Foi lançado na web nesse domingo (18) o documentário Terminal Grajaú: Humilhação Coletiva, que acompanha o cotidiano de passageiros de transporte público no bairro do extremo sul da capital paulista. No filme de nove minutos, produzido entre 2012 e 2013 pelo coletivo Luta do Transporte No Extremo Sul, usuários reclamam de problemas na integração entre a linha 9-Esmeralda da CPTM e o terminal de ônibus inagurado em 2008, durante gestão do prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM, atual PSD).

De acordo com os relatos, as viagens entre o centro e as regiões periféricas da cidade ficaram mais longas após a implementação do terminal. “O trajeto que a gente fazia, que ia direto para o Terminal Santo Amaro, agora tem esse intervalo aqui [no Terminal Grajaú]. Realmente piorou. O que era bom é que fazíamos o itinerário direto”, se queixa uma usuária.

Desde então, linhas que ligavam o extremo sul ao centro deixaram de existir. É preciso fazer baldeação por meio de uma das 14 linhas do terminal. “Três horas pra chegar ao trabalho, três pra voltar. É o tempo que você poderia ficar em casa com o seu filho”, diz uma jovem. Estima-se que mais de 1 milhão de passageiros passem pelo terminal Grajaú todos os dias. 

Procurado pela reportagem do Virgula, o coletivo declarou que está “realizando conversas em comunidades e tentando identificar que medidas práticas a população entende que melhorariam seu dia a dia no transporte.  As linhas diretas para centro estão entre estas reclamações”. 

Assista:

Vídeo mostra a situação precária do transporte público em SP

Mobilidade Urbana

O prefeito Fernando Haddad (PT) apresentou na manhã desta segunda-feira (19) o novo Plano Diretor de São Paulo. O plano, que estabelece diretrizes para construções comerciais e residenciais, pretende aumentar o número de construções próximas a corredores de ônibus e estações de metrô e limitar o número de vagas de garagem em prédios. Segundo Haddad, o excesso de vagas em certas regiões contribuiu para o entupimento do trânsito em bairros como Itaim Bibi e Vila Olímpia.

Questões políticas

Não é a primeira vez que o transporte público de São Paulo se torna centro do debate político da cidade. Em 1952, o fotojornalista francês Jean Manzon lançou o documentário A Luta Pelo Transporte em São Paulo. O filme revela que, entre 1951 e 1952 – antes da instalação da indústria automobilística no país – o número de usuários de ônibus dobrou, passando de 1 para 2 milhões por dia. De acordo com o filme, no mesmo período a CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) elevou em 100% o número de ônibus e trolebus – ainda assim sem dar conta da demanda.

“Esta massa humana (…) agrava principalmente os problemas de trânsito e o transporte coletivo. O crescimento das filas e a espera angustiosa pelos ônibus que tardam. Eles já não bastam porque seu número não cresceu no mesmo ritmo vertiginoso de expansão da cidade”, diz a narração.

Filme da década de 50 retrata a luta pelo transporte público

O filme é um entre os mais de 900 documentários dirigidos por Manzon com apoio do IPES, Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, financiado pelo governo norte-americano de John F. Kennedy. Com sede no Rio de Janeiro, o instituto foi um dos maiores catalisadores do pensamento anti-João Goulart, último presidente do Brasil antes do golpe militar em 1964. 


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Documentário 'Terminal Grajaú: Humilhação Coletiva' mostra sofrimento de usuários de ônibus em SP