Alt Niss por Marina Bernardo

Alt Niss está pronta para explodir e colocar o Brasil no mapa mundial da vanguarda do r&b e neo soul.

Agora como artista da produtora Boogie Naipe, ela é a primeira mulher em que o grupo liderado por Eliane Dias, na linha de frente dos Racionais MC’s, investe.

A cantora prepara sua mixtape de estreia, ainda sem título, com direção artística dela mesma e direção musical de DIA.

Nascida e criada na zona sul de São Paulo, Alt Niss começou a cantar e a compor influenciada pelos bailes de melodia frequentados pela mãe e pelos tios – assim eram chamadas as festas do gênero black music no Brasil dos anos 80 e 90, quando ainda era criança. E, apesar de vir de uma família de sambistas, foi o R&B que falou mais alto.

Por volta dos 16 anos estudou técnica vocal com uma professora de canto erudito, o que a levou a ter mais conhecimento musical e domínio de voz. Um ano depois, começou a cantar profissionalmente como backing vocal nos palcos e em estúdios.

No rap, colaborou com nomes como Slim Rimografia, Amiri, Renan Samam e Dee, do 5pra1, Drik Barbosa, Tatiana Bispo, Rodrigo Locaut e Geenuino. Dividiu palco com Rico Dalasam no show de fechamento de sua primeira turnê, Fervo do Dalasam, de seu primeiro EP, Modo Diverso, em São Paulo.

Atualmente, integra o coletivo Anti Social Mídia, formado por artistas de diversas frentes da zona sul paulistana, e do elogiado Rimas & Melodias, ao lado de Tatiana Bispo, Mayra Maldjian, Drik Barbosa, Karol de Souza, Stefanie e Tássia Reis – e, 2017, o grupo feminino lançou seu disco homônimo de estreia e o single “Elza”, com clipe produzido por Kondzilla, em homenagem à Elza Soares

Você é a primeira artistas mulher da produtora Boogie Naipe, crê que a convivência profissional com Eliane Dias seja algo que possa te inspirar pessoalmente, além da música?
Alt Niss – Ela já me inspirava bastante antes, quando eu a acompanhava de longe, conviver com uma mulher forte como ela tem sido uma honra e acredito que sim, tudo é aprendizado.

Você mesma fez a direção artística e musical da sua primeira mixtape, acha que as mulheres produtoras musicais, instrumentistas, técnicas, são o próximo território a ser conquistado?
Alt Niss – Eu faço a direção artística das minhas músicas, direção musical ainda não. Acredito que dividir funções com outros profissionais também é importante, mas falando de conceito eu sei o que quero e quais caminhos seguir com a minha sonoridade então prefiro cuidar disso. Costumo dizer que tentar me convencer a fazer música X ou Y é uma missão quase impossível, porque eu preciso querer trabalhar em algo antes de tudo.

Musicalmente falando eu só faço o que eu quero e normalmente na minha cabeça sei o porquê de tudo. Acredito que as mulheres têm tudo pra alcançar mais autonomia artística, dedicação é essencial pra isso. Eu pretendo estudar muito ainda, pois meu foco é alcançar mais autonomia na parte técnica, de áudio.

Costumo fuçar em programas de produção e fazer beats de vez em quando e conheço algumas meninas como eu, acho que a tendência é crescer. Tem muita mina instrumentista, operadora de técnica em estúdio grande, técnica de som, eu acredito que vai aumentar.

O que você acha que está rolando de mais interessante na música hoje?
Alt Niss – Eu acredito que a quebra de limites e paradigmas é algo muito interessante, a evolução de lírica, falar de coisas atuais, problemas atuais, assuntos atuais, falar de amor de forma atual. Gosto de artista que entendem a evolução da época e vive o presente. Eu ouço de tudo um pouco. Porque é necessário compreender a mente jovem. Gosto de misturas sonoras também, um dos melhores shows que vi nos últimos tempos aqui e um exemplo a ser citado é Larissa Luz, que consegue mesclar a batida baiana com o dubsteb no mesmo som, num vocal e performance impecáveis. Ou IAMDDB que traz a melódica jazz em batidas de trap, numa lírica totalmente rua. Kelela canta melodias de R&B 90 em instrumentais imprevisíveis de bass music. Sei lá gosto de muita coisa que tá rolando. Acho que a ousadia e a segurança é a base.

Quais são seus valores essenciais enquanto artista?
Alt Niss – Saber chegar, saber sair. Saber respeitar e também ser respeitada. Não sou perfeita como pessoa, mas é preciso ter esses e outros valores fixados na mente. Não considero meu som estritamente político, quero ser livre pra falar do que eu quiser. Mas tenho meus posicionamentos como individual. E isso pauta minhas escolhas artísticas também.

Crê que sua abordagem musical seja um hibridismo entre o R&B e o samba?
Alt Niss – Não exatamente. Apesar de eu ter alguma influência do samba isso é mais de vida do que de música. Meu pai é um mestre do samba mas não tivemos convivência suficiente pra que me influenciasse musicalmente. E falo com tristeza pois eu amo o samba. E hoje eu sinto o quanto gostaria de ter tido mais essa vivência. Mas de fato segui um caminho que foi totalmente individual pra música, e dentro do que estava ao meu alcance na infância e adolescência. Eu consumo muito mais de outras sonoridades pra construir a minha, o samba é um amor platônico (risos).

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Créditos: Caroline Lima

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'Quebra de limites e paradigmas é interessante', diz Alt Niss