Teto Preto

Uma das mais importantes feiras de negócios da música da América Latina, a Semana Internacional de Música de São Paulo, tem como proposta de colocar em evidência e em discussão novas ideias e conceitos que estão transformando o cenário mundial, além de capacitar e conectar pessoas.

Durante cinco dias, a capital paulista vira ponto de encontro para profissionais de todos os setores da indústria musical, artistas, jornalistas e apaixonados por cultura e inovação do Brasil e de vários países.

Entre as atrações da SIM, está a Teto Preto. A banda surge do encontro do circuito de bandas e da música eletrônica nas ruas, casas noturnas e festivais e desenvolve uma performance sonora-visual corajosa, que abarca as mais diversas vertentes e timbragens da música brasileira e internacional.

Com um repertório autoral canções e pós-canções, o grupo instaura uma atmosfera antropofagizante fortemente feminina. Leia nossa entrevista com Laura Diaz em que ela comenta sobre a cena, São Paulo, referências, influências e outros assuntos:

O que tá rolando de mais legal na música hoje, na sua opinião?
Laura Diaz – Acho que é um instinto coletivo feminino de libertação y conquista dos corpos. São os soundsystems de rua, os pequenos puteiros e casas de shows, as festas independentes..

Toda as iniciativas que surgem de uma necessidade de atuação no lugar em que surgem. Seja nos rochedos fundamentais da Ava y da Elza que ainda nos cantam uma grandiosa e épica cultura, seja no dia a dia da noite na Linn da Quebrada, Jup do Bairro, Badsista, Pininga, Cashu, Rakta, Karol Conka, Alice Guél, Tantao e os Fita, Deaf Kids, Mc Carol Bandida y toda a juventude pesada desse eletrônico da MAMBAREC, Meia Vida, Dama da Noite, A Onda Errada, Metanol, Masterplano.

Estou mais focada em conhecer o trabalho de mais mulheres, trans, gay, drag e pretxs. Pra mim, esse é o futuro.

Existe algo na sua música de vocês que seja tipicamente paulistano?
Laura – O fato de não necessariamente sermos daqui e estarmos em Sao Paulo.

Que características crê que sejam mais marcantes da sua geração?
Laura – Potência para lutar pela chance de um futuro. Vemos cada vez mais as pretas, as mulheres, sapatão, travestis ganhando espaço em todos os lugares, provando que o sistema patriarcal capitalista atual em agonia é possível apenas mendiante uma politica de genocídios e silenciamentos sistemáticos das pessoas que trabalham, lutam pra viver e movem o mundo. Na medida em que ganhamos, o fascismo avança a passos largos. E nós temos que nos fortalecer, cada vez maiores y mais fortes. Nossa luta se renova e se revela através das gerações.

Quais são suas maiores referências estéticas?
Laura – Zé Celso, Marx, Oswald de Andrade, Augusto e Haroldo, Hermeto, Iggy Pop, Itamar, Ian Curtis, Bowie, Pignatari, William e Steve Reich, Brian Eno, Paulo Autran, Grande Othelo, Jardel Filho, Caetano, Roberto Piva, New York Dolls, Kraftwerk, Can, Os Mutantes, Gláuber, Trotsky, Rogério, Ozualdo, Kenneth Anger, David Lynch, Joseph Beyus, Eduardo Viveiros, Oiticica, Lênin, Gabriel Garcia Marquez, Euclides, Kazuo Ohno e todas as boas casas dos caralhos (devo estar esquecendo de muitos e ótimos). Ítala Nandi, Helena Ignêz, Fábia Bercsek, Siouxsie, Gal, Flora, Hilda, Marinas, Madonna, Clarice, Sônia, Elza, Bikini Kill, Patty Smith, Divine, Lydia Lunch, Paul Preciado, Pina, Lina Bo, Lygia Clark, Cacilda, Safo, Heloísa de Lesbos entre tantas bacas feras da história que eu ainda vou conhecer. Devoro todos estes defuntos brancos putrefatos, quero virá-los do avesso. O direito ao avesso.

Quais são suas maiores influências?
Laura – A implosão dos objetos artísticos é o meu objetivo e referência. De alguma maneira, a bibliografia é quase sempre masculina ainda, enquanto o cotidiano de transformação y luta diária é de referência majoritariamente feminina. Fui atravessada por Glauber Rocha y a utopia moderna com quem topei no Teat(r)o Oficina também. Me formei na militância política e ação direta. Encontrei na noite um lugar para construír, para ser respeitada, para trabalhar e ser reconhecida com as manas y monas. Nelas me encontro, me espelho e reconheço: Alma Negrot, Ana Gisele, Anna Operman, Caroline Antônio, Cashu, Dany Bany, Raio Gama, Kael Studart, Loic Koutana, Kitty Kawakubo, Patrícia Bergantin, Thiago Roberto, Valentina Luz, Linn da Quebrada, Jup do Bairro, Badsista sao alguns nomes das dezenas de artistas que colocam a vida em jogo por essa vida que construírmos. Obrigada manas, aprendo todos os dias com vocês que juntas somos mais fortes <3

Quais são seus valores essenciais?
Laura – C A R N E O S S O chave de buceta carne de pescoço o que é nosso ninguém tira.

SERVIÇO

SIM São Paulo 2018
Onde: Centro Cultural São Paulo + 42 casas de shows
Quando: 5 a 9 de dezembro Programação: festa de abertura, showcases diurnos, programação noturna, conferência, networking & business PRO-BADGE (credencial): R$ 280,00 (segundo lote – até 30/11); R$ 350,00 (terceiro lote – a partir de 01/12) Credenciados têm acesso livre à programação completa da SIM.

Artistas novos que você precisa ouvir agora


Créditos: Caroline Lima

int(1)

'Mulheres, trans, gay, drag e pretas são o futuro', diz Teto Preto