Kurt Cobain


Créditos: Getty Images

No fatídico clube dos 27, de artistas que morreram com esta idade, figuram nomes como Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e Amy Winehouse. Destes, Cobain (1967-1994) foi o único suicida.

 

Apesar de longe de torná-lo um herói, o trágico desfecho do vocalista do Nirvana é o que carrega maior dramaticidade e simbologia, a ponto de que para alguns, o rock morreu junto com ele. 

“Há uma legião de jovens que nem havia nascido quando ele morreu e que o cultua como se fosse um ídolo atual”, afirma o dramaturgo e jornalista Sérgio Roveri ao Virgula Música. Ele é autor do texto da peça Aberdeen – Um Possível Kurt Cobain, com atuação Nicolas Trevijano, que também falou com a gente, e direção José Roberto Jardim. 

“Nossa grande alegria, e também dos programadores dos inúmeros teatros nos quais já nos apresentamos, foi ver que Aberdeen conquistou um público que nunca havia ido ao teatro antes”, conta Roveri. Apesar de todo o culto ao músico, seu aniversário, celebrado na quarta-feira (2), quando teria feito 46 anos, passou praticamente em branco.

Qual é a maior dificuldade em fazer a dramaturgia de um personagem que existiu?

Sérgio Roveri – Talvez seja preservar o respeito ao fato histórico e à vida do personagem. Kurt Cobain continua sendo, quase 20 anos após sua morte, uma figura de domínio público. Há uma legião de jovens que nem havia nascido quando ele morreu e que o cultua como se fosse um ídolo atual. 

São fatos que devem ser levados em consideração na hora de escrever – ele não é um personagem de ficção e, por isso mesmo, impõe alguns limites no ato da criação. Embora exista muita liberdade no espetáculo Aberdeen – Um Possível Kurt Cobain, tudo que é apresentado no palco é fiel ao universo dele.

Nicolas Trevijano – maior dificuldade.. Bom, todo mundo conhece o Kurt de alguma forma. Temos muita coisa dele. Shows, entrevistas, etc, então a imagem dele é muito presente ainda hoje. Se estivessemos falando de alguém de uma época menos explorada pela TV, talvez fosse mais fácil. Mas ele surge bem na época da MTV e dos clipes. Acho que essa construção foi muito praticamente resolvida pelo diretor, logo no primeiro ensaio. Lembro que ele me disse: “Quero que você construa esse cara de dentro pra fora, ou seja, o porque você resolveu falar dele. O que há dele em você, ou onde a história dele te atravessa”. Nesse sentido o que era o meu maior medo, acabou sendo muito tranquilo e verdadeiro pra mim.

Qual é sua relação pessoal com a obra dele? 

Sérgio Roveri - Sempre gostei do Nirvana, via seus clipes na MTV e fui ao único show deles em São Paulo, no Morumbi. Mas, antes de escrever a peça, não tinha nenhum conhecimento mais profundo da figura do Kurt Cobain. Era um artista que eu admirava, mas ele não se destacava, de forma muito especial, de outras figuras do rock e do grunge que eu curtia. 

Escrever a peça me obrigou a um mergulho na vida dele de quase três meses. Hoje gosto mais do Nirvana. O álbum Nevermind, que andava esquecido num canto da estante da sala, agora não sai do meu carro.

Nicolas Trevijano - Sou muito fã da musica dele, sem dúvidas. Mas no caso da peça foi porque a história dele mexeu demais comigo, mesmo depois de velho. Ao assitir o filme About a Son resolvi fazer a peça. Conheci o Kurt Donald Cobain, não o músico. Falar desse homem que aparentemente tinha tudo, mas mesmo assim não era feliz. Fora que na minha idade – 37 anos na época – tive uma crise existencial. Muitas perguntas e poucas respostas. A peça me ajudou a viver isso.

Como é levar para o teatro um assunto “estranho” a este meio?

Sérgio Roveri - Eu, o ator Nicolas Trevijano, que faz o Kurt Cobain no palco, e o diretor José Roberto Jardim tínhamos muito medo no início. Ficávamos nos perguntando quem poderia se interessar por um músico morto há quase 20 anos, alguém visto como um desajustado, um rebelde e até mesmo um garoto mimado.

Mas o lado humano da figura do Kurt Cobain é maior que tudo isso. Descobrimos, ao longo do processo, que poderia haver uma grande identificação entre o público e o personagem. E foi o que ocorreu. Penso que toda estranheza do tema e da própria figura do Kobain tenha se diluído diante daquilo tudo que ele ainda tem a dizer.

Nicolas Trevijano – Bom, como ator eu sempre tive vontade de fazer projetos, de falar, pensar e discutir coisas que me atravessam e me inquietam. Essa história não é mais uma no meu curriculo, mas um marco na minha vida. Eu precisava falar disso nesta hora. E se como artista eu só pensar no que as pessoas querem ver… Melhor ir fazer outra coisa (risos). 

 

Quem é o público da peça?

Sérgio Roveri - Nossa grande alegria, e também dos programadores dos inúmeros teatros nos quais já nos apresentamos, foi ver que Aberdeen conquistou um público que nunca havia ido ao teatro antes. O interesse dos jovens pelo espetáculo é muito grande. Víamos na plateia garotas de 13 a 14 anos vestindo camisetas com o rosto do Cobain estampado, usando imagens dele no celular e nos iPads. 

Mas não só os jovens. Atraímos também muita gente que tem hoje a idade que Cobain teria – por coincidência, ele estaria fazendo 46 anos hoje (ontem). A diversidade do público foi uma grande surpresa para nós.

Nicolas Trevijano – O público é bem eclético. Desde fãs com camiseta até pessoas que nem sabem quem foi o Kurt. Mas o mais legal é que acho que conseguimos contar a história de um homem, não de um mito, e assim ser comum a todos nós.

Veja teaser de Aberdeen – Um Possível Kurt Cobain 




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Peça sobre Kurt Cobain conquista público que nunca tinha ido ao teatro, diz dramaturgo