“‘Gueto’ é para eu não me esquecer das minhas origens” /Rodolfo Magalhães

Brincar na rua, pintar a bandeira do Brasil no chão em época de copa, tomar banho de mangueira, ir comprar doce em alguma barraca típica da vizinhança que tem desde maria mole até salgadinho por peso. Essas são algumas das lembranças que você vai destravar  quando assistir ao clipe de “Gueto”, novo single da Iza lançado nesta sexta-feira (04).

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Com a faixa “Gueto” lançada na quinta-feira (03), e o clipe disponibilizado hoje, Iza reafirma suas origens e características clássicas de todos que moram ou moraram em guetos vão reconhecer. Em entrevista coletiva, Iza detalhou um pouco mais sobre o processo criativo de “Gueto” e todas as novidades que estão por vir.

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Com o início da pandemia, um período mais introspectivo se iniciou na vida de todas as pessoas. Com Iza não foi diferente, afastada do público e tendo que conviver com sua companhia por muito tempo, a artista afirma este período foi o momento de enfrentar coisas que estavam sendo empurradas para debaixo do tapete. “Eu me vi com todas as minhas inseguranças e as coisas que eu estava empurrando para debaixo do tapete. Eu sempre fui minha maior inimiga, durante a pandemia eu tive tempo para encarar esses monstros e tentar me curar. Até eu me entender comigo eu não estava conseguindo compor nem nada e agora está rolando”, afirma Iza que teve de encarar essas questões para criar as novas faixas.

Não tem muito como eu falar para onde eu estou indo se eu não souber de onde eu vim. Nos perdemos pelo caminho se não soubermos de onde somos, por isso é muito importante fincar o pé no chão e nas suas raízes”. Para reafirmar suas origens, e com uma das inspirações em “Black is King” de Beyoncé, Iza entendeu que precisava falar de suas origens e mostrar para todos o que é Olaria, e todos os guetos do país. “‘Gueto’ significa abrir meus olhos, das pessoas que vêm desse lugar também. Trazer esse sentimento de pertencimento, ter orgulho de onde eu vim. Brota ouro do gueto, a maioria das coisas vem do gueto. Podemos não nos ver na TV, mas somos a base de tudo e deveríamos ocupar mais”.

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Como forma de gerar esse sentimento de pertencimento, IZA recriou diversos cenários clássicos presentes nos guetos brasileiros. O clipe foi gravado em maio durante 3 dias, 2 em São Paulo e um no Rio de Janeiro, na igreja da Penha, trecho em que Isabel Cristina, mãe de IZA, aparece no clipe. Em São Paulo, o gueto foi recriado em uma fábrica. “Como eu queria que ‘Gueto’ falasse de rua precisava de uma rua. Eu não queria fazer presencial porque mesmo com a testagem poderia gerar aglomeração. Então encontramos uma fábrica em São Paulo e fizemos todos os cenários.

Ocupação e representatividade

Gueto é sobre ocupação, não ostentação. É sobre ser uma mina preta da Zona Norte estampando vários comerciais onde eu nunca tinha visto uma mina preta antes”. Criada em Olaria, na Zona Norte do Rio de Janeiro, IZA afirma a importância de ocupar lugares, de tornar a presença de pessoas pretas e dos guetos normais, principalmente em lugares vistos com estranheza. No clipe, os contratos assinados representam todas as últimas parcerias que IZA fechou e ilustra essa ocupação da artista “Eu estou longe de representar todas as mulheres negras, é o começo, temos que arregaçar essa porta e deixar ela aberta. Para que as pessoas possam sentar à mesa com você também”.

Considerada pela TIME, uma das vozes mais influentes para a próxima geração, Iza diz que quando recebeu a nomeação sentiu que estava no caminho certo. “Muito legal quando recebemos uma nomeação dessas porque tudo que é dúvida na nossa cabeça acaba sendo sanada”.

Como forma de não se esquecer de sua origem, Iza exalta diversos aspectos comuns de Olaria. Os figurinos foram inspirados nas roupas da cantora, que afirma ter aprendido a se vestir com as roupas da feira de Olaria. Além disso, elementos como as brincadeiras na rua, vendedores de água e gás, frango assado vendido nas padarias e açougues e a interação entre os vizinhos remete aos guetos espalhados pelo país. Sobre a principal lembrança do gueto, IZA afirma que em todo subúrbio que morou a copa era um evento muito importante, inclusive este momento está representado no clipe com a bandeira do Brasil pintada no chão.

Não entrava na minha cabeça como que naquela época do ano estava liberado pintar o chão. Eu não entendia muito bem, depois você descobria que vários vizinhos sabiam desenhar. De repente estava todo mundo na rua pintando a bandeira mais bonita que tem no mundo. Nossa bandeira é linda. Ela é linda e ela é nossa, eu quis trazer isso também. Estamos vivendo um momento difícil, mas não podemos esquecer que o Brasil é feito de brasileiros e que nosso país é foda. Tá foda? Tá. Mas nosso país é foda.”

Novo álbum e parcerias

O novo álbum contará com parcerias e Iza afirma que ia amar fazer uma parceria com Ludmilla “Na minha opinião a Lud é a maior cantora negra do país. Eu sou muito apaixonada pelo trabalho dela, seria ótimo fazer uma música e nós já estamos conversando sobre isso”.

Sobre a parceria com Sam Smith, Iza diz ter sido um grande delírio coletivo. “Sam Smith foi um grande delírio coletivo, vamos combinar? Ele me seguiu na semana do lançamento, eu mudei a foto e ele mudou junto. Eu fiquei com medo de ele achar que eu estava stalkeando ele e me parar de seguir. Se você entrasse no instagram dele só tinha ele e eu com as pessoas marcando. O que acontece, ele está me seguindo mesmo, seria uma honra fazer um feat com ele, mas não tem nada confirmado”.

“Gueto” chega com uma grande influência do hip hop e trap. Iza afirma que o novo álbum está em processo de finalização e contará com diversos ritmos como dance hall, reagge, R&B e trap. “Assim como ‘Dona de Mim’ eu vou estar passando por vários estilos musicais, que é o que eu gosto de fazer. Ele é um álbum muito brasileiro e tem muito a minha cara.


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“Gueto é sobre ocupação, não ostentação”: Iza reforça suas origens no single “Gueto”