Estreou mundialmente na última sexta-feira (6) a segunda temporada de Orange is The New Black, série original do Netflix que tomou o mundo de assalto em 2013. Após uma primeira temporada comentadíssima, a atração – baseada na história real de Piper Kerman – começou com movimentos ousados de sua criadora, Jenji Kohan.

Atenção: esta matéria contém spoilers sobre a segunda temporada da série Orange Is The New Black

A começar pelo primeiro episódio, em que Piper (Taylor Schilling) é levada no meio da noite para fora do presídio Litchfield, deixando a protagonista e o espectador sem saber o que acontece. Levada para uma prisão em Chicago e cerdada por novos personagens, por um momento o roteiro faz quem asisste pensar que ela ficará por lá pelo resto da temporada. A mensagem é ousada: o programa poderia sobreviver sem seus coadjuvantes. No segundo episódio, de volta a Litchfield, Piper não aparece. Então, um novo recado dos roteiristas: a série poderia sobreviver sem sua protagonista.

Nenhuma das anteriores é testada para valer, já que Piper retorna a Litchfield após ser traída por Alex Vause (Laura Prepon), que é liberada da prisão e fica em condicional. A partir daí, o programa investe pesadamente em personagens que não tiveram tanto destaque na primeira temporada, com destaque para Taystee (Danielle Brooks) e Miss Rosa (Barbara Rosenblat), que sofre de câncer e sai do presídio semanalmente para fazer sessões de quimioterapia. As duas novas tramas enriquecem a série com profundidade e ricos dilemas, mas o que sofre é o tempo de Piper na tela, que é reduzido dramaticamente na segunda temporada.

Um dos trunfos de Orange is The New Black é seu elenco de coadjuvantes. Além das performances excelentes, o roteiro apresentada cada uma com riqueza de detalhes e sutilezas, seja por meio de flashbacks ou de conflitos dentro da própria prisão. Assim, personagens como Red (Kate Mulgrew) ganharam o carinho do público. O mesmo vale para a nova antagonista Vee, vivida por uma Lorraine Toussaint em excelente forma.

Outro ponto positivo é a diversidade e a veracidade de cada personagem – são mulheres reais na tela, de todas as raças, credos e diferentes condições de escolaridade e privilégio, coisa que raramente se vê na televisão norte-americana.

Nada disso, no entanto, substitui Pipier. Ao longo de 13 episódios, são tantos personagens e tantas subtramas paralelas que Piper é jogada de escanteio, para desagrado do espectador. No arco dramático de toda a série ela segue presente, mas há episódios em que sua presença sequer tem função na trama, sem qualquer interação com as tramas de outros personagens. “Sou um lobo solitário”, diz a personagem ao se indispor com a nova presa, a irritante Brook Soso (Kimiko Glenn). A fala parece justificar a nulidade de Piper no dia a dia da prisão.

O caminho traçado pelos roteiristas parece indicar que Orange is The New Black deve continuar no ar mesmo após a saída de Piper da prisão. Ao fim da temporada, ela tem apenas oito meses de pena para cumprir – a trajetória da personagem da vida real, Piper Kerman, na prisão, também foi curta.

Ao que tudo indica, os criadores querem ter certeza de que engajaram o público de forma a fazer com que Orange sobreviva mesmo sem sua protagonista. Além de afrmar que E que as histórias das presas de Litchfield são tão importantes quanto as desventuras da garota de classe média alta que vai parar lá dentro quase que por acaso. Não deixa de ser verdade, é claro. Mas Piper tem uma função central na trama, que é fazer um ponto de contato com o público e oferecer uma visão externa sobre a vida na prisão. Função que, em uma terceira temporada, os criadores não deveriam subestimar.


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Segunda temporada de Orange is The New Black traz novidades, mas esquece protagonista