Quem assiste aos vídeos do Porta dos Fundos, canal de internet que não tem problemas em fazer chacota de políticos, tabús ou religiões, pode ser levado a crer que seus roteiristas não têm freios quando o assunto é humor. João Vicente de Castro, roteirista e um dos fundadores do projeto, garante que não é bem assim. Em entrevista ao Virgula Diversão, o autor, que namora a repórter do Pânico na Band Sabrina Sato, falou sobre o tipo de humor feito pela produtora.

“Não batemos em ninguém de graça, não zoamos ninguém de graça. Se a coisa for engraçada, acho que vale”, diz o roteirista, que passa longe de piadas homofóbicas e discriminatórias. “Humor de estereótipo, a gente não acha engraçado”, explica.

O empresário, que trabalhou como roterista da TV Globo, diz gostar mais de realizar humor para a internet, uma vez que ela permite uma liberdade criativa maior. “Acho que, no futuro, o humor na internet vai ser cada vez mais forte”, afirma.

Veja, a seguir, o bate-papo de João Vicente com o Virgula Diversão.


Você é roteirista por ofício mas, recentemente, tem atuado mais nos vídeos do Porta dos Fundos. Se sente confortável na função de ator?

Eu me sinto confortável, sim, porque faz sentido dentro do nosso contexto. É uma coisa nossa e gostamos de fazer parte disso. Estou aprendendo pra cacete. Eu não sei muita coisa [de atuação], mas estou fazendo. O importante é dar a cara para bater.


A atuação é algo que você levaria adiante?

Por enquanto, sim. Acho que faz sentido porque fazemos tudo juntos e ao mesmo tempo. Não sei daqui para frente. Não sei se eu faria televisão, não é algo em que eu pense.


Você fez muitos roteiros para a Globo. Qual é a diferença fundamental entre fazer humor para a internet e fazer humor para a televisão?

Na internet, eu posso fazer o que eu quiser. Na televisão tem regras disso, tem regra daquilo; não pode isso, não pode aquilo. Esse é o fundamental. Eu gosto mais de fazer humor para a internet.


Você acha que o futuro do humor está na internet?

Acho que, no futuro, o humor de internet vai ser cada vez mais forte. Mas a televisão continuará forte, assim como o rádio. O que acho é que a gente está ganhando um espaço que a internet não tinha antes. Nós, produtores de conteúdo de web, de conteúdo bom, estamos abrindo um espaço bacana.


O Porta dos Fundos impõe algum limite para o humor?

Impõe. Fazemos o que é engraçado e o que faz sentido. Não batemos em ninguém de graça, não zoamos ninguém de graça. Se a coisa for engraçada, acho que vale. Humor de estereótipo, por exemplo, a gente não acha engraçado.


Como surgem as ideias para roteiros?

Todos nós, do Porta dos Fundos, somos roteiristas. Eu e o Ian [SBF] escrevemos menos porque estamos no dia a dia da produtora. Mas as ideias surgem com a gente observando a vida, o que acontece em nossa volta. O humor do Porta dos Fundos é muito de cotidiano. Todo mundo escreve roteiros, manda para o Fábio e senta junto, uma vez por semana, para discutir, debater, aprovar e reprovar.


O pessoal do Porta dos Fundos sempre esteve envolvido com muitos projetos ao mesmo tempo. Com a visibilidade do canal, há ainda mais trabalho surgindo para vocês. Isso não atrapalha a dinâmica de criação?  

Não atrapalha, porque a gente tem muito em nossas cabeças que o Porta é a coisa mais importante em nossas vidas. A prioridade é essa.


Existe alguma competição interna do tipo, “O vídeo do João Vicente deu mais visualizações, ou o do Porchat deu mais ainda?”

Só de brinquedeira. O Kibe [Antonio Pedro Tabet] fala do Sobre a Mesa, o Fábio [Porchat] fala do Na Lata. Cada um fala de um, e é engraçado. Mas não é uma competição de verdade.


Qual é o seu vídeo preferido do Porta dos Fundos?

É difícil. Essa é a pior pergunta. Tem vários. Tem a Pessoa Amada, tem Deus, tem o Village People. Tem vídeos que me fazem pensar, ‘Caralho, o cara foi muito foda de conseguir escrever esse roteiro’. Tem coisa que eu pago pau mesmo.


Hoje, você é mais conhecido pelo seu trabalho no Porta do que por ter sido namorado da Cleo Pires, ou por ser namorado da Sabrina Sato?

Acho que sim. Nunca ninguém chegou e falou, ‘Tira uma foto comigo porque você é o namorado da Sabrina’. É que nunca haviam me reconhecido. Agora, acontece um pouquinho, por causa do Porta. Mas é claro que não me reconhecem como reconhecem o Fábio Porchat e o Gregório Duviver [integrantes do Porta dos Fundos].


int(1)

João Vicente, do Porta dos Fundos: 'Não batemos em ninguém de graça'