Nesse agitado bolo de festivais e show gringos que tomou conta do calendário paulista no segundo semestre, a identidade de alguns eventos vai se definindo. Uma semana depois do SWU, mais roqueiro, mais jovem e sem frescura, o festival Natura Nos parece, em contraste, um evento bem mais comportado, maduro e tranquilo. Mas, nem por isso, menos divertido e animado.

Apesar do lineup diverso, indo do rock melodioso do Snow Patrol ao eletrônico psicodélico do Air, o clima foi homogêneo e sem trancos. Tirando alguns deslizes de organização, como pequenos tumultos no bar ou despreparo da equipe, o evento fluiu suave e animado. Segundo a organização, o público foi de 17 mil pessoas.

Distribuidos em dois palcos, a variedade de artistas nacionais e estrangeiros era grande. Mas é seguro dizer que 80% do público tinha vindo ver três artistas: Air, Snow Patrol e Jamiroquai. Cada um dos três cumpriu com louvor sua missão, deixando seus fãs (e novatos) satisfeitos.

Durante a tarde diversos artistas nacionais se apresentaram como Cidadão Instigado, Vanessa da Mata, Karina Buhr e Céu. Enquanto as pessoas iam chegando, um visitante indesejável chegou junto no céu aberto da Chácara do Jockey: a chuva. Apesar de não ter demorado muito, serviu para deixar algumas poças (cara de festival, olha só).

CALEIDOSCÓPIO

Por volta das 19 horas, o Air começa a preencher o ambiente com seu som fluído e revigorante. Músicas do álbum mais recente, Love 2, conduzem o começo do show, que serve como vitrine das várias fases do grupo. Perfeito para uma plateia faminta por um grupo que visita o Brasil pela primeira vez em mais de doze anos de existência.

O telão fatiava projeções psicodelicas, enquanto a dupla Nicolas Godin and Jean-Benoît Dunckel, teleportada de um lounge dos anos 70 com seus ternos brancos, esbanjava elegância e presença de palco sem precisar puxar uma bandeira do Brasil ou puxar conversa fiada com o povo.

O final é apoteótico: a partir da música La Femme D’Argent, de seu primeiro álbum, Moon Safari, a banda produz um turbilhão de som, musical e viajante, denso e encorpado, cheio de detalhes. Ao vivo, o Air consegue reproduzir a sensação trazida por seus discos: de um um colorido caleidoscópio, não para os olhos, mas para os ouvidos. A única reclamação: 60 minutos de show foi curto demais.

Acordando para a realidade, era hora de mudar de palco e virar a chave para uma experiência completamente diferente. Heróis da cena rock alternativa, os brasilienses de Móveis Coloniais de Acaju vêm com a sempre complicada missão de marcar um público focado em atrações gringas. E conseguem: seu ska-rock, descendente direto do Paralamas do Sucesso da fase inicial, faz o público dançar com sorriso na cara. No final, eles chamam gente do público para o palco e explodem serpentinas coloridas. Sucesso total.

Depois é a vez do Snow Patrol. A banda irlandesa, com muitos hits na bagagem, faz um show engajado, comovido, com direito a vários closes suados do vocalista Gary Lightbody no telão. O rock do Snow Patrol não prima pela originalidade, referenciando muito Coldplay e U2 e acreditando demais no clima épico e dramático.

“É o ultimo show da nossa turnê antes de lancar o novo álbum”, declara Gary, meio que justificando a aura de cansaço da banda. eles se esforçam: disparando hits como Open Your Eyes (que abre o show), Run e Chasing Cars, o SP consegue, aos poucos, envolver uma plateia que sai do morno e termina bem mais envolvida. Mas que demora para chegar lá, isso demora.

HORA DO BAILE

Em seguida, no palco oposto, o Bajofondo começa um show que a grande maioria do público encara meio sem saber o que esperar, baseado apenas numa música de novela (Pa Baillar, a abertura de A Favorita). A surpresa é grata. Misturando sanfona, violino e contrabaixo com scratches, teclados e batidas eletrônicas, o grupo composto de argentinos e uruguaios engata um baile disco-tango de classe. Dá até para desculpar o final meio farofeiro.

Na sequência, é tomar o lugar para a pista de dança gigante que promete o encerramento com o britânico Jamiroquai. A super-banda com 12 pessoas, absurdamente afiada e técnica, fornece o suporte funkeado para o líder Jay Kay conduzir a festa. JK, paramentado com um enorme cocar de índio americano é uma atração por si só: elétrico e comunicativo, cada movimento seu é um passo de dança. Ele atiça a galera, rebola, puxa uma bandeira do Brasil (era um trabalho sujo, mas alguém tinha que fazê-lo), elogia o país e pede que fiquemos de olho para que “parem de cortar tantas árvores”.

Músicas consagradas, como When You Gonna Learn e Virtual Insanity, se misturam com faixas do álbum novo Rock Dust Light Star. A plateia recebe tudo de braços abertos. A cada final de música, braços se erguem entusiasmados. Jamiroquai não é hype, não está na moda, não tem espaço nos blogs ditadores de tendência (tem gente que nem lembra que eles existem), mas aqui está uma prova viva da irrelevância de tudo isso. A banda arrebenta, não deixando ninguém parado e proporcionando os momentos mais eufóricos do Natura Nos.

Hoje, domingo (17), rola o segundo dia, com atrações com foco no público infantil: de Adriana Calcanhotto com o projeto Partimpim, Pato Fu (tocando seu último disco, Música de Brinquedo), Palavra Cantada, e o projeto Pequeno Cidadão, com Arnaldo Antunes, Edgar Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto.


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Jamiroquai e Air encantam público com facilidade no bailão do Natura Nos