Uma longa viagem

Pela cara de bom moço logo dá para perceber que o ator Caio Blat é desse rolê mais zen. O objetivo de todo santo dia do cara é encontrar essa tal de
Pela cara de bom moço logo dá para perceber que o ator Caio Blat é desse rolê mais zen. O objetivo de todo santo dia do cara é encontrar essa tal de "serenidade"
Créditos: gabriel quintão

Recordar é trazer o passado de volta ao coração. E foi com coração aberto que a cineasta Lúcia Murat – dos premiados Que bom te Ver Viva e Quase dois Irmãos – falou sobre sua vida e a vida dos irmãos Heitor e Miguel no filme Uma Longa Viagem, que entra em cartaz nesta sexta-feira (11) e traz a atuação do ator Caio Blat.

O filme, que mescla depoimentos e performance com projeções, inicia com a ida de Heitor – o irmão caçula – a Londres, em 1969. Ele evitava entrar na luta armada contra a ditadura, e enviou cartas durante nove anos sobre sua viagem pelo mundo. O destino das correspondências: Lucia, que teve o caminho inverso e viveu na pele a luta contra a repressão no Brasil.

“São duas reações diferentes de pessoas de um mesmo mundo, da mesma família. Reações que buscam no final das contas o mesmo objetivo, a liberdade”, reflete a cineasta em entrevista exclusiva ao Virgula Diversão. “Mas não se trata de um filme rancoroso, existe um senso de humor fantástico por atrás dele”.

Lúcia diz que o novo longa foi pensado logo após a morte de Miguel, o outro irmão, e que no início teve receio de se expor em uma obra. “A gente estava muito triste, muito solitário e rememorar essas histórias acabou sendo muito bom. As feridas vieram com o medo da exposição, de abrir minha vida para o público”.

Ela confessa que a primeira exibição do filme foi muito difícil e que atualmente recebe o carinho dos espectadores. “A reação da plateia está sendo legal e a simpatia com o Heitor é fantástica. Ele ganha as pessoas com o seu bom humor, com suas sacadas. Costumo dizer que eu era a chata da relação (risos)”, brinca.

Sobre a escalação de Caio, que também está em cartaz com o filme Xingú, a cineasta afirma que era uma parceria que estava para ocorrer há tempos. “Nos trombamos muito nos últimos anos e quase trabalhamos juntos em alguns projetos. Ele é muito diferente fisicamente do meu irmão, mas foi capaz de entrar no personagem, ter essa abertura para falar texto literário, fazer essa viagem”.

Ao comparar sua história com a da geração atual, ela não faz um discurso saudosista. “Tenho me surpreendido. Ao contrário do que pensamos, muitos jovens estão engajados em causas, denunciando torturadores, médicos disfarçados, isso tem sido uma surpresa muito legal. Tenho poucas certezas na minha vida, mas uma opinião é certa: sinto um imenso prazer por minha filha não ter vivido na ditadura”. 

Assista ao trailer 




int(1)

Em novo filme, cineasta Lúcia Murat aborda drama familiar: "Tive medo da exposição"