Edgar

Nome quente do novo rap, Edgar cria seus próprios figurinos e usa o surreal como base para letras inventivas. Recentemente, ele participou das gravações de Deus é Mulher, novo disco da lendária Elza Soares – tá bem de madrinha. O rapaz de Guarulhos, de 24 anos, também é multiartista, poeta e performer.

Influenciado pela música regional brasileira e outras culturas, ele diz fazer “rap bem experimental”. Seus trabalhos possuem forte poder imagético e visual, já que cria performances multimidias e sensoriais. Em 2017, lançou o álbum Edgar, produzido por ele mesmo e com a proposta de ser um livro audiovisual e, em 2018, prepara um segundo álbum produzido por Pupilo, do grupo Nação Zumbi.

Com painéis, showcases, workshops e palestras que acontecem durante todo o mês de abril, o Red Bull Music Pulso, imersão musical de quatro semanas que ocupa o prédio do Red Bull Station, no centro de São Paulo. São 30 artistas independentes de diversas partes do país que estarão reunidos durante todo o mês em uma residência colaborativa com o intuito de produzir música e criar conexões regionais.

Em que momento da vida soube que seria MC/compositor?
Edgar – Quando eu estava na quarta série eu fui fazer uma prova na escola cujo tema era ˜carta˜. Eu terminei o texto e fui um dos únicos alunos que conseguiu nota na máxima na redação. A partir daí, vi que meus textos poderiam ter algum potencial. Eu sempre escrevia minhas coisas e guardava, com ou sem rima. Mais tarde, em 2017, quando vi uma peça de teatro, percebi que o que eu escrevia poderia ser tanto música, quanto performance, quanto algo para uma pessoa louca no metrô gritar. Aí falei: ˜Epa, bora gritar!˜

Você pode adiantar algo sobre seus próximos projetos?
Edgar – Quero aprender a projetar, fazer hologramas, mexer com arte eletrônica e tecnologia. É algo novo que pretendo inserir na minha vida, mas ainda não tenho bons contatos. Na música, lançarei ainda este ano um disco produzido pelo Pupilo Oliveira, baterista da banda Nação Zumbi, que estamos produzindo desde 2016. Um disco com 10 faixas e participações da cantora Céu e de Rodrigo Brandão.

Que artistas são modelos de carreira para você?
Edgar – A gente costuma ter como modelos gente que está no mainstream, mas vou citar umas pessoas que estão próximas de mim e me influenciam. Eu participei da trilha sonora de um filme sobre o Badaróss, conhecido como o ˜Basquiat da Cracolândia˜. Ele é muito inspirador para mim, um propulsor na nave, independente do que ele é ou deixa de ser, ele continua fazendo sua arte. Tem também o Miró, não o pintor famoso, mas o Miró da Muribeca, de Recife, que é um poeta que chora de verdade na hora em que recita seus poemas, uma das coisas que mais faltam hoje. Os slams na maioria das vezes ou estão muito egoicos ou estão lutando por coisas que não passaram, estão num pensamento visionário que só  gera mais ego… Outro modelo é minha mãe, que vendeu tudo que tinha pra cuidar do meu pai com câncer. Esses são alguns modelos pra mim.

Crê que exista algo na sua música que seja específico do seu lugar de origem?
Edgar – Alofones (formas fonéticas variadas de um fonema) estão presentes na música e são daqui. Essa miscigenação linguística e cultural que tem no Brasil é muito importante na minha música. Eu sou muito agradecido por ter nascido aqui, não me vejo em outro lugar. Tudo que tem no Brasil eu carrego na minha música e me influencia. É o pisar, o andar torto e com pressa do paulista; é a fala mole do baiano; o axé do pernambucano; todas essas características misturas e os odores mixados formam a minhas música e a constroem essa paisagem sonora.

Com que idade você está? Que características vê como as mais marcantes de sua geração? O que está rolando de mais novo na música brasileira hoje, na sua opinião?
Edgar – Estou com 24 anos, nascido em 93. Na minha opinião, o que deveria estar rolando de mais novo é a prisão do Lula, é o impeachment da Dilma, é a falta de noção do Temer, é a herança do escravismo tão presente. Tudo isso tinha que ser tema fundamental na música e nas escolas do Brasil também. Todas essas reivindicações das minorias que vemos hoje ( dos negros, das mulheres, das mulheres pretas, das trans, das gays etc.) transformam o momento atual do mais épico já vivido pela nossa música.


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'Quero fazer hologramas', diz Edgar, talento do novo rap nacional