Neste mês de agosto de 2015, a edição brasileira da revista Playboy comemora 40 anos. Mas agosto também é um mês triste para a publicação, pelo menos para sua matriz norte-americana: em 14 de agosto de 1980, uma de suas coelhinhas em ascensão morria tragicamente.

Dorothy Stratten nasceu em Vancouver, Canadá, em 1960. Tinha apenas 18 anos quando conheceu Paul Snider – um aspirante a empresário, aspirante a celebridade, aspirante a astro, enfim, um wannabe em estágio avançado.

Snider e Dorothy engataram um romance, e ele decidiu que a namorada devia virar uma estrela. Pretendendo lançar a garota e ser seu empresário e descobridor, Snider conseguiu que a jovem posasse nua para um fotógrafo, e enviou as fotos para a Playboy americana.

Na época, a revista estava promovendo a Great Playmate Hunt, buscando descobrir novas modelos. Dorothy agradou e foi chamada para a famosa mansão de Hugh Hefner (o dono da Playboy) em Los Angeles. Ela concorria com outras finalistas para ser a coelhinha dos 25 anos da Playboy – a edição americana foi fundada em 1953. Stratten acabou perdendo a disputa, mas saiu na capa da Playboy em agosto de 1979 – olha o mês sinistro de novo…

Em 1978, tornou-se modelo da revista "Playboy"

Divulgação / Reprodução Em 1978, tornou-se modelo da revista “Playboy”

A essa altura, a modelo já tinha se casado com o alucinado Paul Snider, que continuava atuando como empresário e manipulador da garota. Mas, aos poucos, ela tentava se libertar do controle do marido.

Sua carreira começava a decolar, e ela passou a trabalhar como atriz em pequenos papéis nos filmes Americathon, A Febre dos Patins e Autumn Born (todos em 1979) e nas séries de TV A Ilha da Fantasia e Buck Rogers (no mesmo ano).

Em 1980, virou popstar de vez: Hugh Hefner a escolheu como Playmate do ano da Playboy (foi a 1ª canadense a conseguir essa façanha), e ela atuou em dois filmes: Galaxina e Muito Riso e Muita Alegria.

Este último era dirigido pelo renomado cineasta Peter Bogdanovich, diretor de clássicos como A Última Sessão de Cinema (1971), Essa Pequena é uma Parada (1972) e Lua de Papel (1973). O cineasta tinha um fraco por loiras exuberantes – ele já tinha um histórico: durante as filmagens de A Última Sessão…, envolveu-se com sua protagonista, a ex-modelo e atriz iniciante Cybill Shepperd, por quem abandonou esposa e filhos e com quem ficou casado por quase 10 anos.

Com John Ritter, em "Muito Riso e Muita Alegria", rodado em 1980 e lançado em 1981

Divulgação / Reprodução Com John Ritter, em “Muito Riso e Muita Alegria”, rodado em 1980 e lançado em 1981

Bogdanovich e Stratten se envolveram durante as filmagens de Muito Riso e Muita Alegria, e a modelo decidiu separar-se do marido, de quem já andava bastante afastada. Ele, cada vez mais neurótico e desesperado por perceber que sua “criação” não estava mais em seu poder, acabou provocando um desfecho trágico para essa história novelesca.

Na tarde de 14 de agosto de 1980, Stratten e Snider se encontraram na casa onde tinham vivido como um casal. Ela queria discutir as bases do divórcio, mas ele não deixou que ela saísse da casa. De acordo com as evidências policiais, ele estuprou a mulher, depois matou-a com um tiro no rosto, e em seguida se suicidou.

A terrível história foi adaptada duas vezes: em 1981, no telefilme Mulher Ardente (Death of a Centerfold: The Dorothy Stratten Story), com Jamie Lee Curtis vivendo a modelo; e em 1983, no filme Star 80 (do consagrado diretor Bob Fosse, de Cabaret e All That Jazz), com Mariel Hemingway como Dorothy e Eric Roberts (o irmão de Julia) como o desequilibrado Paul Snider. Bogdanovich escreveu um livro sobre sua relação com a modelo, The Killing of the Unicorn, lançado em 1984.

Em 1983, o filme "Star 80" dramatizou a vida da modelo

Divulgação / Reprodução Em 1983, o filme “Star 80” dramatizou a vida da modelo

A história de Dorothy Stratten lembra muitos outros casos semelhantes, envolvendo atrizes e modelos que terminaram assassinadas por homens perturbados, em evidentes reflexos de machismo e dominação sexual e social. No Brasil, em dezembro de 1992, um caso parecido foi o da atriz Daniella Perez, filha da novelista Glória Perez, morta por seu colega de cena na novela escrita pela mãe, De Corpo e Alma – ele foi ajudado por sua esposa Paula Thomaz na execução do crime. Ambos estão soltos.

A triste ironia do destino foi o lançamento, somente em 1981, do filme Muito Riso e Muita Alegria – o longa trazia Dorothy em um dos papéis centrais, no primeiro personagem importante de sua carreira. O filme iria catapultar a carreira dela como atriz, mas acabou servindo como triste epitáfio.

Dorothy Stratten (1960-1980)

Dorothy Stratten nasceu em Vancouver, Canadá, em fevereiro de 1960
Dorothy Stratten nasceu em Vancouver, Canadá, em fevereiro de 1960
Créditos: Divulgação / Reprodução

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