Mãos para o alto, coreografias alucinadas, festa com os amigos e letras cuidadosamente decoradas. Os heróis indies do Vampire Weekend tiveram em São Paulo uma recepção com o tipo de histeria normalmente reservada apenas para astros do mainstream. Sinal dos tempos: hoje o indie-rock está muito longe de ser underground e uma banda com pouca estrada como o Vampire Weekend consegue emplacar seu segundo álbum no topo das paradas dos EUA.

Mas isso é sucesso, não “mega”-sucesso. Mesmo com um público relativamente pequeno no Via Funchal, o Vampire Weekend fez uma apresentação animada, transformando a casa de shows em um verdadeiro baile. O público puxava os amigos para dançar e fazia rodinhas com coreografias improvisadas para acompanhar o som do grupo.

Com dois álbuns no currículo, o Vampire Weekend ganhou fama por misturar fortes influências do pop com elementos afrobeat e do indie-rock. Essa junção, que tinha cara de inovação em 2008, trouxe boas musicas como Cape Cod Kwassa Kwassa, A-Punk e Oxford Comma. Com seu segundo álbum, Contra, a banda usou os elementos de música africana de maneira menos evidente, mostrando que tais características já estão no DNA da banda e não precisam mais ser expostas na vitrine.

No show desta terça-feira (1), a banda, liderada pelo simpático Ezra Koenig, mostrou que é a pegada do segundo álbum a cara atual do Vampire Weekend. Os elementos de afrobeat estão aí para quem quiser ver e destrinchar o som da banda com cuidado, mas o negócio do Vampire Weekend é o pop. Puro e simples, sem rodeios, com músicas curtas, acordes pegajosos e melodias para cantar junto e fazer “hey hey” e “u-hu”.

Não foi milagre que levou o Vampire Weekend ao topo da parada pop da Billboard: a banda, cada vez mais, mostra que sua vocação é fazer o público dançar e cantar junto letras divertidas e irreverentes. Mais pop impossível! Mesmo falando pouco com o público, a banda fez questão de mostrar que estava se divertindo. Pop que se leva a sério pode cair no ridículo, mas o Vampire Weekend é inteligente o suficiente para brincar com a própria origem, a própria imagem e se jogar no mainstream sem medo do passado.

No setlist, a banda equilibrou as canções de seus dois álbuns, como Holiday, White Sky, Cape Cod Kwassa Kwassa, I Stand Corrected, MT9, Bryn, California English, Cousins, Run, A-Punk, Contra, Horchata e Mansard Roof.

A plateia sabia grande parte das letras de cor, e comprovou que acabou essa história de que só artistas absurdamente bombados têm público significativo no Brasil e na América do Sul em geral. E, claro, acabou evidenciando outro quesito: de que o termo “indie” é completamente obsoleto em um cenário que confunde indie-rock com o termo tradicional (que significa independente) e que não é mais guiado pelas tradicionais fronteiras entre underground e mainstream.

PARECE COM SI MESMO

Mesmo tendo organizado um repertório não só essencialmente pop como preocupado em se reinventar constantemente, com canções antigas repaginadas, o show do Vampire Weekend ainda traz um problema: as músicas ao vivo soam muito parecidas, causando uma certa dispersão do público em alguns momentos.

Além disso, outro problema é que o Vampire Weekend ainda não é uma banda de grandes arenas, e seu som funciona melhor em um lugar pequeno, com proximidade maior dos fãs. Talvez por isso, a última apresentação do grupo no Brasil, que acontece no Circo Voador (RJ) nesta quinta-feira (3), deva conseguir mostrar mais a empatia que a banda tem com seu público.


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Vampire Weekend faz show aplaudido em SP e mostra vocação definitiva para ser pop