocando horrores só pelo prazer de fazer música com quem ele curte.

Speranza Spalding também sempre aparecendo do nada nas jam session de estudantes, Roy Hargrove improvisando em boteco até o garçom pedir para parar que a casa ia fechar, acho que são essas coisas que fazem aquela cidade tão viva. 

Claro tem aquela coisa também de tudo que vem de NY é mais fácil de vender, lá não é raro você ver bandas ainda em começo de carreira fechando shows com cachâ decente, tour pela Europa com tudo pago, mas isso acho até meio bobo como se o som por vir de uma cidade tivesse um selo de qualidade e modernidade que muitas vezes pode não ter.

Como é seu processo de composição?

Comecei a compor recentemente, foi até uma história até meio maluca. Até então, eu me satisfazia interpretando a música dos outros, aí, num solstício de inverno minha amiga e parceira, também baixista Kristina Normatova, me chamou para dormir na casa dela. Quando cheguei lá, o pai dela um xamã russo, figuraça, tinha colocado vários incensos, velas e doces pela casa e disse que para termos um inverno próspero era interessante que aquela noite fosse de criação.

Ele colocou um CD com sons do planeta Urano e começou a tocar gaita em cima, aos poucos fomos pegando os instrumentos e cantando, tocando sem nenhuma censura ou julgamento e no fim da noite tínhamos feito umas três músicas. Parece surreal, mas é verdade e a partir daí comecei a compor sempre. Tenho para mim que a base da coisa é silenciar o nosso locutor interno que fica nos julgando e analisando e atrapalhando todo o processo.

Como já dizia Andy Warhol, o papel do artista é fazer arte e não julgá-la. Aí, enquanto as pessoas analisam se aquilo é bom ou ruim, o artista já está fazendo mais arte. Não que depois, passado o momento de criação, você não vá achar que aquela música talvez não seja tão legal e tal, mas na hora do ato acho que a coisa tem que ser bem livre mesmo.

Como chegou ao conceito de Blossom?

Quando cheguei em Sampa, estava na sede de gravar minhas músicas, encontrei meu amigo e grande músico Pepe Cisneiros e contei meu plano: gravar cinco músicas minhas comigo tocando baixo e em cada uma delas com uma cantora diferente, ele achou legal começou a dar uma força para formatar a coisa e logo no começo do processo falou que tinha certeza que eu é que deveria cantá-las. Aí, acabei gostando e veio a coisa do Blossom, que é esse florescer  dessas coisas ainda novas pra mim, a compositora, a cantora.


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Conheça Mali Sampaio, a 'bass hero' paulista da nova música brasileira