Em um contexto dominado pelos sucessos de Bill Halley e de Elvis Presley nos Estados Unidos e em meio à preferência pelas versões de canções estrangeiras, o rock mexicano precisou lutar desde o início para criar uma identidade própria.

A evolução do gênero musical no México “foi uma transformação constante”, disse à Agência Efe a diretora do Museu do Objeto, Paulina Newman, onde está em cartaz a exposição O Rock no México: 1950-2010.

A mostra reúne o surgimento e a consolidação do gênero no México desde sua difusão nos salões de baile como o El Florida, na capital mexicana, até o nascimento de uma cena roqueira própria impulsionada pelo Festival de Avándaro em 1971.

Nas décadas de 50 e 60, predominavam no panorama do rock no México as versões de hits americanos, “muitas delas, mais bem-sucedidas que as originais”, opinou Paulina.

A partir desse momento, acrescentou, começou a surgir uma cena nacional com “identidade própria” que encontrou no Festival de Avándaro de 1971 o impulso que precisava.

O festival, realizado no Estado do México, uniu pela primeira vez no país milhares pessoas pela música sob o atento olhar da polícia, que vigiava o evento para evitar problemas como o massacre estudantil de Tlatelolco em 1968.

É a partir desse momento, explicou Paulina, que começam a surgir vários ritmos que tornam a cena do rock no México mais rica.

“A partir dos anos 70 começou a se fazer música em espanhol (…), grupos como o Tinta Blanca começaram a fazer suas próprias letras e inclusive falar de drogas, (tema) que na época era muito forte”, explicou à Efe o músico Javier Ramírez, conhecido como El Chá!, ex-baixista da banda Fobia e atual membro da Moderatto.

O rock mexicano viveu “uma grande mudança” a partir da década de 80 com a inclusão de termos populares carregados de duplo sentido e conotação sexual, além de jogos de palavras que criavam “realidades cruas, apaixonadas e diferentes”.

Ramírez lembrou que as origens da Fobia se escrevem em paralelo à chegada ao México dos argentinos Soda Stereo e os espanhóis Mecano e Radio Futura, que refletiram com seus concertos e suas vendas de discos que o rock em espanhol também tinha seu público.

Também foi a vez de bandas mexicanas como El Tri, Caifanes ou Maldita Vecindad, três dos primeiros grupos que tocaram nos Estados Unidos.

Com seu terceiro disco, “Avalancha de Éxitos”, o Café Tacvba conseguiu se fixar definitivamente nos EUA e se consolidar no continente com sua aparição na capa da edição latino-americana da “Newsweek” em 1997.

Mais tarde, grupos como Molotov e a cantora Julieta Venegas colheram grandes sucessos na América do Sul, nos Estados Unidos e na Espanha, enquanto no México aparecia uma cena “reggae” própria que levou o nome de “razteca”.

Além disso, surgiram foruns, espaços para tocar nas cidades e festivais como o Vive Latino em 1998, um dos maiores expoentes do rock no México.

Nos anos 90 surgiu, além disso, o primeiro coletivo de músicos eletrônicos, Nortec, que ganhou reconhecimento internacional por causa de sua assinatura com o selo americano Palm Pictures.

A explosão da era digital nos anos seguintes e o surgimento de novos espaços de divulgação ajudaram a promover a cena roqueira no país com a profusão de bandas, como deixam claro as últimas salas da exposição, em contraponto às primeiras, onde o número de grupos ainda é reduzido.

“A situação do rock atual mudou muitíssimo, agora há muitos espaços e todas as semanas há shows”, contou a diretora do museu.

A exposição “O rock no México: 1950-2010” apresenta mais de 200 peças que detalham, com capas de LPs, instrumentos e cartazes originais, o crescimento e a consolidação do rock no país, uma história marcada pela necessidade de encontrar através da música uma representação da identidade nacional.


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Exposição revisita história da busca do rock mexicano