Mulheres negras se vestem como escravas em fazenda

Igor Alecsander/Reprodução Mulheres negras se vestem como escravas em fazenda

Você consegue imaginar uma atração turística na Polônia com pessoas em uniformes listrados revivendo os campos de concentração do nazismo, onde os turistas teriam a oportunidade de serem os próprios agentes nazistas, podendo maltratar os judeus apenas pelo bem do entretenimento, que, neste caso, seria chamado de “representação da história”?

Não, né?

O site The Intercept, do jornalista americano Glenn Greenwald, visitou a Fazenda Santa Eufrásia, em Vassouras, no Vale do Café, Rio de Janeiro,  única fazenda particular tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio de Janeiro (Iphan-RJ), construída por volta dos anos 1830.

Dona Elizabeth é a "sinhá" da fazenda

Igor Alecsander/Reprodução Dona Elizabeth é a “sinhá” da fazenda

O local tem um histórico particular de selvageria contra negros na época da escravidão, o que motivou, em 1829, o então fiscal da Vila de Valença, Eleutério Delfim da Silva, a relatar preocupação com os “castigos brutais” que os escravos daquela Vila recebiam, inclusive enviando uma representação à Câmara expondo tais brutalidades.

A fazenda teve como dono final o Coronel Horácio José de Lemos, e hoje é  comandada por seus descendentes. Ali, visitantes assistem com naturalidade representações “teatrais” onde negros vivem escravos e madames se transformam em sinhás, como é o caso de Elizabeth Dolson, uma das bisnetas do Coronel Lemos e proprietária da mansão. “Geralmente eu tenho uma mucama, mas ela fugiu. Ela foi pro mato. Já mandei o capitão do mato atrás dela, mas ela não voltou (…) Quando eu quero pegar um vestido, eu digo: ‘duas mucamas, por favor!’. Porque ninguém alcança lá em cima”, diz ela em uma das cenas (veja no vídeo abaixo).

As visitas ainda são guiadas por ela, vestida com roupas de época, acompanhada de mulheres negras com roupas de escravas. E não é só isso. Elas servem também como empregadas quem se disponha a pagar ao local entre R$ 45 e R$ 65 pelo serviço.

Na reportagem do The Intercept, Elizabeth é questionada sobre o racismo contido em suas representações. “Racismo? Por causa de quê? Por que eu me visto de sinhá e tenho mucamas que se vestem de mucamas? Que isso! Não! Não faço nada racista aqui. Qual é o problema de ter… não!”, diz ela.

Negras servem turistas como escravas em fazenda

Igor Alecsander/Reprodução Negras servem turistas como escravas em fazenda

O Brasil foi o país que mais importou escravos em todo o continente americano, quando vieram entre 4 e 5 milhões de africanos ao país de forma involuntária. Mesmo assim, a utilização da escravidão como atração turística não parece incomodar os visitantes. Em sites de turismo como o TripAdvisor, a Fazenda Santa Eufrásia tem nota 4,5 em um máximo de 5, com diversos comentários positivos. “Esta fazenda conta um pouco da historia da cidade de Vassouras sendo Eufrásia uma Personalidade fundamental na épocas dos Barõres”, diz um visitante. “Fazenda do ciclo do café, do tempo do império, com sua casa original. com móveis e louças da época. Árvores centenárias, a natureza preservada. D. Elizabeth nos recebe com gentileza, com trajes da época e nos conta a bela história da Fazenda e de sua família. Podemos escolher sermos recepcionados com café, piquenique ou sarau.”, diz outro turista.

11 mulheres negras que já foram vítimas de racismo

Na página do Jornal Nacional no Facebook, internautas ofenderam a raça da apresentadora e um deles se referiu à Maju como escrava:
Na página do Jornal Nacional no Facebook, internautas ofenderam a raça da apresentadora e um deles se referiu à Maju como escrava: "Onde compro essa escrava? Na época, o caso gerou revolta nas redes sociais e William Bonner e Renata Vasconcellos saíram em defesa da jornalista.
Créditos: Reprodução / Instagram

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Escravidão é tratada como atração turística em fazenda que diz não ser racista