“Vambora, velho! Tô pronto”, disse Max Cavalera ao Virgula Música pelo telefone, direto de sua casa em Phoenix, nos EUA. Assim iniciou-se o bate-papo sobre a extensa turnê brasileira que o Cavalera Conspiracy (seu projeto com o irmão Iggor, que está prestes a lançar o terceiro álbum, Pandemonium) irá fazer na próxima semana. Serão 11 shows no total. Em São Paulo, os irmãos tocam no dia 12 de setembro na 1° edição do festival Metal Manifest, no HSBC Brasil.

Além de adiantar como serão os shows por aqui, Max não se importa em estender a conversa para outros assuntos. Quando o tom é um pouco mais delicado, sobre sua ex-banda, o Sepultura, e sua polêmica autobiografia, o frontman não arreda o pé e responde firme, como um guerreiro que não foge à luta. De leve, ele até diz que aceitaria participar de um disco atual do Sepultura (se o convite fosse feito, claro!).

Max está empolgado em voltar ao país, e isso significa que – depois de muitos anos – está em paz com o Brasil. Leia a entrevista abaixo:

Virgula Música: o que o público brasileiro pode esperar dos shows do Cavalera Conspiracy?

Max Cavalera: Vamos tocar umas três músicas inéditas, mais o material do Cavalera, Nailbomb e Sepultura. Fazemos um set completo. Também estamos muito animados, pois em São Paulo vamos tocar com o Krisiun e o Korzus, bandas que gostamos pra caramba! Estou feliz com essa turnê. Vai ser do car*alho!

Haverá mudanças no repertório de um show para o outro?

Eu não gosto de fazer o mesmo show toda noite. Mudamos pelo menos umas duas ou três músicas entre uma apresentação e outra. Ainda quero ver um lance com o Iggor, pois gostaria de tocar Necromancer, que é do primeiro EP do Sepultura, o Bestial Devastation, que tocávamos na época em que moramos em Belo Horizonte. Depois do Beneath The Remains, nunca mais tocamos ela.

 

 

Qual foi a sua primeira sensação quando tocou novamente com o Iggor após ficar anos sem falar com ele?

Alívio, cara! Alívio é a palavra certa. Uma nuvem negra foi removida de nossas cabeças naquele momento. Depois de dez anos sem conversar com meu irmão, foi emocionante. Ele veio a um show do Soulfly em Phoenix, e no camarim eu falei: ‘Vamos fazer uma banda nova!’. Naquele dia mesmo ele subiu ao palco e tocou Roots e Refuse/Resist. A galera pirou quando nos viu juntos novamente.

Algum tempo atrás surgiu um boato de que James Murphy, do LCD Sounsystem, gostaria de produzir um álbum do Cavalera Conspiracy. Veremos isso acontecer um dia?

Sim. O Iggor conversou com o James Murphy e ele ficou super interessado em gravar a gente. Temos um plano para isso: um EP de quatro músicas. Será só os irmãos, sem baixo e sem guitarra solo. Bem primitivo e bem cru. Igual a quando começamos na garagem, no início do Sepultura. É um lance que vai rolar, mas no futuro.

Na época do Sepultura você criou o Nailbomb. Hoje, além do Soulfly, você tem o Cavalera Conspiracy e o Killer be Killed. Por que essa necessidade de ter projetos?

Eu gosto de ficar ocupado. Fico de saco cheio em ficar em casa coçando, daí eu componho o tempo todo. Na época do Chaos A.D., os integrantes do Sepultura foram para a praia nas férias e eu não, então fiz o Nailbomb (com o Alex Newport, do Fudge Tunnel), que ficou uma criatura animal. Hoje o Point Blank é um disco cult para a galera do metal. O Killer be Killed também adorei fazer, tocar com os caras do Mastodon e do The Dillinger Scape Plan. É um jeito que gosto de ocupar o tempo livre.

 

 

Você lançou a autobiografia My Bloody Roots – Toda a Verdade Sobre a Maior Lenda do Heavy Metal Brasileiro. Desde quando teve essa ideia? Como nasceu isso?

Foi ideia da minha esposa, a Glória. Ela sempre dizia que minha história é muito legal e deveria ser contada. “Eu sei o que você passou, mas os seus fãs e o resto do mundo não sabem”, ela me falava. Um exemplo: ninguém sabe que eu fui batizado dentro do Vaticano, na Itália, e contei isso no livro. Foi ótimo ela ter sugerido fazermos a autobiografia, pois eu nem penso nessas coisas, meu lance é tocar metal o dia inteiro. Não tenho cabeça para pensar em outras coisas desse tipo. Mas metemos bronca e estou super orgulhoso do sucesso que ele está tendo.

No livro, você chama a atual empresária do Sepultura de ‘piranha’. Você não teve medo de gerar problemas, ou até mesmo enfrentar algum processo?

Eu resolvi escrever do jeito que eu vejo as coisas, e eu não gosto dela mesmo! Pra mim foi verdadeiro e não estou ligando se for processado, ou algo do tipo. Não me incomoda, não.

Após sua saída do Sepultura, você ficou muito tempo sem vir ao Brasil. Por que? 

Foi difícil no começo, pois as pessoas ficaram chocadas por eu ter saído do Sepultura, estavam com raiva da situação. Mas valeu a pena esperar o momento certo para voltar. A última turnê do Soulfly foi maravilhosa. Ou quando tocamos no festival SWU com o Cavalera, que foi um dos nossos melhores shows até hoje. Agora sou muito bem recebido no Brasil. Fico mais à vontade.

Do que você sente mais falta do Brasil? Sem citar a família e os amigos. 

O próprio lugar mesmo. É aquela coisa de ‘estar lá’. Até o cheiro do Brasil é diferente quando você sai do aeroporto. É uma coisa psicológica. E adoro sair de rolê na rua sozinho. Tomar caldo de cana na praia. Faz parte de ser do Brasil.

Você acompanha o que acontece na música no Brasil?

Pouco, pois não sou muito de internet e não tenho quase nenhum acesso. Sou meio homem das cavernas. Mas conheço o Test, que é uma p*ta banda legal. O Oitão também. O underground do Brasil é muito grande, então deve ter uns death metal muito animal rolando por aí.

 

 

Poucos músicos tem a possibilidade de tocar profissionalmente com seus filhos. Qual é a sensação?

Hoje em dia já acostumei com isso. Virou rotina sair em turnê com eles. O Zyon toca no Soulfly. Tenho o maior orgulho de compartilhar o palco com ele. Adoro também a banda dele com o Igor, o Lody Kong, sou fã.

Bom, muita gente lhe pergunta se a formação clássica do Sepultura pode voltar a tocar junta um dia. Vou fazer diferente: você convidaria algum músico do Sepultura para participar de um álbum seu, ou você participaria de algum disco do Sepultura?

Sempre que vamos para Belo Horizonte, o Jairo Guedez (da primeira formação do Sepultura) toca Troops Of Doom com a gente, então ele seria uma opção legal para um dia participar de algo meu. Agora da formação atual, já é uma situação mais delicada, pois já rolou muita treta entre a gente. Mas por mim, se eu fosse convidado a fazer uma participação em algum disco do Sepultura, eu até aceitaria.

 

                    

 

SERVIÇO:

1° Metal Manifest (com Cavalera Conspiracy, Krisiun e Korzus)

Data: 12 de setembro – 21h

Local: HSBC Brasil – Rua Braganca Paulista, 1281 – Chácara Sto Antônio, São Paulo

Preços: de R$ 120 a R$ 300 – http://www.ingressorapido.com.br/Evento.aspx?ID=34092

 


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Max Cavalera: 'Agora sou muito bem recebido no Brasil. Valeu a pena esperar o momento certo para voltar'.